São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Dívidas no cartão de crédito explodem

Total de dívidas no cartão cresce quase 20% em 2009 e atinge R$ 26 bi em dezembro, o dobro do verificado há 3 anos

Com taxas de juros mais altas, cartão está entre as modalidades de crédito que apresentam os maiores índices de inadimplência

EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há quase dez anos, a aposentada Nina Simões, decidiu quebrar o próprio cartão de crédito na tentativa de interromper um círculo vicioso de dívidas. Na época, ela programava suas despesas com base no limite de gastos dado pelo banco e, muitas vezes, só conseguia pagar o valor mínimo da fatura. Em pouco tempo, acumulou dívidas que se transformaram em uma bola de neve e a colocaram na lista de inadimplentes.
"Depois daquilo tudo, eu quebrei o cartão. Não queria mais saber disso. Só voltei a usar quando aprendi a trabalhar com esse instrumento. Hoje, até me ajuda a controlar as contas", diz a aposentada, que conta casos semelhantes entre amigos e parentes.
Segundo dados do Banco Central, o total de dívidas no cartão de crédito cresceu quase 20% em 2009 e chegou ao valor inédito de R$ 26,3 bilhões em dezembro do ano passado. É o dobro do visto há três anos, quando essas operações já tinham crescimento acelerado.
No final do ano passado, mais de 25% do crédito novo ao consumidor tinha origem no cartão. Desde 2008, essas operações já superam os empréstimos com crédito pessoal, incluindo financiamentos com desconto em folha de pagamento. Só o cheque especial movimenta mais recursos.
Parte desse dinheiro se refere às compras a prazo com parcelas fixas, que normalmente embutem taxa de juros menor que a do rotativo. Outra parte, no entanto, diz respeito a saques feitos no cartão e ao pagamento atrasado das faturas, sobre os quais incide uma das taxa mais caras do mercado.
Segundo a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), os juros do cartão estão hoje em 10,7% ao mês, acima até da taxa média no cheque especial (7,5% ao mês).
"Com essa taxa, a cada seis meses, a dívida no rotativo do cartão de crédito dobra. Por isso, se o consumidor perceber que não vai conseguir pagar a fatura no dia certo, tem de buscar uma alternativa mais barata", diz o economista Miguel de Oliveira, da Anefac.
Uma opção, segundo Oliveira, é pegar um empréstimo pessoal ou um crédito consignado. "Até mesmo o cheque especial tem taxas menores, embora o ideal seja pegar um empréstimo com taxas menores."
A dificuldade das pessoas de administrar esse tipo de instrumento pode ser vista também nos dados de inadimplência. O cartão está entre as modalidades de crédito que apresentam as maiores taxas nesse indicador. Segundo o BC, em dezembro do ano passado, 27% das operações estavam com atraso superior a 90 dias -prazo mínimo para caracterizar inadimplência.
A média de atraso nas outras linhas para pessoa física está hoje em 8%. Nem mesmo o fato de os consumidores usarem, em média, menos de um terço do seu limite ajuda a reduzir esse índice, que se mantém nesses níveis há mais de três anos.
A oferta abundante de crédito por meio de cartões deve fazer com que essa modalidade continue se expandindo nos próximos anos. Hoje, o cartão responde por 8% das operações de crédito para pessoa física no sistema bancário. Há três anos, essa participação ficava abaixo de 5%.
De acordo com estimativas da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Crédito e Serviços), o número de cartões de crédito deve ultrapassar a marca de 150 milhões em 2010, um crescimento de 13%. Já o faturamento do setor deve avançar 21%.


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