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Dívidas no cartão de crédito explodem
Total de dívidas no cartão cresce quase 20% em 2009 e atinge R$ 26 bi em dezembro, o dobro do verificado há 3 anos
Com taxas de juros mais altas, cartão está entre as modalidades de crédito que apresentam os maiores índices de inadimplência
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Há quase dez anos, a aposentada Nina Simões, decidiu quebrar o próprio cartão de crédito
na tentativa de interromper
um círculo vicioso de dívidas.
Na época, ela programava suas
despesas com base no limite de
gastos dado pelo banco e, muitas vezes, só conseguia pagar o
valor mínimo da fatura. Em
pouco tempo, acumulou dívidas que se transformaram em
uma bola de neve e a colocaram
na lista de inadimplentes.
"Depois daquilo tudo, eu
quebrei o cartão. Não queria
mais saber disso. Só voltei a
usar quando aprendi a trabalhar com esse instrumento.
Hoje, até me ajuda a controlar
as contas", diz a aposentada,
que conta casos semelhantes
entre amigos e parentes.
Segundo dados do Banco
Central, o total de dívidas no
cartão de crédito cresceu quase
20% em 2009 e chegou ao valor
inédito de R$ 26,3 bilhões em
dezembro do ano passado. É o
dobro do visto há três anos,
quando essas operações já tinham crescimento acelerado.
No final do ano passado, mais
de 25% do crédito novo ao consumidor tinha origem no cartão. Desde 2008, essas operações já superam os empréstimos com crédito pessoal, incluindo financiamentos com
desconto em folha de pagamento. Só o cheque especial
movimenta mais recursos.
Parte desse dinheiro se refere às compras a prazo com parcelas fixas, que normalmente
embutem taxa de juros menor
que a do rotativo. Outra parte,
no entanto, diz respeito a saques feitos no cartão e ao pagamento atrasado das faturas, sobre os quais incide uma das taxa mais caras do mercado.
Segundo a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de
Finanças), os juros do cartão
estão hoje em 10,7% ao mês,
acima até da taxa média no cheque especial (7,5% ao mês).
"Com essa taxa, a cada seis
meses, a dívida no rotativo do
cartão de crédito dobra. Por isso, se o consumidor perceber
que não vai conseguir pagar a
fatura no dia certo, tem de buscar uma alternativa mais barata", diz o economista Miguel de
Oliveira, da Anefac.
Uma opção, segundo Oliveira, é pegar um empréstimo pessoal ou um crédito consignado.
"Até mesmo o cheque especial
tem taxas menores, embora o
ideal seja pegar um empréstimo com taxas menores."
A dificuldade das pessoas de
administrar esse tipo de instrumento pode ser vista também
nos dados de inadimplência. O
cartão está entre as modalidades de crédito que apresentam
as maiores taxas nesse indicador. Segundo o BC, em dezembro do ano passado, 27% das
operações estavam com atraso
superior a 90 dias -prazo mínimo para caracterizar inadimplência.
A média de atraso nas outras
linhas para pessoa física está
hoje em 8%. Nem mesmo o fato
de os consumidores usarem,
em média, menos de um terço
do seu limite ajuda a reduzir esse índice, que se mantém nesses níveis há mais de três anos.
A oferta abundante de crédito por meio de cartões deve fazer com que essa modalidade
continue se expandindo nos
próximos anos. Hoje, o cartão
responde por 8% das operações
de crédito para pessoa física no
sistema bancário. Há três anos,
essa participação ficava abaixo
de 5%.
De acordo com estimativas
da Abecs (Associação Brasileira
das Empresas de Crédito e Serviços), o número de cartões de
crédito deve ultrapassar a marca de 150 milhões em 2010, um
crescimento de 13%. Já o faturamento do setor deve avançar
21%.
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