São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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Medida visa conter fuga de dólares

da Reportagem Local

Dá-se o nome de centralização do câmbio a um conjunto de medidas destinadas a conter a saída de recursos de um país.
O objetivo é reduzir a perda de reservas internacionais, o caixa em moeda forte, em meio a ataques especulativos, e conter as oscilações bruscas nas cotações da moeda.
Centralizando o câmbio, o governo tenta atuar diretamente sobre a conta de capital do balanço de pagamentos, que mede todas as transações do país com o exterior. Tenta impedir a fuga de dólares, mas também afugenta o investimento estrangeiro, direto e indireto, que entraria no país.
Como o investidor externo não virá mesmo ao país, é possível cortar os juros internos, reduzindo a dívida interna pública e estimulando o crescimento econômico.
Há o risco de não se conseguir conter a fuga de capitais e de tornar o país repulsivo ao capital externo por um longo período.
Recentemente, a centralização cambial foi defendida, como solução de emergência para a Ásia, pelo badalado economista Paul Krugman, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Foi adotada pela Malásia, em 1º de setembro do ano passado.
Os estragos causados pelo "livre fluxo de capitais" em inúmeros países trazem até os dirigentes do Fundo Monetário Internacional ao debate. O FMI tem cláusulas de defesa da movimentação sem restrições do dinheiro. Mas, em meio à crise da Ásia, o seu diretor-gerente, Michael Camdessus, chegou a falar: "Estamos dispostos a contemplar medidas de controle de câmbio e sobre a liberação (de capitais), mas devem se adaptar a cada país e a cada situação".
Embora a Malásia seja o exemplo mais recente, outros países já adotaram a restrição à saída de capitais. O Brasil viveu sob centralização cambial em 83 e 89.
Na América Latina, na última década, Venezuela e Cuba experimentaram o controle de câmbio. Durante a crise da dívida externa, em 1982, a Argentina proibiu todas as despesas cambiais que não se referissem à importação e ao pagamento de juros e amortizações. Remessas de lucros e repatriação de capital tiveram de ser feitos por meio de títulos públicos denominados em moeda estrangeira, os chamados Bonex.
No caso do México, no mesmo período, os controles foram mais abrangentes e restritivos, e as reservas internacionais do país começaram a se recuperar só depois que a centralização cambial foi abrandada.
No segundo semestre de 1992, Portugal, Espanha e Irlanda sofreram ataques especulativos. Fixaram tetos para remessas e prazos mais longos para depósitos em moeda estrangeira. O banco central desses países tinha de autorizar todas as transações.



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