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OPINIÃO ECONÔMICA
Soluções
JOÃO SAYAD
Não existe unanimidade
maior do que contra os erros do
passado. Difíceis são os erros que
ainda não cometemos.
O problema do Brasil é, em
poucas palavras, a falta de dólares. Esquecendo por um segundo
a obsessão ideológica já atendida de tributar aposentados e despedir funcionários públicos, como resolver o problema brasileiro de oferta de dólares?
O país precisa retornar ao mercado financeiro internacional,
isto é, obter empréstimos para financiar importações e exportações, poder vender títulos e
bonds no comércio internacional.
Para isso, várias condições são
necessárias.
Primeiro, quem tem dólares, só
troca os dólares por reais se tiver
a liberdade de voltar para dólares algum dia. Para isso, é preciso que o país produza ou tenha a
perspectiva de produzir mais dólares do que gasta. A desvalorização cambial ocorrida é parte
da solução, pois torna exportações mais lucrativas e importações, mais caras.
Depois, é preciso poder honrar,
isto é, pagar os compromissos em
dólares quando vencem, na data
certa. No momento, isso pode ser
difícil, pois muito poucos estão
dispostos a vender dólares para
os que querem comprar dólares.
O ministro Celso Furtado considera a hipótese de moratória
externa.
Discordo absolutamente.
O que ganhamos com a moratória?
Temos um ganho de capital,
igual ao desconto da dívida, forçado pela moratória. É um ganho microeconômico, da empresa e não do país.
Com esse desconto, o país economiza reais e dólares. Para o
país como um todo, não faz sentido economizar reais. Reais para o Brasil são pedaços de papel
que não custam nada.
A moratória pode também economizar dólares no curto prazo
-o desconto na dívida- , mas
perde muitos dólares no prazo
maior.
Além disso, a moratória restabelece um câmbio sobrevalorizado e requer controle do câmbio.
Se, ao invés da moratória, o governo desvalorizar o câmbio até
que os investidores acreditem
que o preço está certo, temos os
seguintes efeitos:
1) as exportações serão incentivadas, as importações desincentivadas. É a mais importante
mudança de rumo que precisa
ocorrer.
2) pode ser que os fluxos internacionais se restabeleçam normalmente.
3) as empresas brasileiras endividadas perdem muito patrimônio pelo valor da dívida mais alta, mas podem ser atendidas com
empréstimos no mercado brasileiro de reais.
Até agora, o câmbio se desvalorizou 30% ou 35%, taxa igual as
maxi dos tempos passados quando tínhamos tarifas de importação e pouco movimento de capitais. Qual a desvalorização necessária hoje em dia, quando temos mobilidade de capitais, especulação e a abertura da economia?
Os bancos estrangeiros tem
muitos economistas. São muitos
bancos estrangeiros e muitos
economistas. Estudam o Brasil
de longe, por meio das estatísticas do Bloomberg, da CNN, da
Economist e dos jornais brasileiros, que se baseiam nas opiniões
dos economistas dos bancos estrangeiros, da Economist e da
CNN.
Têm falado em moratória interna.
Para que serve uma moratória
interna? Iríamos ficar sem reais
para comprar dólares para pagar as dívidas no exterior ou para comprar produtos no Brasil.
Como isso resolve o problema da
oferta de dólares?
Antes da desvalorização, tínhamos US$ 300 bilhões de dívidas em reais e US$ 40 bilhões de
reservas. Com a desvalorização
cambial de 30%, hoje temos uma
dívida de US$ 228 bilhões e reservas de US$ 40 bilhões. A relação
dívida/reservas melhorou. O déficit público em dólares diminuiu.
São Cristóvão nos proteja das
barbeiragens dos economistas
dos bancos estrangeiros!
Não existem soluções fáceis para a crise cambial brasileira. Não
basta que a solução seja cruel.
João Sayad, 51, economista e ex-ministro do
Planejamento (governo Sarney), escreve às segundas-feiras nesta coluna.
jsayad@ibm.net
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