São Paulo, segunda, 25 de janeiro de 1999

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ÁSIA
Juros caíram e exportações cresceram após implementação de controle; para analistas, resultado é o mesmo em outros países afetados pela crise

Malásia se recupera com restrição de capitais

MARCIO AITH
de Tóquio

Quase cinco meses depois de a Malásia isolar-se do mercado financeiro mundial ao implementar controles rígidos sobre o fluxo de capitais, sinais de recuperação de sua economia surpreendem e viram polêmica.
Desde setembro, quando os controles foram anunciados, as taxas de juro caíram de 11% para 5,9%, as exportações cresceram 2% em dólar e as reservas pularam de US$ 20 bilhões para US$ 23 bilhões.
Para o primeiro-ministro Mahathir Mohamad, esses resultados seriam a prova empírica de que, ao contrário do que apregoam os defensores do livre trânsito de capital, fechar as fronteiras financeiras é um bom negócio para países em desenvolvimento retomarem o crescimento após crises cambiais.
Há um grupo cada vez mais numeroso de economistas e investidores asiáticos que tendem a concordar com Mahathir.
Eles elogiam, principalmente, a rapidez com a qual os juros caíram na Malásia após a instauração dos controles. Lembram ainda que as previsões dos pessimistas, segundo as quais os controles criariam um enorme mercado paralelo de dólar, não se realizaram. Ao contrário, as receitas com exportações têm dado uma folga ao governo.
No entanto, a maioria dos especialistas sustenta que as outras economias afetadas pela crise também melhoraram no período, mesmo sem controles cambiais.
Coréia do Sul e Tailândia conseguiram reduzir os juros antes da Malásia (embora num ritmo mais lento) e voltaram a receber investimentos externos, em valores mensais de US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão. A Malásia brecou a fuga de recursos externos, mas não atraiu novos investimentos.
Ou seja: segundo eles, a Malásia não melhorou porque fechou as portas por onde os capitais fugiam, mas sim porque as exportações asiáticas começaram a crescer de um modo geral e a conjuntura internacional favoreceu os países asiáticos nos últimos seis meses, apesar das crises russa e brasileira.
Essa conjuntura favorável foi estimulada, entre outros fatores, pelas sucessivas reduções dos juros norte-americanos.
Os controles implementados por Mahathir consistiram, basicamente, na centralização da compra de dólar nas mãos do banco central e na criação de um câmbio fixo. Além disso, a Malásia obrigou os investidores em Bolsa a manter suas ações por um ano.
Tim Condon, analista do Morgan Stanley em Hong Kong, disse à Folha que ainda é cedo para que se faça um balanço dos controles cambiais da Malásia. No entanto, afirmou ser evidente que os controles permitiram a redução dos juros sem que o ringgit (a moeda da Malásia) se desvalorizasse.
Condon disse que, ao contrário da Tailândia e da Coréia do Sul, a Malásia não avançou nas reformas de seu sistema financeiro e que, portanto, não conseguiria atrair a confiança dos investidores.
"Quando o país não consegue convencer o investidor de que o ambiente é favorável, a tentação de implementar controles é grande. É um caminho mais curto em direção aos juros baixos, embora os riscos sejam enormes."



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