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INDEPENDÊNCIA EM XEQUE
Decreto cria órgão para "orientar, acompanhar e fiscalizar" atividades da agência reguladora
Secretaria do ministério vai fiscalizar Anatel
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo aproveitou um decreto de reestruturação dos ministérios e decidiu que o Ministério das Comunicações deverá fiscalizar a atuação da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). A determinação acontece
em meio à discussões do governo
sobre limitação do poder das
agências.
A legislação do setor -lei
9.472/97, ou Lei Geral de Telecomunicações- estabelece que a
agência tem "independência administrativa" e "ausência de subordinação hierárquica".
De acordo com o decreto 4.635,
publicado ontem no "Diário Oficial" da União, foi criada a Secretaria de Telecomunicações no Ministério das Comunicações. A essa secretaria compete "orientar,
acompanhar e fiscalizar" as atividades da agência. Procurada pela
Folha, a assessoria da Anatel não
quis comentar o decreto.
A assessoria de imprensa do Ministério das Comunicações informou que a atribuição do poder de
fiscalização ao governo sobre as
ações da agência foi feita com base no artigo 87 da Constituição
Federal.
O artigo, no entanto, estabelece
que ministros de Estado terão
atribuição de "exercer orientação,
coordenação e supervisão de órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência". Não há menção a atividades de fiscalização sobre agências.
A assessoria de imprensa do Ministério das Comunicações informou que a possibilidade de fiscalizar a Anatel estaria contida em
uma "interpretação" do artigo 87
da Constituição.
A assessoria de imprensa do ministério disse ainda que não há intenção do governo de subordinar
a Anatel ao ministério, retirando
dela a condição de autarquia especial.
As discussões no governo sobre
a limitação do poder das agências
reguladoras começou há um mês,
quando o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em reunião com líderes políticos, disse que o Brasil
estava sendo "terceirizado".
Na ocasião, o presidente disse
que "as agências mandam no
país" e que "as decisões que afetam o dia-a-dia da população não
passam pelo governo".
Desde então, o ministro Miro
Teixeira (Comunicações) deu declarações de que pretende assumir atribuições que são da agência, como a elaboração dos novos
contratos das operadoras de telefonia fixa. Há dez dias, no Rio de
Janeiro, Miro declarou que "o
funcionamento da agência não é
bom. Não é nada bom".
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