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Divulgação de parecer do Tesouro irrita Lula
Presidente atribui vazamento de nota a setores do governo contrários à Telebrás
Documento do Tesouro desaconselha uso da estatal como gestora do plano nacional de banda larga preparado pelo Planalto
VALDO CRUZ
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Lula ficou irritado com a divulgação da existência de parecer do Tesouro
Nacional contra o uso da Telebrás como gestora do PNBL
(Plano Nacional de Banda Larga). Segundo a Folha apurou,
Lula atribuiu o vazamento da
informação a setores do governo que são contra a ideia.
A reativação da Telebrás para operar o PNBL deve ser definida em reunião com o presidente, agendada para o dia 5 de
abril, quando a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, já terá
deixado o governo para ser
candidata à Presidência.
Lula apoia a ideia de usar a
Telebrás como gestora do plano de banda larga, defendida
por técnicos da Casa Civil e do
Planejamento. Ele, porém, ainda não bateu o martelo. Sua
principal preocupação é quanto ao custo do projeto se for tocado pelo governo.
A incerteza em relação aos
custos do programa é o problema que mais dificulta a discussão do assunto dentro do governo. Quem é contra a Telebrás usa números maiores, e
quem é a favor, menores. Um
dos números, de quem é a favor
da estatal, é que, em uma primeira etapa, seria necessário
R$ 1,3 bilhão para chegar a cerca de 3.700 dos 5.561 municípios brasileiros. Já as teles dizem que o custo ultrapassaria
R$ 4 bilhões para atender os
municípios que, segundo elas,
já serão atendidos pelo sistema
privado até o fim de 2010.
De qualquer forma, a Telebrás, sem aportes pesados do
governo, não teria condições de
tocar o plano. A empresa teve
prejuízo de R$ 20,6 milhões
em 2009 e tem passivo a descoberto (o total de ativos não paga as dívidas) de R$ 16,2 milhões. No total do prejuízo acumulado, a futura superestatal
da banda larga tem perdas de
R$ 435 milhões. Além disso, é
ré em 1.189 ações e o passivo total (soma dos riscos remotos,
possíveis e prováveis) era de R$
284 milhões (R$ 246 milhões
são prováveis).
A polêmica sobre o uso da estatal cresceu depois que a Folha revelou, em fevereiro, que o
empresário Nelson dos Santos,
dono de parte da Eletronet e
cliente da consultoria do ex-ministro José Dirceu entre
2007 e 2009, poderia lucrar
com a operação. O governo decidiu retomar na Justiça as redes de fibra ótica da Eletronet
para usá-las no PNBL.
A ideia de quem defende a
Telebrás é empurrar esse passivo da empresa para o Tesouro.
A partir daí, a estatal montaria
um esquema de subsídio cruzado para sobreviver. Cobraria
mais caro pelo acesso às fibras
óticas que estariam sob sua gerência nos grandes centros e
mais barato nas áreas remotas.
A proposta tem como principal opositor no governo o Ministério das Comunicações,
que prefere entregar o programa para ser operado pelo setor
privado. Na proposta de técnicos da Casa Civil e do Planejamento, a gestão e a administração da grande rede pública de
fibras óticas ficariam com uma
estatal. No caso, a Telebrás.
Além das Comunicações, comandada pelo peemedebista
Hélio Costa (MG), a ideia conta
com resistência da equipe do
ministro Guido Mantega (Fazenda) e de Dilma Rousseff.
A diferença é que Mantega e
Dilma, apesar de não terem
simpatia pelo uso da Telebrás,
são favoráveis à utilização de
uma outra estatal para administrar a rede pública, num modelo em que seriam feitas concessões para o setor privado explorar os cabos.
O parecer do Tesouro contra
a reativação da Telebrás foi feito em janeiro e circulou recentemente dentro do governo. A
Casa Civil não sabia da sua existência até ele ser detalhado ontem pela Folha. O documento
aponta que a estatal tem um
elevado passivo trabalhista,
que pode contaminar a saúde
financeira da nova Telebrás.
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