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FINANCIAMENTO
Juros menores estimulam empresas a recorrer ao instrumento para reduzir dívidas e gerar capital de giro
Mercado de debêntures bate recorde duplo
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado de debêntures registra recorde duplo neste ano: o estoque total desses títulos de dívida
emitidos pelas empresas atingiu
R$ 51,749 bilhões na última sexta-feira - um patamar histórico. E
as novas emissões autorizadas pela CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) já somam R$ 14,535
bilhões, outro recorde.
Em menos de quatro meses as
novas emissões superaram o volume total do ano passado que foi
de R$ 9,6 bilhões. "Aumentou
muito a demanda por debêntures
neste ano, pois os investidores estão buscando alongar os prazos
de suas carteiras", diz Alfredo
Moraes, presidente da Andima
(Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro).
Ao todo foram autorizadas 12
operações neste ano -parte dos
papéis já foi emitida e parte está
em andamento. As empresas têm
até dois anos para fazer a colocação das debêntures depois de obterem registro da operação na
CVM. Há mais 11 pedidos de
emissão em análise na CVM.
Debêntures são títulos de renda
fixa emitidos por empresas de capital aberto (com ações em Bolsa)
que pagam uma taxa de juros ao
investidor. Mais da metade das
debêntures em poder do mercado
é indexada ao CDI (Certificado de
Depósito Interbancário), que reflete os juros médios praticados
entre os bancos.
Para os investidores, os papéis
corporativos são atraentes porque oferecem um retorno superior ao dos títulos públicos. Neste
ano, a taxa de juro mais alta foi a
da emissão da CCR (Companhia
de Concessões Rodoviárias) que
saiu por 105% do CDI. Esses títulos têm prazos de resgate que podem chegar a 16 anos, mas a
maioria das emissões tem saído
com prazos entre três e quatro
anos. Quem compra esses papéis
são os fundos de pensão, bancos e
investidores institucionais.
Alguns fundos de investimento
abertos ao pequeno e médio investidor também compram debêntures para compor suas carteiras. O objetivo é melhorar a rentabilidade do fundo e alongar o prazo médio da carteira, para atender
à nova regra de tributação.
Desde janeiro, os fundos de renda fixa são classificados em longo
prazo e curto prazo para fins de
tributação. A maioria dos gestores optou por ter fundos de longo
prazo e ajustou suas carteiras este
ano. As debêntures são um dos
papéis usados para esse fim.
Empresas
Para as empresas que emitem
debêntures essa é uma forma
mais barata de captar recursos.
"Antes o grande competidor do
mercado de debêntures era o
mercado externo. As empresas
buscavam recursos lá fora, mas
agora está mais barato captar
aqui", observa Moraes.
Desde o ano passado as taxas
caíram principalmente para as
empresas com risco de crédito
baixo (risco de não honrar o papel). Em 2004, segundo dados da
Andima, as taxas chegaram a bater em 122% do CDI. Este ano, as
operações foram fechadas com
taxas entre 102,6% do CDI -caso
da Votorantim Finanças que emitiu R$ 1,25 bilhão este mês- e
105% do CDI, caso da CCR.
Também mudou o perfil da destinação dos recursos. No ano passado, segundo dados da Andima,
75,98% dos R$ 9,6 bilhões captados foram usados pelas empresas
para alongar o perfil das dívidas.
Apenas 10,49% foram para capital
de giro e 4% para investimentos.
Este ano, o rumo do dinheiro foi
a produção: dos R$ 14,5 bilhões
que estão sendo captados 85,44%
serão usados para capital de giro e
apenas 5,85% para alongamento
de dívida. A parcela que irá para
investimentos é irrisória: 0,62%.
Segundo analistas, as empresas
ajustaram o perfil de suas dívidas
e partiram agora para buscar recursos mais baratos do que o crédito bancário para capital de giro.
O próximo passo deve ser captar
para investir. "À medida que a estabilidade da economia avança,
ampliam-se os horizontes das
empresas, ninguém mais tem dúvidas sobre o que vai ocorrer neste ano e no próximo. Com isso, a
tendência é crescer o mercado de
debêntures", diz Moraes.
Segundo ele, à medida que o governo reduzir sua participação na
captação da poupança nacional,
sobrará mais espaço para outros
setores captarem recursos. "A redução da dívida pública em relação ao PIB [Produto Interno Bruto] tem aberto espaço para as
emissões privadas", argumenta o
presidente da Andima.
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