São Paulo, segunda-feira, 25 de abril de 2005

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FINANCIAMENTO

Juros menores estimulam empresas a recorrer ao instrumento para reduzir dívidas e gerar capital de giro

Mercado de debêntures bate recorde duplo

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de debêntures registra recorde duplo neste ano: o estoque total desses títulos de dívida emitidos pelas empresas atingiu R$ 51,749 bilhões na última sexta-feira - um patamar histórico. E as novas emissões autorizadas pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) já somam R$ 14,535 bilhões, outro recorde.
Em menos de quatro meses as novas emissões superaram o volume total do ano passado que foi de R$ 9,6 bilhões. "Aumentou muito a demanda por debêntures neste ano, pois os investidores estão buscando alongar os prazos de suas carteiras", diz Alfredo Moraes, presidente da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro).
Ao todo foram autorizadas 12 operações neste ano -parte dos papéis já foi emitida e parte está em andamento. As empresas têm até dois anos para fazer a colocação das debêntures depois de obterem registro da operação na CVM. Há mais 11 pedidos de emissão em análise na CVM.
Debêntures são títulos de renda fixa emitidos por empresas de capital aberto (com ações em Bolsa) que pagam uma taxa de juros ao investidor. Mais da metade das debêntures em poder do mercado é indexada ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que reflete os juros médios praticados entre os bancos.
Para os investidores, os papéis corporativos são atraentes porque oferecem um retorno superior ao dos títulos públicos. Neste ano, a taxa de juro mais alta foi a da emissão da CCR (Companhia de Concessões Rodoviárias) que saiu por 105% do CDI. Esses títulos têm prazos de resgate que podem chegar a 16 anos, mas a maioria das emissões tem saído com prazos entre três e quatro anos. Quem compra esses papéis são os fundos de pensão, bancos e investidores institucionais.
Alguns fundos de investimento abertos ao pequeno e médio investidor também compram debêntures para compor suas carteiras. O objetivo é melhorar a rentabilidade do fundo e alongar o prazo médio da carteira, para atender à nova regra de tributação.
Desde janeiro, os fundos de renda fixa são classificados em longo prazo e curto prazo para fins de tributação. A maioria dos gestores optou por ter fundos de longo prazo e ajustou suas carteiras este ano. As debêntures são um dos papéis usados para esse fim.

Empresas
Para as empresas que emitem debêntures essa é uma forma mais barata de captar recursos. "Antes o grande competidor do mercado de debêntures era o mercado externo. As empresas buscavam recursos lá fora, mas agora está mais barato captar aqui", observa Moraes.
Desde o ano passado as taxas caíram principalmente para as empresas com risco de crédito baixo (risco de não honrar o papel). Em 2004, segundo dados da Andima, as taxas chegaram a bater em 122% do CDI. Este ano, as operações foram fechadas com taxas entre 102,6% do CDI -caso da Votorantim Finanças que emitiu R$ 1,25 bilhão este mês- e 105% do CDI, caso da CCR.
Também mudou o perfil da destinação dos recursos. No ano passado, segundo dados da Andima, 75,98% dos R$ 9,6 bilhões captados foram usados pelas empresas para alongar o perfil das dívidas. Apenas 10,49% foram para capital de giro e 4% para investimentos.
Este ano, o rumo do dinheiro foi a produção: dos R$ 14,5 bilhões que estão sendo captados 85,44% serão usados para capital de giro e apenas 5,85% para alongamento de dívida. A parcela que irá para investimentos é irrisória: 0,62%.
Segundo analistas, as empresas ajustaram o perfil de suas dívidas e partiram agora para buscar recursos mais baratos do que o crédito bancário para capital de giro. O próximo passo deve ser captar para investir. "À medida que a estabilidade da economia avança, ampliam-se os horizontes das empresas, ninguém mais tem dúvidas sobre o que vai ocorrer neste ano e no próximo. Com isso, a tendência é crescer o mercado de debêntures", diz Moraes.
Segundo ele, à medida que o governo reduzir sua participação na captação da poupança nacional, sobrará mais espaço para outros setores captarem recursos. "A redução da dívida pública em relação ao PIB [Produto Interno Bruto] tem aberto espaço para as emissões privadas", argumenta o presidente da Andima.


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