São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Petroleira BP investe no álcool brasileiro

British Petroleum será a primeira companhia de petróleo no mundo a produzir álcool combustível no Brasil, em Goiás

Empresa adquire 50% da Tropical BioEnergia, com investimento de R$ 1,6 bi; analistas vêem projeto de longo prazo e diversificação

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A divisão de biocombustíveis da British Petroleum (BP), uma das maiores petroleiras do mundo, fechou ontem a aquisição de 50% da usina Tropical BioEnergia S.A., até agora uma joint venture entre a Santaelisa Vale (tradicional produtora de açúcar e álcool) e o grupo Maeda (grande produtor agrícola). A unidade em construção está instalada em Edéia, sul de Goiás, e começa a produzir em julho. O acordo prevê investimentos de R$ 1,66 bilhão.
É a primeira participação de grande petroleira na produção direta de álcool no Brasil, o que inaugura, segundo analistas, novo ciclo de investimento estrangeiro no setor num momento em que os biocombustíveis são atacados por organizações como ONU e FMI.
A indústria canavieira tem atraído fundos e bancos de investimento, como Carlyle e Goldman Sachs, seguido de grandes comercializadoras de commodities, como Louis Dreyfus (francesa) e Mitsui (japonesa), além de investidores como George Soros.
Com o acordo, a BP toma a frente da Petrobras, que também será produtora de álcool. A estatal assinou acordo com a Mitsui, e as duas terão entre 30% e 40% de até dez usinas de álcool, por enquanto, orientadas para exportação. Segundo a Petrobras, os estudos avaliam a instalação de unidades com capacidade de produção de 200 milhões de litros por ano. A primeira unidade, em Itarumã (GO), inicia produção em 2009.
A Petrobras tem meta de exportar 4,5 bilhões de litros de álcool combustível em 2012. Também quer construir um alcoolduto de 1.056 quilômetros do Centro-Oeste ao litoral, investimento de US$ 1 bilhão.
Analistas consideram a entrada das petroleiras nos biocombustíveis um plano de longo prazo. "Embora o investimento da BP ou da Petrobras seja marginal em relação ao tamanho das empresas, o fato é que as companhias estão se aproximando de um setor que promete ganhar muita relevância nos próximos anos", disse Nelson de Matos, analista do BB Investimentos para o setor do petróleo.
Mesmo ainda pequeno em relação ao mercado de combustíveis, o álcool é o produto potencialmente com maior capacidade de tomar uma parte do mercado da gasolina. E é o que está ocorrendo com vigor no Brasil e nos EUA. Aqui, metade do combustível líquido já é álcool.
Vladimir Pinto, analista do Unibanco, explica que o movimento da BP e da Petrobras reflete mudança mundial do setor. "As petroleiras não se percebem mais como companhias de petróleo, mas como empresas de energia", diz Pinto.
O interesse da BP pela pequena Tropical decorre disso. Para Philip New, presidente da BP Biofuels, o Brasil construiu uma "indústria sofisticada" que produz combustível renovável e que não concorre com a produção de alimentos. A Tropical inicia a produção com 2,5 milhões de toneladas de cana processada, mas projeta chegar a 4,8 milhões em 2010.


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