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Produzam os biocombustíveis corretos
ROGER COHEN
DO "NEW YORK TIMES"
As modas chegam rápido e
com toda força em nossa era
da comunicação viral, e as
reações a elas podem ser
igualmente ferozes. É o que
estamos vendo agora com os
biocombustíveis, que todo
mundo amava até que todo
mundo decidisse que são o
pior desde a Peste Negra.
Se no passado recente o
combustível destilado de
plantas vinha sendo saudado
como resposta a toda espécie
de problemas, do aquecimento global à redistribuição geoestratégica de poder
em favor de estados petroleiros repressivos, ele agora se
tornou "trapaça" e "parte do
problema", de acordo com a
revista "Time".
Os supostos crimes dos
biocombustíveis são muitos.
Disparada nas commodities,
destruição da floresta amazônica, aumento em lugar da
redução no efeito-estufa, tumultos relacionados à falta
de comida e, sem dúvida, a
dor de dente de sua sogra.
A maior parte dessas alegações é bobagem.
Eu admito que a mania dos
biocombustíveis gerou excessos e que algumas das
conversões de vegetais de
uso alimentício em fonte de
combustível, especialmente
nos EUA e na Europa, que
operam com forte subsídio,
não fazem sentido. Mas os
biocombustíveis continuam
a ser parte da solução. A
questão é determinar quais
biocombustíveis.
Antes, é preciso demolir
alguns mitos. Se os preços do
arroz asiático disparam,
acompanhados pelo trigo e
milho, isso não se deve ao fato de Jon Doe, em Iowa, ou
Jean Dupont, na Picardia, terem decidido transformar
seu saboroso milho e beterrabas em álcool.
Há tendências muito
maiores em ação. Na Ásia,
centenas de milhões de pessoas ascenderam da pobreza
e passaram a comer duas vezes por dia, não apenas uma,
e a urbanização avançou.
Ao mesmo tempo, a ascensão do preço das commodities em 2007 acompanhou,
em larga medida, a paridade
declinante do dólar. Os preços do arroz dispararam em
termos de dólares, mas subiram bem menos em euros.
Países como China estão trocando reservas depreciadas
de dólares em estoques valiosos de commodities.
A alta nos alimentos também está vinculada ao petróleo, insumo importante de
fertilizantes a tratores.
Outro mito que precisa ser
destroçado é o de que a floresta amazônica está sendo
destruída para plantar cana
com a qual o Brasil produz
álcool. Quase todas as áreas
viáveis para o cultivo de cana
ficam a centenas de quilômetros da floresta. O Brasil dispõe de pradarias suficientes
para multiplicar por dez o
plantio de cana sem ter de
chegar nem perto do ecossistema da Amazônia.
O perigo em toda essa histeria dos biocombustíveis é
que terminemos por abrir
mão do que é bom para nos
livrarmos do que é ruim.
As centenas de milhões de
chineses e indianos que agora comem mais estarão comprando carros em 25 anos. O
que isso representará em
termos de preços de petróleo
está aberto a interpretações,
mas está claro que o álcool
representa a única alternativa técnica e economicamente viável para a substituição
dos combustíveis fósseis no
transporte nos próximos 15
ou 20 anos. Não é uma panacéia, mas é uma ponte necessária para o próximo grande
avanço da tecnologia.
A questão a decidir é: que
álcool? No momento, o mercado de biocombustíveis
vem sendo grotescamente
distorcido por subsídios e
barreiras comerciais nos
EUA e na União Européia.
Isso torna compensador produzir álcool de milho e grãos
que são bem menos produtivos que a cana, desviam terra
dedicada à produção de alimentos e têm credenciais
ambientais dúbias.
Por que temos um superávit de álcool brasileiro de cana, menos nocivo ao ambiente, se os EUA impedem que
ele chegue ao seu mercado
por meio de uma tarifa de
US$ 0,14 por litro, enquanto
o álcool de milho do Iowa
tem subsídios?
A verdadeira trapaça está
no protecionismo e nos subsídios distorcidos dos países
desenvolvidos, não nos biocombustíveis como idéia.
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