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LUÍS NASSIF
Do velho não
se faz o novo
O seminário ocorrido no
Instituto Fernando Henrique Cardoso no sábado à tarde
colocou, em duas sessões consecutivas, a impotência quando
se vê o mundo com olhos antigos, ainda que lúcidos, e as possibilidades quando se vê o mundo com olhos contemporâneos.
A primeira mesa teve expositores excepcionais, como Rubens Ricupero e o ex-primeiro-ministro francês Lionel Jospin.
A visão tradicional que trouxeram é que uma nova ordem internacional só se impõe em períodos de guerra clássica, na
qual há um vencedor e um derrotado que é destruído. O vencedor fica responsável pela reconstrução do vencido.
No quadro atual, como a ex-URSS se desmanchou sem ter sido destruída ou derrotada,
criou-se um vácuo, uma falta
do grande evento que justificasse a construção de uma nova
ordem.
Se nada disso ocorreu, a questão é esperar que a Guerra do
Iraque desmoralize de vez o
unilateralismo de Bush e que se
retome o multilateralismo das
organizações, atualizando seus
princípios de atuação. Questões
como solidariedade social, cidadania global, nova governança
e outras teriam que ser incorporadas às normas não só das Nações Unidas como do Banco
Mundial e do FMI.
Será que é o caminho? Embora infinitamente superior ao
unilateralismo atual, o multilateralismo serviu, em grande
parte, para impor regras comerciais e princípios de propriedade que, no fundo, significavam
o que o economista alemão
Friedrich List, em 1841, chamava de "chutar a escada". A Inglaterra recorreu a práticas protecionistas para se firmar como
potência. Depois de consolidada na nova posição, passou a
pregar para o mundo que o livre comércio era o caminho para o desenvolvimento.
É esse processo que explica esse vezo extraordinariamente
emburrecedor de parte dos economistas brasileiros, de defender câmbio apreciado, livre fluxo de capitais ou de condenar a
desvalorização do câmbio, a
proteção à indústria nascente e
até a utilização do poder de
compra do Estado para estimular a produção interna, sob a
alegação de que "em todo lugar
que deu certo é assim". Enquanto não deram certo, não
era assim. China, Coréia do Sul,
Japão conseguiram se transformar em potências industriais
indo contra todas as "boas práticas" pregadas pelos organismos multilaterais.
Essa é a questão básica, que
uma abordagem convencional
dos tempos atuais não resolve.
Vindo dos organismos multilaterais, o máximo que se conseguirá avançar em termos de novas práticas de solidariedade
social serão medidas de cunho
filantrópico ou, no máximo, o
combate ao subsídio agrícola,
em troca de concessões em
áreas de maior valor agregado.
Barreiras efetivas ao desenvolvimento, como o próprio instituto da patente, jamais serão
derrubadas no âmbito dessas
organizações.
A abordagem convencional,
esse multilateralismo histórico,
deixou todos os presentes com a
sensação de que, nesse modelo,
não há saída. Daí a importância extraordinária do tema levantado no segundo painel, sobre a nova sociedade que está se
formando, em nível mundial,
sob a égide das novas tecnologias da informação.
Mas isso é assunto para outra
coluna, pois o espaço acabou.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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