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CONCORRÊNCIA NO AR
Parecer traz críticas ao sistema de compartilhamento
Secretaria aponta suspeita de cartel na parceria Varig-TAM
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Parecer elaborado por secretaria do Ministério da Fazenda pede
a proibição do compartilhamento
de vôos entre a TAM e a Varig e
afirma que, após o acordo, a prática das empresas apresenta indícios de formação de cartel. O DAC
(Departamento de Aviação Civil)
e o Comando da Aeronáutica
também são criticados no documento por adotarem regras que
aumentaram o poder de mercado
das duas empresas, o que reduziu
a concorrência no setor.
O parecer da Seae (Secretaria de
Acompanhamento Econômico)
afirma que as empresas criaram
tarifas artificiais, aumentaram
abusivamente suas margens de
lucro e ainda reduziram de forma
combinada as opções de vôos para os consumidores.
Para a secretaria, a análise da
conduta das empresas desde o
início do ano passado revela vários indícios de formação de cartel. No documento de 41 páginas
encaminhado ao Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica), a secretaria pede não só a
suspensão do "code-share" (compartilhamento), mas a aplicação
de multa diária às empresas.
Além disso, a Seae recomenda
ao conselho que envie representação à SDE (Secretaria de Direito
Econômico), ligada ao Ministério
da Justiça, a fim de que seja aberto
processo administrativo para investigar as empresas e seus dirigentes e/ou administradores.
Em fevereiro de 2003, a TAM e a
Varig informaram ao governo o
início das operações em conjunto
por meio do "code-share". O
compartilhamento seria um primeiro passo no processo de fusão.
No Cade, as empresas assinaram o Apro (Acordo de Preservação de Reversibilidade da Operação), em que se comprometeram
a não adotar medidas irreversíveis ou contra a concorrência até
que o caso fosse analisado em caráter definitivo. Com o acordo, o
Cade autorizou temporariamente
o compartilhamento de vôos.
Pelo compromisso, as duas empresas deveriam funcionar separadamente, "estabelecendo tarifas, freqüências de vôos e demais
condições comerciais de forma
individual e autônoma". "Há indícios de que a cooperação era
mais extensa do que um simples
compartilhamento de aeronaves", afirma o parecer da Seae.
O primeiro aspecto abordado
pela secretaria é o fato de as empresas terem reduzido vôos lucrativos após o "code-share". A expectativa é que somente vôos deficitários fossem eliminados para
reduzir custos. "A retirada de
vôos lucrativos é um indício de
cartelização", diz o parecer, afirmando que a redução dos vôos levou à fixação de tarifas artificiais.
"O efeito da possível conduta
colusiva [de conluio] também se
faz sentir por meio do comportamento artificial de tarifas dos serviços de transporte aéreo."
O documento mostra que as tarifas, no caso da TAM, caíram antes do compartilhamento, mas
aumentaram após o "code-share". Já as da Varig caíram, depois
apresentaram um pequeno aumento e, depois, foram mantidas.
Sem o repasse dessa redução
para as tarifas e com os aumentos
das passagens, a TAM, de acordo
com o parecer, aumentou seu lucro de uma margem negativa de
20,3% para uma positiva de
13,5%. Já a Varig, embora tenha
permanecido negativa, melhorou
em 50% sua margem de lucro.
"Há elementos apontando que a
única explicação racional para o
caso é a redução colusiva de tráfego aéreo, com o objetivo de auferir lucros abusivos", diz o parecer.
Ao Cade, a Seae recomenda a
proibição imediata do compartilhamento para os vôos cujas rotas
estão sobrepostas -em que as
duas empresas operam- ou que
seja revogado o Apro, o que conseqüentemente suspenderá o "code-share" até que os indícios de
cartel sejam apurados pela SDE.
A secretaria ainda pede aplicação da multa diária prevista no
Apro: 0,2% do faturamento das
empresas por item desrespeitado.
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