São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Indústria pressiona por reajuste de preços

ADRIANA MATTOS
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Alguns setores da indústria começaram a pleitear novos reajustes de preços, que podem não chegar tão cedo às prateleiras. Até o momento, as lojas não deram o sinal verde para as remarcações.
O comércio de alimentos, de eletrônicos e de eletrodomésticos informa que há pressão por aumentos, mas que a queda-de-braço entre indústria e varejo não passou da mesa de negociações. Só no setor de móveis o consumidor deve notar reajustes agora.
O aperto na renda do trabalhador no último ano e o repique nas taxas de desemprego foram as razões alegadas pelo comércio ao fornecedor para evitar novos aumentos. "Eles [fornecedores] podem até ter a intenção de aumentar os preços, mas até isso chegar ao consumidor é outra conversa", diz Marcelo Bazzali, diretor de gestão de categoria do Extra.
Nas conversas informais com o varejo, os empresários dizem que a recente elevação no barril do petróleo e a disparada na cotação do dólar tiveram efeitos perversos em suas contas. Isso pode ocorrer porque componentes eletrônicos, borracha e plástico, por exemplo, têm insumos importados. Mas o comércio contesta a justificativa.
Explica-se: muitos fabricantes de bens duráveis têm contratos de hedge (proteção cambial) que evitam que a fábrica perca dinheiro quando o dólar dispara. Mesmo que a moeda suba de valor, esse impacto seria questionável.
Além disso, as empresas trabalham com contratos de compra de insumo com preço definido. Portanto, ainda que o produto sofra impactos com a subida do petróleo, como é o caso do plástico, uma elevação no valor do petróleo pode não ter efeito imediato nas contas dos fornecedores. A Folha apurou que, até agora, o que existe de mais concreto é uma negociação para elevação nos preços de móveis, de 2% a 3%.
A pressão da indústria eletrônica por aumentos de preços ocorre desde janeiro deste ano. As fábricas de TVs querem reajustes entre 8% e 15%. As de lavadoras de roupas e geladeiras, entre 5% e 10%.
"Só que não aceitamos esses aumentos porque os consumidores não têm condições de pagar mais", afirma Valdemir Colleoni, diretor da Lojas Cem.
João Carlos de Oliveira, presidente da Abras, associação que reúne os supermercados, disse ontem que os preços dos produtos estão estáveis e até em queda. "Por enquanto, as lojas têm estoque suficiente para aguardar uma queda do dólar no período de 20 dias. Esperamos uma acomodação do dólar em torno de R$ 3,00 nos próximos 20 dias. Se continuar o atual patamar de R$ 3,20, haverá conseqüências não só nos produtos como nos insumos importados, caso do trigo", disse.
A indústria de papelão ondulado informa que os fornecedores de aparas de papel estão há 30 dias tentando aumentar preços. "Alguns conseguem reajustar. Outros, não. Há muita oferta e pouca demanda", afirma Roberto Jeha, diretor-presidente da Indústria de Papel São Roberto.


Texto Anterior: Pé no freio: Meirelles minimiza divisão no Copom
Próximo Texto: Para analistas, PIB subiu mais de 1%
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.