São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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Teixeira visitou Lula após contestações sobre VarigLog

Visitas ocorreram no período em que as empresas aéreas questionavam venda

"Que o Roberto Teixeira atuou na venda da Varig, isso é público e notório. O que precisa ser investigado é o capital", diz Bernardo


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Três das quatro visitas que o advogado Roberto Teixeira descreveu como "cordiais" ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu compadre, no Palácio do Planalto, aconteceram no período em que as empresas aéreas questionavam a venda da VarigLog para o fundo norte-americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros. Acusado de influir no negócio, Teixeira advogava para a companhia de carga.
Essas quatro visitas, reveladas ontem pela Folha, não constavam da agenda pública do presidente e até então não eram conhecidas. Teixeira esteve outras duas vezes com Lula, em encontros também não divulgados pelo Palácio do Planalto, mas que se tornaram públicos em razão de flagrantes fotográficos.
A venda da VarigLog, aprovada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em 22 de junho de 2006, foi posta sob suspeita pelo Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas), que recorreu à própria agência e ao Ministério Público Federal. O sindicato alegou que o fundo norte-americano possuía o real controle da companhia, o que fere as leis brasileiras. Naquela ocasião, a VarigLog já havia comprado a Varig por US$ 24 milhões.
A primeira das visitas de cortesia de Teixeira a Lula aconteceu em 22 de agosto de 2006. Nesse momento, além de rebater os questionamentos à lisura do negócio, Teixeira tinha outra missão: conseguir da Anac o certificado que daria à Varig autorização para voar.
O certificado acabou saindo em 14 de dezembro e foi comemorado no dia seguinte com uma visita de Teixeira e dos sócios da VarigLog ao gabinete presidencial. A divulgação de uma foto do grupo com o presidente, com dedicatória de Lula a Marco Antonio Audi (um dos sócios brasileiros), deu publicidade ao encontro.

Visitas em 2007
A segunda e a terceira visitas só agora conhecidas aconteceram em 2 de janeiro e 16 de fevereiro de 2007. Nesse período, a Anac aguardava respostas do Banco Central e da Receita Federal sobre a origem do capital dos sócios da VarigLog. Os documentos foram pedidos pela diretoria da agência, atendendo ao recurso do Snea.
A papelada não chegou a ser analisada. Segundo a atual diretoria da Anac, as respostas nem sequer constam do processo aberto na agência para analisar a operação financeira.
Em 28 março deste ano, sem obstáculos, a Varig foi vendida para a Gol por US$ 320 milhões. Nesse dia, Teixeira esteve de novo com o presidente Lula no Planalto. O encontro ficou conhecido porque, de novo, o advogado foi fotografado, dessa vez no elevador ao lado de Nenê Constantino e de Constantino Jr., donos da Gol.
Teixeira foi contratado, segundo Audi, "para resolver" os problemas sobre a origem do capital da empresa. Audi diz que a influência do advogado no governo foi decisiva para a concretização do negócio.
Procurado pela Folha, Teixeira, por meio de sua assessoria de imprensa, reiterou as declarações de que nunca houve nenhum tipo de ingerência pessoal ou de seu escritório.
O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) minimizou ontem a revelação das visitas não divulgadas de Teixeira a Lula.
"Que o Roberto Teixeira atuou na venda da Varig, isso é público e notório. O que precisa ser investigado é o capital, que tem mais dinheiro estrangeiro do que brasileiro", disse Paulo Bernardo.
(ALAN GRIPP e LETÍCIA SANDER)


Colaborou GABRIELA GUERREIRO , da Folha Online, em Brasília


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