São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Caminho suave, para baixo


Consumidor se anima menos em tomar crédito, calote sobe um tico e bancos notam mais de cautela em junho

O CONSUMIDOR comum está menos inclinado a pegar dinheiro emprestado. A hipótese estava "sub judice" desde janeiro, quando o total de dinheiro emprestado e as novas concessões de crédito passaram a fraquejar. Os dados de maio parecem confirmar a idéia de que as pessoas físicas vão comprar menos a crédito e tomar menos financiamentos daqui para o final de ano, quando as condições gerais da economia no mínimo devem parar de melhorar. Não se trata de tragédia, mas do início da fase de baixa em um ciclo que é, no geral, positivo. Além do mais, o crédito imobiliário continua com um desempenho excepcional e o financiamento à pessoa jurídica acelerou um tanto nesta quase metade do ano, embora tal fenômeno talvez se deva à piora significativa das condições no mercado de capitais.
Mas a renda deve crescer mais devagar, as expectativas do consumidor pioram, os juros ainda subirão e a inadimplência começa a crescer de maneira evidente, em especial no financiamento de veículos. Os atrasos superiores a 90 dias no pagamento da prestação do carro sobem mês a mês e já são superiores à média do ano passado. O crédito consignado parece chegar ao limite.
Tal deterioração do crédito para a pessoa física pelo menos por ora parece muito ligeira, porém, e a fatia de atrasos pelo menos ainda está em níveis bem comportados. Mas tais sinais, porém, devem ser captados pelos bancos, que vão puxar os cabrestos de prazos e aumentar o rigor na seleção dos tomadores de crédito. Em pelo menos três grandes bancos, ouvidos pela Folha, é o que acontece em junho, suavemente. Os juros ao consumidor já subiram neste mês, e a demanda por crédito pessoal e para a aquisição de bens de maior valor caiu em dois desses bancos. O custo do crédito para pessoa física foi menor em maio, mas provavelmente devido à redução do preço de abrir um financiamento, dada a nova regulação do Banco Central sobre tarifas etc. Mas, em junho, tal efeito já desapareceu.
Pelo menos na opinião de bancos, ainda faltam dados para revisar a estimativa do crescimento total do crédito este ano, em especial devido à divergência nas tendências de crescimento do crédito para empresas e pessoas físicas. No começo do ano, grandes banqueiros falavam publicamente em expansão de 25%.
Agora o palpite mais ou menos informado fica entre 20% e 25%, "um pouco mais para 20%". Mas 20% ainda é muito bom, consideradas a alta da inflação, das taxas de juros e a confusão econômica global.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse na semana passada que não via necessidade de medidas extras para conter a expansão do crédito. Certamente já estava informado de certa moderação do consumidor. Economistas de banco têm insistido que o aumento da relação crédito/ PIB e o fim da expansão do crédito consignado tornariam mais efetiva a política monetária: a carga de juros extra necessária para conter a economia seria menor neste ciclo de aperto.
No crédito, tal efeito ampliado do efeito dos juros já é evidente. Resta saber qual será o efeito no mercado de trabalho, que reage com defasagem maior, e como os preços externos vão bater por aqui.

vinit@uol.com.br


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