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ANÁLISE
Crise das Bolsas pode minar confiança de empresários
ANDREW HILL
DO "FINANCIAL TIMES", EM NOVA YORK
O tumulto nas Bolsas
mundiais pode fazer com
que os líderes empresariais do
mundo voltem ao círculo vicioso
de baixa confiança e de investimentos de capital sempre adiados. Essa é uma das conclusões de
uma pesquisa mundial do "Financial Times" sobre confiança empresarial, na qual mais de 30 executivos de primeiro escalão em
empresas multinacionais responderam a perguntas sobre perspectivas econômicas, planos de gastos e governança corporativa.
Ao todo, 34 executivos -a
maioria funcionários de empresas
com extensas operações internacionais- responderam ao questionário, em junho e no começo
de julho. A pesquisa foi reforçada
por entrevistas com outros executivos importantes.
A maioria manifestou otimismo
igual ou maior quanto à situação
geral de seus setores em relação
aos resultados do início do ano,
mas ainda teme que a queda nas
Bolsas tenha "efeito negativo significativo" sobre suas operações.
O impacto não se limita aos
EUA, onde múltiplos escândalos e
as concordatas da Enron e da
WorldCom minaram a confiança
dos investidores e empresários.
Douglas Daft, presidente da Coca-Cola, disse em sua resposta:
"Quando uma crise de confiança
atinge nossas empresas e nossas
economias, precisamos compreender que ela tem implicações
para além de muitas fronteiras".
Uma desaceleração prolongada
nos mercados poderia facilmente
reverter o moderado otimismo
quanto a uma recuperação econômica mundial detectado na pesquisa do "Financial Times".
"Acredito que o pior já tenha
passado", escreveu Marco Tronchetti Provera, presidente da Telecom Italia e um dos executivos
mais admirados de seu país, em
resposta à pergunta sobre perspectivas setoriais. "Mesmo assim,
o ritmo da recuperação será inicialmente moderado. Não creio
que o crescimento volte em ritmo
tão rápido quanto o do final dos
anos 90, ao menos por enquanto."
Entrevistado em uma reunião
de executivos-chefes no final de
junho, A. G. Lafley, executivo-chefe da Procter & Gamble, concordou com a idéia de uma recuperação gradual. "Vemos crescimento lento mas firme nos mercados, pelo menos nos EUA, Europa e certamente na China. Na
verdade, o ponto fraco principal
continua a ser o Japão, e, na Europa, eu diria que a Alemanha está
sendo o retardatário. De um ponto de vista de lucros, decerto não
estamos vendo crescimento robusto, mas não acredito que estejamos em recessão. O crescimento
decerto é bastante modesto."
Houve exceções a esse discreto
otimismo, especialmente nos setores que foram prejudicados seriamente pela crise dos últimos
dois anos, com o esvaziamento da
bolha no setor de alta tecnologia.
Henning Kagermann, um dos
executivos-chefes da SAP, grupo
de software alemão, disse que,
"dado o clima atual e o frenesi da
mídia", estava menos otimista
quanto à situação geral de negócios em seu setor do que há seis
meses. Em 11 de julho, a SAP alertou que não cumpriria suas metas
de vendas para o ano, e ela não
atingiu os números esperados por
analistas no segundo trimestre.
Kurt Hellstrom, presidente da
Ericsson, empresa sueca de telefonia móvel, disse que a posição de
seu grupo não mudara. "Dissemos [há seis meses" que estávamos otimistas, a longo prazo, porque víamos a necessidade de reconstrução da infra-estrutura nas
operadoras de telefonia. Mas no
momento não conseguimos ver a
luz no fim do túnel."
O momento exato de recuperação para a economia dos EUA
produziu ampla variedade de respostas, se bem que, entre as 30
empresas que responderam, 12
acreditassem que o quarto trimestre deste ano era o ponto inicial
mais provável para uma retomada
do crescimento econômico.
A maioria dos executivos que
responderam diz não planejar aumento de gastos no segundo semestre. Dos 32 que responderam
a essa pergunta, 18 disseram que
não esperavam autorizar novos
investimentos de capital nos próximos seis meses. Sete disseram
que os gastos não mudariam.
A respeito de investimentos em
tecnologia da informação -um
dos principais propulsores do
crescimento econômico nos
EUA-, 21 dos executivos disseram que estavam retendo ou reduzindo gastos, enquanto 11 aumentaram seus investimentos.
Mas alguns dos que devem elevar seus investimentos de capital
têm motivos específicos para isso.
Hans-Joachim Körber, presidente do grupo de varejo alemão
Metro, disse que "é normal que o
investimento de capital suba no
segundo semestre", porque é nessa época que lojas costumam ser
abertas. A Bertelsmann disse querer elevar seus investimentos de
capital e "economizar nos gastos
com tecnologia da informação".
O desânimo nos mercados de
ações -mais que o terrorismo ou
as conseqüências do colapso da
Enron- é o principal peso para a
confiança dos empresários.
Mas as próprias Bolsas refletem
o abalo da confiança nos negócios
e a falta de uma retomada real no
investimento empresarial. Sob as
circunstâncias, talvez não surpreenda que, dos 33 executivos
que responderam à pergunta sobre contratações e demissões em
termos líquidos, apenas nove informaram que aumentariam suas
equipes no segundo semestre.
Respostas como essas sugerem
que eliminar o círculo vicioso que
está pressionando para baixo os
mercados e a confiança talvez seja
um processo demorado. Ao classificar as questões macroeconômicas como sua principal preocupação, os líderes empresariais
destacaram a deflação de preços
como fator mais preocupante, seguido por aumentos nos juros.
Longe de poder explorar a demanda dos consumidores por
seus produtos, as empresas estão
sendo forçadas a oferecer descontos maiores a fim de persuadir os
consumidores a abrir suas carteiras, mais especialmente nos EUA,
onde as montadoras de automóveis acabam de iniciar outra rodada de financiamento a juro zero
para veículos novos. A pesquisa
indica que os executivos crêem
que um aumento nos juros, hoje,
causaria novo abalo à confiança.
Tradução de Paulo Migliacci
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