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CRISE NO AR
Ministério faz projeto para elevar papel do Estado na regulamentação do setor; Fazenda e Justiça discordam
Defesa quer intervenção em tarifas aéreas
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Defesa quer aumentar a capacidade do governo
de intervir em tarifas aéreas e nas
concessões de novas linhas para
as companhias aéreas. O interesse
está incluído no projeto de novas
regras para o setor, obtido pela
Folha. Mas os ministérios da Fazenda e da Justiça se uniram contra a proposta.
A Defesa, por ora, ganha a queda-de-braço, embora negociações
de última hora possam mudar algumas das regras.
Os dois pontos que prevêem
uma regulação maior do setor pelo Estado e desagradam à Fazenda
e à Justiça constam no documento com as diretrizes do novo marco regulatório da aviação civil,
que será encaminhado em breve
para discussão no Conac (Conselho Nacional de Aviação Civil).
Para a Defesa, o processo de
desregulamentação do setor ao
longo dos últimos anos, que liberou as tarifas, é uma das causas da
crise que abalou as principais
companhias aéreas brasileiras,
pois resultou em concorrência
predatória.
A Fazenda e a Justiça consideram que as novas modalidades de
intervenção previstas no projeto
podem criar distorções de preços
e impedir uma maior concorrência entre as empresas aéreas, o
que prejudicaria o consumidor.
"O órgão regulador disporá de
mecanismos para estabelecer restrições ao regime de liberdade tarifária, mediante o estabelecimento de limites tarifários máximos ou mínimos por segmento
específico de mercado, na ocorrência de prática anticompetitiva
ou abuso de preços", afirma o
projeto elaborado pelo Comitê de
Políticas Públicas, designado pelo
governo para discutir o assunto.
Se a Defesa vencer as discussões,
o órgão regulador da aviação civil,
atualmente o DAC (Departamento de Aviação Civil), poderá estabelecer preços mínimos quando
for verificado excesso de concorrência. Quando houver práticas
monopolistas, serão fixados preços máximos.
Segundo a Folha apurou, o texto poderá ser modificado para
que o DAC só possa estabelecer
tarifas máximas e mínimas quando o sistema de concorrência não
se pronunciar sobre as suspeitas
de práticas anticompetitivas.
Se a nova redação prevalecer, os
ministérios contrários à opinião
da Defesa ficarão satisfeitos, pois
o órgão regulador não teria chances para estabelecer tarifas.
"Fechamos um acordo sobre
como será a intervenção nas tarifas com todos os envolvidos",
afirma Alex Romero, diretor do
Departamento de Gestão de Políticas Setoriais do Ministério da
Defesa, sobre as divergências.
Na opinião da Fazenda e da Justiça, a política de tarifas deve ser
decidida pelas próprias empresas
e baseada nas regras de livre mercado. Para os dois ministérios,
não existe "excesso de concorrência", termo usado pelo ministro
da Defesa, José Viegas, para justificar as intervenções nas tarifas.
Para os técnicos dos ministérios
da Fazenda e da Justiça, competição é sempre saudável.
Romero rebate: "No campo teórico isso pode ser verdade, mas, se
há falhas de mercado, o Estado
precisa intervir".
Desde o final de 2001, uma portaria da Fazenda liberou as tarifas
aéreas domésticas. Até então, o
DAC estabelecia os preços máximos das passagens.
Além de intervir nos preços, o
projeto prevê barreiras à entrada
de novas empresas em linhas já
cobertas por outras companhias.
"O acesso ao mercado será livre,
no caso de linhas já atendidas,
mediante apresentação de estudo
de viabilidade econômica", diz o
documento.
Os críticos das mudanças afirmam que deve ser prerrogativa
das empresas avaliar se voar num
trecho é rentável. Uma portaria
do Comando da Aeronáutica já
obriga as empresas a apresentarem estudos de viabilidade econômica antes de ganhar autorização do DAC.
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