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RECEITA ORTODOXA
Piora perfil do débito do Tesouro em julho, com aumento da parcela atrelada a juros; Banco Central vê "volatilidade"
"Ruído político" afetou dívida pública, diz BC
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Houve uma deterioração do
perfil da dívida pública mobiliária
(em títulos do Tesouro Nacional)
em julho, apesar de a parcela corrigida pelo dólar ter diminuído.
Enquanto a participação dos títulos corrigidos a juros fixos (prefixados) foi reduzida, aumentou o
percentual dos papéis atrelados à
taxa básica de juros (pós-fixados).
Em julho, a dívida total subiu
0,13%, para R$ 759,20 bilhões.
Segundo o chefe do Departamento de Operações do Mercado
Aberto do Banco Central, Sérgio
Goldstein, o mercado financeiro
esteve "muito volátil" em julho
devido, entre outros motivos, "a
ruídos políticos".
Ele evitou falar diretamente,
mas referia-se à crise política provocada por denúncias de supostas
irregularidades fiscais cometidas
pelo presidente do BC, Henrique
Meirelles, e pelo ex-diretor de Política Monetária da instituição
Luiz Augusto Candiota, que acabou pedindo demissão do cargo.
Nos papéis prefixados, o governo transfere o risco da operação
para o investidor, que recebe uma
taxa definida, independentemente da variação dos juros na economia. Já no caso dos pós-fixados, o
risco fica com o governo, que garante ao investidor juros de mercado. É por isso que se considera
piora do perfil da dívida quando
há aumento da parcela pós-fixada
em detrimento da prefixada.
Assim, quando há nervosismo
no mercado financeiro, os investidores tendem a preferir títulos
pós-fixados a prefixados. No caso
das LTNs (Letras do Tesouro Nacional), um papel prefixado, o governo fez no mês passado um resgate líquido (descontadas as
emissões) de R$ 14,1 bilhões. Por
outro lado, emitiu R$ 10,2 bilhões
de LFTs (Letras Financeiras do
Tesouro, um título com taxas
pós-fixadas).
Goldstein afirmou, no entanto,
que já a partir deste mês começará a haver uma reversão do quadro verificado em julho. O Tesouro já emitiu neste mês R$ 8 bilhões em LTNs. Ontem, estava
previsto o lançamento de mais R$
2 bilhões dos títulos.
Em julho, a parcela prefixada
caiu para 15,13% do total da dívida, ante 16,82% em junho. Já a
participação dos pós-fixados subiu de 50,62% para 53,77%.
Apesar desses números, Goldstein comemorou a redução da
parcela atrelada ao dólar, que caiu
para 14,11% -em junho, estava
em 15,80%. Segundo ele, é a menor participação da dívida cambial desde dezembro de 1999.
Nesses números já estão incluídos os chamados "swaps" cambiais, negociados no mercado futuro, por meio dos quais o BC
confere aos investidores proteção
contra a variação do dólar em relação ao real. No mês passado,
houve resgate líquido de R$ 11 bilhões entre títulos corrigidos pela
moeda americana e "swaps".
Além disso, a apreciação do real
respondeu por diminuição da dívida em mais R$ 2,9 bilhões.
O governo vem reduzindo a
parcela cambial da dívida desde o
ano passado. Em 2003, foram renegociados 61,13% dos vencimentos totais de títulos e "swaps".
Neste ano, a renovação até agora
foi de apenas 5,2% dos vencimentos, com resgate líquido de US$
23,383 bilhões.
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