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OPINIÃO ECONÔMICA
Negligência no pagamento dos expurgos do FGTS
MARIO ALBERTO AVELINO
Entre os dias 5 e 30 de agosto, o Instituto FGTS Fácil
atendeu 17,2 mil trabalhadores
em seu quiosque na Central do
Brasil, no Rio de Janeiro. Foram
prestados gratuitamente serviços
de orientação e cálculo dos expurgos do FGTS referentes aos planos
econômicos Verão e Collor 1.
As maiores reclamações foram:
a) o trabalhador não recebeu os
extratos dos expurgos pela Caixa
Econômica Federal, apesar de ter
preenchido e assinado o Termo
de Adesão;
b) o trabalhador teve de voltar
várias vezes à CEF, e em cada uma
delas preencheu um novo formulário (há pessoas que já preencheram cinco vezes o Termo de Adesão);
c) o trabalhador alega ter sido
enganado pelos atendentes dos
correios, que informaram que o
Termo de Adesão só poderia ser
entregue com assinatura (muitos
desses trabalhadores têm mais de
R$ 2.000, o que seria mais vantajoso e rápido receber pela Justiça);
d) a CEF não está cumprido o
prazo de pagamento que consta
nos extratos dos expurgos;
e) o trabalhador quer saber se os
valores calculados pela CEF estão
corretos;
f) desinformação dos atendentes da CEF, fazendo o trabalhador
voltar várias vezes à agência, perdendo até um dia de trabalho;
g) trabalhadores que desistiram
das ações na Justiça e até agora
não receberam os valores dos expurgos descobrem que podem levar até mais tempo para receber
pelo governo do que pela via judicial, pois o Termo de Adesão tem
de ser homologado pela Justiça.
h) no campo referente à identificação do trabalhador, o extrato
menciona "não identificado",
obrigando-o a apresentar o Termo de Rescisão -e muitos não
possuem mais esse documento.
A principal conclusão é esta:
muitos trabalhadores tornaram-se vítimas da falta de esclarecimento, da má vontade, do despreparo e do descaso de alguns funcionários da CEF, além de erros
operacionais e do não-cumprimento do prazo de pagamento.
Isso comprova que a CEF não está
preparada para fazer, em prazo
tão curto, o pagamento dos expurgos do FGTS.
Na realidade, a CEF tornou-se
também uma vítima das eleições
deste ano, pois um prazo racional
e não-eleitoreiro seria começar o
pagamento somente a partir de
novembro deste ano. Mas o governo federal já usou o pagamento dos expurgos nas eleições municipais de 2000, e também o usará nas deste ano, o que torna bem
claro o motivo de tentar pagar 35
milhões de trabalhadores -dos
38 milhões que têm direito aos expurgos- até 31 de julho deste
ano, prazo que não foi cumprido,
gerando todo esse desgaste e desrespeito aos trabalhadores.
Uma prova dessa ganância eleitoral é que dos 17,2 mil trabalhadores atendidos, metade foi pelo
motivo de o extrato recebido da
CEF mencionar "não identificado" no campo "trabalhador com
direito imediato a saque", o que
tem obrigado os trabalhadores a
apresentarem o Termo de Rescisão para provar que já sacaram o
FGTS no passado e terem direito
ao recebimento do seu dinheiro.
Acontece que, pela falta de educação trabalhista (nunca se investiu
para orientar os trabalhadores sobre seus direitos e obrigações trabalhistas), a grande maioria dos
trabalhadores não possui esse documento -muitas empresas fecharam ou faliram, e as que ainda
existem, em sua maioria, não têm
o documento em arquivo, pois o
prazo legal para mantê-lo é de
dois anos.
Conclusão: milhões de trabalhadores ainda não receberam seu
dinheiro por total negligência e
falta de planejamento da CEF,
pois bastaria consultar o Caged
(Cadastro Geral de Admitidos e
Demitidos) ou a Rais (Relação
Anual de Informações Sociais)
para obter as informações necessárias.
Caso continue essa situação,
muitos trabalhadores poderão receber o valor errado -ou até não
recebê-lo-, sem contar o prejuízo de milhões de horas de trabalho que as empresas estão perdendo por terem que liberar seus funcionários para ficarem horas nas
filas das agências da CEF.
Como coordenador do Projeto
Cidadão FGTS na Central do Brasil, acredito que esse trabalho tem
de ser expandido para todo o Brasil -nos municípios, nas associações de trabalhadores, nas associações de funcionários, nos sindicatos de trabalhadores, nas empresas, nas entidades de classe,
em lugares públicos, em entidades governamentais etc.-, exigindo que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados e
cumpridos. Sem isso, os 38 milhões de trabalhadores com direito a receber R$ 40 bilhões dos expurgos do FGTS poderão ser prejudicados mais uma vez.
Mario Alberto Avelino, presidente do Instituto FGTS Fácil, é autor dos livros "FGTS - Como Receber Corretamente seu Dinheiro dos Expurgos" e "Pare de Perder seu Dinheiro do FGTS".
Hoje, excepcionalmente, a coluna de Antonio Barros de Castro
não é publicada.
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