São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

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LUÍS NASSIF

Entre a cruz e caldeirinha

A estratégia eleitoral da candidatura José Serra exige um grau de sofisticação que parece não ter sido bem entendido pelos que criticam o papel dos "marqueteiros" da campanha. Digo isso na condição de quem já os criticou na fase inicial da campanha.
Nestes dias que faltam até o primeiro turno, a campanha Serra enfrenta dois desafios: o de impedir que Lula suba mais e leve no primeiro turno, e o de impedir que Garotinho suba e vá para o segundo turno. Trata-se de engenharia complexa porque o ataque a Lula transferiria votos para Garotinho, e vice-versa.
Além disso, a guerra entre Ciro e Serra poupou Lula, mas também Garotinho. Nesse período, Garotinho pôde prometer salário mínimo de R$ 280, o governo pagando o salário do primeiro emprego, sem ser molestado.
Por outro lado, o poder de fogo da campanha de Serra acabou sendo reduzido pelas sucessivas reportagens falando de seu poder de "desconstruir" imagens de adversários -na verdade, Roseana e Ciro foram "desconstruídos" pela cobertura da mídia, muito mais do que pela intervenção de Serra. Ou até equiparando comentários sobre o preparo de adversários a ataques pessoais.
A estagnação da sua candidatura é fácil de explicar: 100% de ataque dos comerciais de Ciro; 100% dos comerciais de Garotinho; 40% dos comerciais de Lula; e cobertura da mídia apontando-o como o algoz dos adversários...

Cooperativas de crédito
Período eleitoral é propício para promessas impossíveis ou para bandeiras irrelevantes, bem embaladas. No entanto, a proposta de Lula de revitalizar as cooperativas de crédito é consistente. São cooperativas montadas em grandes companhias, ou em setores, em que os cooperados contribuem e tomam empréstimos. Em ambos os casos, o desconto é em folha, levando a inadimplência a praticamente zero. Como as cooperativas usam a estrutura da própria empresa, seu custo operacional é irrelevante. Tudo isso, somado, permite que os cooperados sejam remunerados a TR mais 1% ao mês, e tomam crédito a TR mais 2% ao mês.
Seu poder de alavancar vendas financiadas é enorme.

Dólar e dólar
Há que analisar o mercado de dólar sob dois ângulos: o circuito normal de pagamento de dólares (remessa de lucros, dividendos, pagamentos diversos) e o da fuga de capitais. A pressão sobre o câmbio, por enquanto, é exclusiva da parte operacional. Tanto assim que é baixíssima a demanda por dólar-papel (o que caracterizaria fuga dos pequenos depositantes) ou das contas CC-5 (sinal de fuga dos grandes investidores).
Obviamente não se pode descuidar, o momento é delicado, mas não há estouro da boiada. De qualquer forma, com o superávit comercial e a rolagem da dívida externa do próximo ano praticamente garantida pelo FMI, a crise decorre basicamente do momento político atual e da perspectiva de guerra por parte dos EUA.

Campanha
Uma característica nova nesta campanha é a questão do financiamento. A Secretaria da Receita Federal (SRF) instituiu um CNPJ provisório para cada candidato, com prazo de algumas semanas após as eleições para perder validade. Ou seja, terminada a eleição, os candidatos terão de quitar imediatamente suas dívidas de campanha.
Além disso, com o cerco da Receita, a maioria dos contribuintes de campanha exige pagar pelo caixa um. E aí as normas da legislação eleitoral criam enormes embaraços burocráticos.

E-mail - lnassif@uol.com.br


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