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LUÍS NASSIF
Entre a cruz e caldeirinha
A estratégia eleitoral da candidatura José Serra exige um grau de sofisticação que parece não ter sido bem entendido pelos que criticam o papel dos "marqueteiros" da campanha. Digo isso na condição de quem já os criticou na fase inicial da campanha.
Nestes dias que faltam até o primeiro turno, a campanha Serra enfrenta dois desafios: o de impedir que Lula suba mais e leve no primeiro turno, e o de
impedir que Garotinho suba e vá para o segundo turno. Trata-se de engenharia complexa porque o ataque a Lula transferiria votos para Garotinho, e vice-versa.
Além disso, a guerra entre Ciro e Serra poupou Lula, mas
também Garotinho. Nesse período, Garotinho pôde prometer
salário mínimo de R$ 280, o governo pagando o salário do primeiro emprego, sem ser molestado.
Por outro lado, o poder de fogo
da campanha de Serra acabou
sendo reduzido pelas sucessivas
reportagens falando de seu poder de "desconstruir" imagens
de adversários -na verdade,
Roseana e Ciro foram "desconstruídos" pela cobertura da mídia, muito mais do que pela intervenção de Serra. Ou até equiparando comentários sobre o
preparo de adversários a ataques pessoais.
A estagnação da sua candidatura é fácil de explicar: 100% de
ataque dos comerciais de Ciro;
100% dos comerciais de Garotinho; 40% dos comerciais de Lula; e cobertura da mídia apontando-o como o algoz dos adversários...
Cooperativas de crédito
Período eleitoral é propício
para promessas impossíveis ou
para bandeiras irrelevantes,
bem embaladas. No entanto, a
proposta de Lula de revitalizar
as cooperativas de crédito é consistente. São cooperativas montadas em grandes companhias,
ou em setores, em que os cooperados contribuem e tomam empréstimos. Em ambos os casos, o
desconto é em folha, levando a
inadimplência a praticamente
zero. Como as cooperativas
usam a estrutura da própria
empresa, seu custo operacional
é irrelevante. Tudo isso, somado, permite que os cooperados
sejam remunerados a TR mais
1% ao mês, e tomam crédito a
TR mais 2% ao mês.
Seu poder de alavancar vendas financiadas é enorme.
Dólar e dólar
Há que analisar o mercado de
dólar sob dois ângulos: o circuito normal de pagamento de dólares (remessa de lucros, dividendos, pagamentos diversos) e
o da fuga de capitais. A pressão
sobre o câmbio, por enquanto, é
exclusiva da parte operacional.
Tanto assim que é baixíssima a
demanda por dólar-papel (o
que caracterizaria fuga dos pequenos depositantes) ou das
contas CC-5 (sinal de fuga dos
grandes investidores).
Obviamente não se pode descuidar, o momento é delicado,
mas não há estouro da boiada.
De qualquer forma, com o superávit comercial e a rolagem da
dívida externa do próximo ano
praticamente garantida pelo
FMI, a crise decorre basicamente do momento político atual e
da perspectiva de guerra por
parte dos EUA.
Campanha
Uma característica nova nesta
campanha é a questão do financiamento. A Secretaria da Receita Federal (SRF) instituiu um
CNPJ provisório para cada candidato, com prazo de algumas
semanas após as eleições para
perder validade. Ou seja, terminada a eleição, os candidatos terão de quitar imediatamente suas dívidas de campanha.
Além disso, com o cerco da Receita, a maioria dos contribuintes de campanha exige pagar pelo caixa um. E aí as normas da legislação eleitoral criam
enormes embaraços burocráticos.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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