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BC quer criar título para facilitar captação de bancos pequenos
Mudança, porém, valerá para instituições financeiras de todos os portes; hoje principal instrumento é o CDB
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central estuda a
criação de um novo título de dívida privada de longo prazo para financiar as operações de
crédito mais longas das instituições financeiras. A ideia é
preparar o setor bancário para
a retomada do crescimento
acelerado do crédito em 2010.
Hoje, o principal instrumento de captação dos bancos é o
CDB (Certificado de Depósito
Bancário), que é um papel de
prazos médios inferiores a um
ano, mas com liquidez diária, o
que leva a um "descasamento"
no financiamento das operações de prazos maiores.
A proposta é criar uma espécie de debênture (título de empresas não financeiras) com
prazos de cerca de cinco anos,
com foco em investidores institucionais do mercado de capitais, que procuram maior rentabilidade na renda fixa.
Para isso, essas emissões precisarão passar pelo crivo de reguladores, auditores e de agências de "rating" [nota] antes de
serem compradas.
A proposta é uma antiga reivindicação dos bancos, especialmente as instituições de
médio e pequeno portes que tiveram dificuldade de captação
de recursos durante a crise.
Se for aprovada, porém, deverá valer para instituições de
todos os tamanhos.
Diferentemente das empresas não financeiras, os bancos
não têm autorização para emitir debêntures, que são hoje o
principal instrumento de captação corporativa de longo prazo no mercado interno.
Para obter recursos no mercado interno de capitais, os
bancos costumavam emitir debêntures por meio de suas empresas de leasing, que, até o ano
passado, não tinham recolhimento de compulsório nem incidência de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Diante dessa brecha, o governo
instituiu em 2008 o compulsório nas captações das empresas
de leasing, mas não chegou a regulamentar a cobrança de IOF.
A proposta de criação do novo título permitirá uma melhor
gestão entre ativos e passivos
dos bancos, colaborando para
reduzir os "spreads" [diferença
entre taxas de captação e a repassada ao consumidor], o que
interessa ao governo.
Segundo executivos de bancos, a proposta não está relacionada ao fim do uso de parte do
compulsório para empréstimos
às instituições com capital de
até R$ 7 bilhões, que termina
no próximo dia 30. Há uma expectativa de que o instrumento
seja renovado ou que a interrupção não seja tão brusca, pois
teria impacto no crédito e nas
atividades dos bancos menores.
Para Antonio Francisco Lima Neto, novo presidente do
Banco Fibra e ex-dirigente do
Banco do Brasil, o novo instrumento de captação é "bem-vindo" e prepara o setor para forte
crescimento no crédito.
"Com esse aumento de crédito que vem por aí, você tem de
ter uma estrutura de "funding"
[captação] muito boa. Qualquer instrumento que venha
incentivar captações de longo
prazo é bom. Tem de ver as características do instrumento e
o momento em que cada banco
está. No caso do Fibra, não sofremos na crise com captação
nem temos vendido carteira."
Para João Augusto Salles,
analista da consultoria Lopes
Filho, a emissão de debêntures
é um pleito antigo das instituições de menor porte para conseguir dar crédito mais longo
para a clientela, especialmente
empresas.
"O banco pequeno fornece
crédito para empresa de pequeno e médio porte para capital
de giro, de 90 dias a 120 dias. É
um giro muito rápido. Mas o
cliente depois tem a necessidade de comprar uma máquina, e
o banco não tem como financiar. O intuito é ter uma válvula
de captação que viabilize esses
investimentos em ativos fixos."
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