São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2004

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MERCADO FINANCEIRO

Analistas esperam por explicações do BC sobre alta de juros para ajustar posições; cenário externo segue tenso

Petróleo e ata do Copom centralizam atenções

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de aumentar as taxas de juros além do esperado -apostava-se em alta de 0,25 ponto percentual, e não de 0,5- surpreendeu analistas, mas não causou turbulência, já que a maioria segue mais preocupada com o cenário internacional.
A grande incógnita, no setor externo, continua sendo a cotação do petróleo, que não pára de bater recordes. Na sexta, ela chegou a US$ 55. No mesmo dia, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato, admitiu que a alta do produto neste ano deve afetar o crescimento mundial em 2005. Foi o suficiente para derrubar os preços das ações na Bolsa de Nova York.
No Brasil, o dia também foi de ajuste, para baixo, na Bolsa, em que a queda chegou a 1,4%. Preço do petróleo em alta tem duas implicações graves para o Brasil. Primeiro, o crescimento menos robusto da economia mundial pode trazer reflexos negativos para as exportações brasileiras. Ninguém espera que o volume exportado caia, mas tampouco se acredita que, com uma economia mundial em desaceleração, elas possam continuar subindo no ritmo atual.
A segunda implicação pode prejudicar ainda mais o crescimento interno. A alta maior do que o esperado da taxa de juros foi interpretada pelo mercado como um sinal de que o Copom já mira na inflação do próximo ano, tentando evitar que o aquecimento interno e as pressões externas se transformem em aceleração da inflação. Se a cautela continuar e a alta do petróleo também, é bem provável que a política monetária permaneça apertada -ou seja, juros em alta ou estáveis por mais tempo. Alta dos juros, com certo exagero, pode ser traduzida como queda no crescimento.

Ata do Copom
Apesar da surpresa provocada pela decisão do Copom na semana passada, a maioria dos bancos e consultorias apressaram-se em dizer que a decisão estava correta. Não houve turbulência no mercado de juros, que apenas se ajustaram ao novo nível da Selic -a taxa básica definida pelo Copom. Nesta semana, as oscilações mais fortes, se ocorrerem, serão na quinta-feira, quando o BC divulgará a ata da reunião do Copom.
A ata esclarecerá os motivos da decisão e é por meio dela que o mercado avalia se está em sintonia com a avaliação da autoridade monetária ou se são necessários mais ajustes de posições.
Hoje, uma prévia do que pensam os analistas do mercado financeiro será divulgada também pelo Banco Central. O relatório Focus, liberado logo pela manhã, traz as médias das expectativas do mercado financeiro para uma série de indicadores -e elas já mostrarão o impacto da última decisão de política monetária.
Amanhã, o retrato do mercado de crédito no mês passado poderá mostrar o que tem acontecido tanto com o volume de empréstimos como com as taxas cobradas pelas instituições no mês passado. A princípio, não deve haver queda, como mostrou avaliação da consultoria Tendências publicada pela Folha na semana passada. Os dados fazem parte da Nota de Juros e Spread Bancário, também divulgada pelo BC.
Na quinta-feira, além da ata do Copom, ocorre também a reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) -órgão responsável por medidas que, como o nível da taxa de juros, também podem afetar o nível de atividade da economia. Não foram poucas as vezes, por exemplo, em que o conselho decidiu reduzir ou aumentar os depósitos compulsórios, como meio de compensar altas ou quedas menores do que o necessário das taxas de juros. Na sexta-feira, são divulgadas as contas do setor público brasileiro.

Lá fora
Nos Estados Unidos, as atenções são todas para o petróleo. Mais do que a inflação, o que preocupa são os efeitos do preços mais altos na confiança do consumidor, e portanto no consumo, e no crescimento da economia.


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