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FOCO
Cresce no Brasil a procura por carteira de empresas socialmente responsáveis
Fundos "éticos" ganham mais espaço
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quando o ABN lançou seu fundo Ethical FIA, em 1º de novembro de 2001, não faltaram comentários negativos no mercado. Dizia-se que se tratava de uma liberalidade com o objetivo de melhorar a imagem do banco.
"Foi um erro de avaliação, que
escondia um preconceito", comenta Pedro Villani, gestor do
fundo. Hoje muitas outras instituições estão seguindo essa tendência, e as empresas que fazem
parte dessas carteiras têm apresentado retorno financeiro interessante.
Já são cerca de 4.000 cotistas
com recursos investidos nos dois
produtos, o fundo Ethical FIA, dirigido ao varejo, e o Ethical FIA II,
destinado ao investidor institucional e privado, com o patrimônio dividido quase igualmente
entre os dois.
Em dois anos e dez meses, o
fundo Ethical FIA apresentou
uma rentabilidade de 122,51%, superior aos 105,75% de rentabilidade do Ibovespa (Índice da Bolsa
de Valores de São Paulo) no período, com volatilidade (oscilação
de cotas) menor que a média do
mercado. O Ethical FIA II, criado
em 6 de novembro de 2001, acumulou uma rentabilidade de
117,8%, contra 89,4% do Ibovespa
no mesmo período.
O produto encontra-se entre os
maiores fundos de renda variável.
Partiu com um patrimônio de R$
3,1 milhões em dezembro de 2001,
chegou a R$ 14,7 milhões em dezembro de 2002 e a R$ 33 milhões
no ano passado. Atualmente, os
dois produtos já somam R$ 41,4
milhões.
Pode-se investir no fundo Ethical FIA com um capital mínimo
de R$ 100. O Ethical FIA II exige
um investimento inicial bem
maior: R$ 100 mil.
Valor social
Segundo Villani, a proposta inicial não era só buscar retorno mas
também introduzir, no Brasil, a
idéia do investidor responsável.
"O investidor responsável agrega
valor social ao seu capital. Olhamos para o investidor vendo também o impacto de sua ação na sociedade", diz.
Com o segmento atraindo outros bancos, o ABN Amro ainda
vê grande potencial de crescimento. "Nosso objetivo agora é estimular o investidor institucional,
porque, através dele, vamos conseguir mais rapidamente mudar a
cultura do mercado", afirma o
executivo.
Bruno Erbiste, analista do ABN,
comenta que, ao avaliar os números em prazos mais longos, os investidores se convenceram de que
a sustentabilidade traz vantagem
competitiva às empresas que praticam a responsabilidade social e
ambiental.
"Hoje se sabe que ecoeficiência
significa retorno financeiro de
curto prazo e fácil de gerenciar e
que as práticas voltadas para a
sustentabilidade também reduzem custos e geram maior valor
para o acionista", observa.
"Os fundos socialmente responsáveis rendem bem porque as empresas cujas ações são escolhidas
têm melhores times de executivos
e há um vínculo lógico entre sustentabilidade e a existência de estratégias sólidas", afirma Erbiste.
Também se pode notar, na opinião do executivo, que essas carteiras oscilam menos. "Ao analisar os aspectos que vão influenciar decisivamente o desempenho
da empresa, o investidor vai perceber, por essa lógica, a ética como elemento essencial do negócio", acrescenta.
Carteira
A carteira dos fundos Ethical
são compostas por ações de 25
empresas diferentes, selecionadas
por um questionário que contém
94 indicadores, basicamente analisando padrões de gestão, gerenciamento de riscos, oportunidades ambientais e indicadores de
desempenho.
Entre os itens analisados estão
gestão e segurança no trabalho,
atração, desenvolvimento e retenção de talentos, direitos do trabalho e direitos humanos, relacionamento com partes interessadas
-fornecedores, clientes, comunidade e governo-, governança
corporativa transparente e equânime entre os acionistas e prestação de contas.
Os fundos Ethical reproduzem
as ações mais importantes da Bovespa, com uma coincidência de
60%. Entre as 25 empresas listadas, encontram-se Belgo Mineira,
Comgás, CST, Natura, Klabin,
Weg, Vale do Rio Doce, Itaú, Bradesco, Telesp, Telemar, Tele Centro Oeste, Randon, Marcopolo e
CCR. O critério, segundo Villani,
é diversificar a carteira, com as
melhores do setor, excluídos os
setores de alto risco, como bebidas, cigarros e armas.
Tendência
Lançado em setembro deste
ano, o Itaú Excelência Social FIA é
um dos mais recentes produtos
na linha iniciada pelo ABN Amro.
É um fundo de investimento em
ações de empresas selecionadas
por atributos como grau de transparência e segurança na divulgação de informações sobre a gestão
e a responsabilidade dos acionistas controladores perante os minoritários, práticas socialmente
responsáveis com respeito aos
empregados, consumidores, fornecedores e comunidade -além
de políticas de preservação do
ambiente.
Petrobrás, Vale do Rio Doce,
Itaú, Bradesco, Gerdau, Sadia,
Marcopolo, CPFL, Natura e Klabin são as empresas cujas ações
formam essa carteira. O valor inicial para aplicação é de R$ 1.000, e
o saldo mínimo para manutenção
do investimento é de R$ 500.
Metade da taxa de administração do fundo, de 3%, é destinada a
projetos de entidades sociais, indicadas por um conselho consultivo, que inclui, além de diretores
do Itaú, lideranças do terceiro setor, empresários com boa reputação e especialistas do mercado.
Outras instituições financeiras
do país também estão nesse nicho, como o banco Santos, que
criou o Fundo Social Pró-Amem,
um fundo de renda fixa conservador que repassa uma fatia do rendimento para a Associação de
Amigos do Menor para o Esporte
Maior e doa a taxa de administração (1,5% ao ano).
HSBC, com o FAC DI Ação Social, Caixa Econômica Federal,
com o Caixa FIF Fome Zero, e
Unibanco, com o Fundo Private
Bank de Investimento Social,
também engrossam a lista.
Nos Estados Unidos, o primeiro
fundo de ações especializado em
empresas consideradas socialmente responsáveis e respeitadoras do ambiente foi criado em
1982 pela consultora Hazel Henderson, do Calvert Group. Hoje,
esse fundo contabiliza US$ 9 bilhões de patrimônio.
(LMC)
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