São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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Uso do BNDES na crise tem limites, dizem especialistas

Economistas alertam para o risco de que o banco se torne "hospital" de empresas

Ex-presidente da instituição diz que socorro a empresas atingidas pela crise poderá esbarrar nas restrições orçamentárias do banco

Rafael Andrade - 8.nov.07/Folha Imagem
Pedestres caminham perto da entrada do prédio-sede do BNDES, no centro do Rio de Janeiro

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

O anúncio de que o BNDES poderá ajudar as empresas exportadoras que apostaram no dólar fraco por meio de derivativos reforça uma estratégia da equipe econômica: utilizar o banco público de investimento para tentar minimizar os efeitos da crise financeira.
Antes, a ministra Dilma Roussef (Casa Civil) já havia afirmado que o banco promoverá políticas anticíclicas; novas linhas de crédito a exportadores foram anunciadas; e até a participação do BNDES no pacote de ajuda às empresas do setor imobiliário foi cogitada.
Economistas consultados pela Folha afirmam que o papel do BNDES numa conjuntura como a atual é indispensável, mas alertam para alguns problemas. Entre eles, os limites orçamentários da instituição e a ameaça de que o banco retome uma prática do passado -servir como "hospital" para empresários em apuros.
"O BNDES é muito ativo, em várias frentes, mas há limitações. Seu orçamento já estava ultraestressado com o forte crescimento dos últimos dois anos", diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista-chefe da Quest Investimentos, ex-ministro das Comunicações e ex-presidente do BNDES. Ele observa que, por causa dos limites orçamentários, o banco agiu de forma "inusitada" há cerca de dois meses: "Foram ao mercado tomar dinheiro no interbancário, coisa que o banco nunca fez. Mas houve certa gritaria e recuaram". Ao concorrer com os bancos privados nos mesmos canais de obtenção de crédito, o BNDES acabaria "encarecendo" o dinheiro para as outras instituições financeiras.
Para o economista, os outros bancos públicos, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, também terão "munição limitada" na tarefa de prover liquidez e crédito: "Há limites de toda a ordem para a tarefa de substituir os bancos privados".
A hipótese "hospital" -em que o socorro a empresas circunstancialmente afetadas pela crise se transforme em prática corriqueira- é a que mais assusta o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, do Ibmec-SP: "O perigo é voltar a ser um pronto-socorro para empresários em dificuldade".
Ele considera legítimo que o governo utilize seu arsenal para combater a crise, mas diz estranhar algumas medidas. "Na construção civil, é natural que haja intervenção para evitar que projetos em andamento sejam paralisados. Mas não faz sentido que o governo se torne sócio das empresas", afirma.
O economista Fernando Holanda Barbosa, da Fundação Getulio Vargas, defende as medidas anunciadas até aqui: "São transitórias e levam em conta um pragmatismo necessário".
Também professora da FGV, a economista Eliana Cardoso diz que ainda é cedo para verificar a eficácia das medidas. "É uma crise diferente. As políticas utilizadas nas últimas décadas não deram resultado. E lá fora os bancos centrais não estão poupando munição", disse.


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