São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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Após recorde, Vale prevê lucro menor no quarto trimestre

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Um dia após surpreender o mercado ao anunciar um lucro recorde de US$ 12,4 bilhões no terceiro trimestre, a Vale traçou ontem cenário sombrio para o fim do ano: resultados mais modestos no último trimestre, demanda mais fraca especialmente por causa da China e parada de produção em unidades.
Segundo o presidente da Vale, Roger Agnelli, a hora é de "acalmar um pouco, colocar a casa em ordem e se preparar para 2009", depois dos resultados do terceiro trimestre, que não se repetirão com a mesma intensidade. "Teremos um quatro trimestre que não deverá ser tão brilhante quanto foi o terceiro", disse.
Agnelli afirmou que "a demanda certamente está mais fraca" e que há "cortes de produção [de aço] em tudo quanto é lado". "A Vale não está isolada do contexto global. Isso poderá ter impacto no volume vendido no último trimestre do ano, até porque não vamos vender a qualquer preço."
Nessa fase de "arrumação", diz, a Vale reduziu significativamente a produção de níquel em duas unidades -uma na China e outra na Indonésia. E não descarta cortar a extração de minérios em outros locais de custos mais elevados.
Esse cenário menos amistoso, segundo Agnelli, foi detonado pelo "forte tranco" da economia da China, principal mercado da mineradora brasileira -17% das vendas.
Segundo Agnelli, o crescimento chinês deve se desacelerar dos 12% ao ano para 7% a 9% em 2009. Para ele, alguns setores serão ainda mais afetados, como o siderúrgico (principal comprador da Vale), que anunciou cortes de produção.
No Brasil, diz, as grandes siderúrgicas ainda não reduziram a produção -a crise afetou apenas as pequenas produtoras de ferro-gusa de Minas Gerais, Maranhão e Pará, também clientes da Vale.
No caso chinês, afirma, existem "enormes estoques de minério de ferro que serão desovados com grande prejuízo." De olho na demanda aquecida, muitas empresas compraram minério, que terão agora de "vender a qualquer preço", segundo o executivo.
Agnelli disse que a Vale prefere, porém, deixar de vender do que entregar seu minério barato. "Mesmo que no curto prazo o mercado se enfraqueça um pouco, nós temos saúde, fôlego e músculos para poder passar essa fase com muita tranqüilidade e ficarmos mais fortes no final dessa crise."

Investimentos
Para tocar o plano de investimento de US$ 14,2 bilhões, a Vale tem disponível linhas de crédito aprovadas de US$ 27 bilhões, além de US$ 15,3 bilhões em recursos em caixa.
Tal situação, diz Agnelli, permite tocar projetos de expansão e, se necessário, financiar até a compra de empresas. "Aquisições são questão de oportunidade. Não é a nossa prioridade, mas a Vale está pronta até para isso."
Entre os principais projetos da companhia para 2009, Agnelli citou as minas de carão de Moatize (Moçambique), de ferro de Serra Sul e a de cobre de Salobo (ambas no Pará).


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