São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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Medo da recessão avança e derruba Bolsas

Com os investidores vendendo tudo o que têm para pagar dívidas, principais mercados mundiais tiveram fortes baixas

Europa teve novos sinais de recessão: no 3º tri, mais 217 mil perderam emprego na Espanha e a economia do Reino Unido caiu 0,5%

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI

A explicação de que a recessão global à vista era a responsável pela sangria nas Bolsas de Valores continuou a ser usada ontem -mais um dia de banho de sangue-, mas parecia tão insuficiente que a setorista da TV Bloomberg na Bolsa de Nova York ousou dar um passo além: "Parece que o mercado está precificando uma depressão", soltou no meio da tarde (em Nova York), quando as Bolsas européias já estavam fechadas -todas no vermelho.
Nova York não escapou: fechou com queda de 3,59%, quase metade do desastre -mais um- que foi a Bolsa de São Paulo (6,91%)
Antes, os mercados de ações asiáticos conheciam seu próprio massacre, a ponto de Tóquio ter recuado 9,6%, perdendo a marca psicologicamente relevante dos 8.000 pontos, pela primeira vez desde 2003.
As Bolsas européias apresentam recuos semelhantes: Madri perdeu 5,2%, fechando sua segunda pior semana na história e elevando a 44,98% a hemorragia no ano.
Em Frankfurt, a queda de 4,96% levava o índice para o ponto mais baixo em três anos.
Londres chegou a perder 8%, mas acabou fechando com recuo de 5%, pouco mais que os 4,96% de Milão.
Na Rússia, foi pior: a forte queda (14,24%) levou à paralisação dos negócios, que só reabrirão na terça-feira. Também na Romênia o pregão foi interrompido.

Todos vendem tudo
A explicação técnica para o banho de sangue veio da ministra francesa da Economia, Christine Lagarde: "Trata-se de um movimento profundo de desalavancagem", ou seja, todo mundo está vendendo tudo o que pode para pagar dívidas.
Mas é também uma fuga para a segurança, ainda que o rendimento seja bem menor -ou nulo. "Todo mundo não tem outra idéia na cabeça do que se livrar de todos os ativos de risco, como as ações, e meter o dinheiro que resta em lugar seguro", disse ao "Monde" Robert Halver, especialista em ações do Baader Bank.
Há "lugares seguros" que soam estranhos, como o iene japonês, já que o país também está a caminho da recessão. Mas, como se trata tradicionalmente de um refúgio, investidores estão voltando a comprá-lo, o que fez com que a moeda japonesa se tornasse a única, entre as principais, a se valorizar ante o dólar -este sim o refúgio de segurança por excelência, mesmo que a crise tenha começado nos Estados Unidos.

Petróleo cai
Outro evento estranho se deu com o petróleo: a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) resolveu ontem cortar a produção em 1,5 milhão de barris por dia. A cota anterior era de 28,8 milhões de barris por dia.
Seu secretário-geral, Abdalla Salem El-Badri, disse estar certo de que "esse nível de corte afetará os mercados". Afetou: o preço do barril caiu ao invés de subir. Fácil de explicar: mesmo tendo a oferta sido cortada, a demanda o será mais ainda ante o espectro de uma recessão global.
A propósito, saiu ontem a primeira medição das perdas na economia real neste "outubro negro": a economia dos 15 países que usam o euro se contraiu a uma velocidade nunca vista desde o lançamento da moeda, em 1999. É o que mostra o índice dos gerentes de compra -exatamente as pessoas que movem as engrenagens da economia real.
Outro número dramático, embora limitado ao período julho/setembro: o desemprego na Espanha aumentou em 217,2 mil pessoas na comparação com os três meses anteriores, com o que o nível de desocupação subiu a 11,33% (2,6 milhões de pessoas). É a primeira vez que há destruição de emprego em 14 anos.
A tendência é piorar, diz o economista-chefe da Osce (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa), Klaus Schmidt-Hebbel: "Muitos países estarão em recessão mais cedo ou mais tarde, e é provável que a recuperação seja mais lenta do que nas crises de anos anteriores".

Recessão no Reino Unido
Um dos países que, antes cedo que tarde, estarão entrando em recessão é o Reino Unido. A economia britânica encolheu 0,5% no trimestre julho/setembro. É o primeiro declínio desde 1992 e a maior queda trimestral desde 1990.
Essas comparações ajudam a entender o pânico nos mercados: recessão é uma vaga lembrança para a maioria dos países ricos e mesmo para alguns emergentes e até pobres. Os cinco anos até o final de 2007 foram os de maior crescimento qüinqüenal na história.
É lógico que a dor de um fenômeno que parecia desterrado e a velocidade com que está se instalando gerem reações alarmadas e alarmistas.


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