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Medo da recessão avança e derruba Bolsas
Com os investidores vendendo tudo o que têm para pagar dívidas, principais mercados mundiais tiveram fortes baixas
Europa teve novos sinais de recessão: no 3º tri, mais 217 mil perderam emprego na Espanha e a economia
do Reino Unido caiu 0,5%
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
A explicação de que a recessão global à vista era a responsável pela sangria nas Bolsas de
Valores continuou a ser usada
ontem -mais um dia de banho
de sangue-, mas parecia tão insuficiente que a setorista da TV
Bloomberg na Bolsa de Nova
York ousou dar um passo além:
"Parece que o mercado está
precificando uma depressão",
soltou no meio da tarde (em
Nova York), quando as Bolsas
européias já estavam fechadas
-todas no vermelho.
Nova York não escapou: fechou com queda de 3,59%, quase metade do desastre -mais
um- que foi a Bolsa de São
Paulo (6,91%)
Antes, os mercados de ações
asiáticos conheciam seu próprio massacre, a ponto de Tóquio ter recuado 9,6%, perdendo a marca psicologicamente
relevante dos 8.000 pontos, pela primeira vez desde 2003.
As Bolsas européias apresentam recuos semelhantes: Madri
perdeu 5,2%, fechando sua segunda pior semana na história
e elevando a 44,98% a hemorragia no ano.
Em Frankfurt, a queda de
4,96% levava o índice para o
ponto mais baixo em três anos.
Londres chegou a perder 8%,
mas acabou fechando com recuo de 5%, pouco mais que os
4,96% de Milão.
Na Rússia, foi pior: a forte
queda (14,24%) levou à paralisação dos negócios, que só reabrirão na terça-feira. Também
na Romênia o pregão foi interrompido.
Todos vendem tudo
A explicação técnica para o
banho de sangue veio da ministra francesa da Economia,
Christine Lagarde: "Trata-se de
um movimento profundo de
desalavancagem", ou seja, todo
mundo está vendendo tudo o
que pode para pagar dívidas.
Mas é também uma fuga para
a segurança, ainda que o rendimento seja bem menor -ou
nulo. "Todo mundo não tem
outra idéia na cabeça do que se
livrar de todos os ativos de risco, como as ações, e meter o dinheiro que resta em lugar seguro", disse ao "Monde" Robert
Halver, especialista em ações
do Baader Bank.
Há "lugares seguros" que
soam estranhos, como o iene
japonês, já que o país também
está a caminho da recessão.
Mas, como se trata tradicionalmente de um refúgio, investidores estão voltando a comprá-lo, o que fez com que a moeda
japonesa se tornasse a única,
entre as principais, a se valorizar ante o dólar -este sim o refúgio de segurança por excelência, mesmo que a crise tenha
começado nos Estados Unidos.
Petróleo cai
Outro evento estranho se
deu com o petróleo: a Opep
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo) resolveu ontem cortar a produção
em 1,5 milhão de barris por dia.
A cota anterior era de 28,8 milhões de barris por dia.
Seu secretário-geral, Abdalla
Salem El-Badri, disse estar certo de que "esse nível de corte
afetará os mercados". Afetou: o
preço do barril caiu ao invés de
subir. Fácil de explicar: mesmo
tendo a oferta sido cortada, a
demanda o será mais ainda ante o espectro de uma recessão
global.
A propósito, saiu ontem a
primeira medição das perdas
na economia real neste "outubro negro": a economia dos 15
países que usam o euro se contraiu a uma velocidade nunca
vista desde o lançamento da
moeda, em 1999. É o que mostra o índice dos gerentes de
compra -exatamente as pessoas que movem as engrenagens da economia real.
Outro número dramático,
embora limitado ao período julho/setembro: o desemprego
na Espanha aumentou em
217,2 mil pessoas na comparação com os três meses anteriores, com o que o nível de desocupação subiu a 11,33% (2,6 milhões de pessoas). É a primeira
vez que há destruição de emprego em 14 anos.
A tendência é piorar, diz o
economista-chefe da Osce (Organização para a Segurança e a
Cooperação na Europa), Klaus
Schmidt-Hebbel: "Muitos países estarão em recessão mais
cedo ou mais tarde, e é provável
que a recuperação seja mais
lenta do que nas crises de anos
anteriores".
Recessão no Reino Unido
Um dos países que, antes cedo que tarde, estarão entrando
em recessão é o Reino Unido. A
economia britânica encolheu
0,5% no trimestre julho/setembro. É o primeiro declínio
desde 1992 e a maior queda trimestral desde 1990.
Essas comparações ajudam a
entender o pânico nos mercados: recessão é uma vaga lembrança para a maioria dos países ricos e mesmo para alguns
emergentes e até pobres. Os
cinco anos até o final de 2007
foram os de maior crescimento
qüinqüenal na história.
É lógico que a dor de um fenômeno que parecia desterrado e a velocidade com que está
se instalando gerem reações
alarmadas e alarmistas.
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