São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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PIB britânico encolhe pela 1ª vez em 16 anos

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

O resultado negativo da economia do Reino Unido no terceiro trimestre deste ano foi bem pior do que previa a maioria dos analistas e deu indícios de que a recessão será longa e deve durar pelo menos até o final do ano que vem.
O PIB encolheu 0,5% de julho a setembro e deve se retrair novamente no último trimestre do ano, o que deixará a economia britânica, a segunda maior da Europa, oficialmente em recessão. Foi a primeira queda em 16 anos, colocando fim a um dos mais longos períodos de expansão da economia.
O novo sinal de que o país está à beira da recessão derrubou os mercados mais uma vez. O principal índice da Bolsa londrina fechou em baixa de 5%, depois de ter caído mais de 9% durante a manhã, quando saiu o número do PIB. O atual patamar é o mais baixo em cinco anos e meio.
"O crescimento negativo no próximo ano já está dado, resta saber qual será a profundidade", disse à Folha Neil Prothero, analista da Economist In- telligence Unit (do grupo que edita a revista "The Economist"). Especialista em Reino Unido, ele estima uma retração de 1% a 2% no ano que vem e avalia que a recessão pode entrar em 2010. "É certamente possível. Depende muito do cenário global", afirmou.
Um dos problemas é que o resultado de ontem incluiu apenas uma parte do impacto da crise financeira em potência total, que começou para valer em setembro (logo, os resultados de julho e agosto não tinham sido afetados em cheio).
"Esse período só inclui o primeiro pedacinho da crise bancária. Com certeza vai ficar pior daqui para a frente. Não precisamos nem esperar, podemos dizer que estamos em recessão e que será bem mais feio do que imaginávamos", disse o editor de economia do "Financial Times", Chris Giles.
Desde o início da década de 1990, a economia britânica não enfrenta uma recessão. Até esse novo resultado, o PIB tinha crescido 63 trimestres seguidos, antes de se estagnar no segundo trimestre deste ano e mergulhar no terceiro. A queda de 0,5% é a maior desde o último trimestre de 1990.
Durante o dia, economistas foram unânimes em avaliar o resultado como bem pior que o esperado. "A queda é equivalente a tudo o que esperávamos para a segunda metade do ano", disse Simon Hayes, economista do Barclays, um dos que se revezaram na BBC.
A retração ocorreu em praticamente todos os setores da economia. O de serviços, que responde por cerca de três quartos do PIB britânico, se contraiu em 0,4%. Hotéis e restaurantes foram alguns dos mais atingidos, com recuo de quase 2%. O setor de construção, que já tinha encolhido 0,5% no segundo trimestre, caiu agora mais 0,8%.
O novo número do PIB é apenas o mais eloqüente de uma série de indicadores negativos divulgados nos últimos dias. O desemprego subiu de 5,2% para 5,7% no mês passado, a maior alta em um mês em 17 anos, e o número de desempregados no país pode chegar a 2 milhões antes do final do ano.
O ministro das Finanças, Alistair Darling, admitiu que é um "período difícil", mas disse que o governo vai ajudar pessoas e negócios em problemas.
"Vivi as recessões dos anos 70, 80 e 90. A diferença agora é que estamos determinados a fazer tudo que pudermos o mais rápido possível para ajudar quem perdeu o emprego a voltar a trabalhar", afirmou.
A expectativa é que os juros voltem a cair em novembro, em pelo menos 0,50 ponto percentual, apesar de a inflação estar bem acima da meta.


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