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"Sobra" 1 milhão de empregos qualificados
País registrou no ano passado o pior desempenho na recolocação de trabalhadores desde 2000, com índice de 47%
Vagas não são preenchidas por falta de qualificação, diz ministério do Trabalho;
faltam engenheiros e motoristas de carreta
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil registrou em 2007 o
pior desempenho na inserção
ou recolocação de trabalhadores no mercado formal dos últimos anos. Dados do Sine (Sistema Nacional de Empregos) obtidos pela Folha mostram que
o sistema público de recrutamento captou no ano passado o
número recorde de 1,927 milhão de vagas no mercado, mas
somente 907 mil foram preenchidas pelo sistema.
Sobrou 1,02 milhão de postos
-volume recorde. O índice de
recolocação dos trabalhadores
ficou em 47%, o que é o menor
percentual desde 2000.
Na avaliação do Ministério
do Trabalho, que é o responsável pelo Sine, a falta de qualificação dos trabalhadores foi o
principal obstáculo para a
(re)inserção da mão-de-obra
no mercado formal.
A sobra de vagas ocorre num
momento de expansão do emprego. Nesta semana, o IBGE
divulgou a taxa de desemprego
nas seis principais regiões metropolitanas do país, que fechou o ano passado em 9,3%
-o menor nível anual da série
histórica iniciada em 2002.
Entre as ocupações em que
houve sobra de vagas em 2007
estão motoristas de carretas e
engenheiros. No caso dos "carreteiros", só 11% das vagas oferecidas no Sine foram preenchidas. A atividade influencia
no sistema de transporte de
carga e pode comprometer o
escoamento da produção.
"O empresário não vai colocar um caminhão que vale R$
400 mil e uma carga ainda mais
valiosa nas mãos de um trabalhador sem qualificação para a
tarefa", diz Ezequiel Nascimento, assessor especial do ministério. Entre os engenheiros,
a falta de profissionais qualificados ocorreu principalmente
no Estado de São Paulo.
A atividade é crucial para o
crescimento econômico, pois
afeta projetos de infra-estrutura. O ministério destaca que a
escassez de mão-de-obra qualificada é maior nos setores que
estão sendo reativados, como a
indústria naval, ou naqueles
que respondem mais rapidamente ao crescimento econômico, como a indústria de base.
"Se queremos crescer, é preciso superar a questão da baixa
qualificação. Se não fizermos
isso, essa carência de trabalhador qualificado poderá bloquear ou atenuar as possibilidades de crescimento da economia", afirma o professor da
Unicamp Cláudio Dedecca.
O especialista avalia, porém,
que os índices de recolocação
por parte de sistemas públicos
de emprego, não apenas no
Brasil como em outros países,
não são muito elevados, se situando entre 50% e 60%.
"Além disso, não dá para termos esperanças. As empresas
usam diferentes formas de recrutar trabalhadores no mercado. Além do sistema público,
há o privado e a contratação direta", afirma.
Dedecca diz que o país atravessou longo período sem crescimento contínuo do mercado
de trabalho formal, o que teria
"sucateado" as vagas existentes
e também levado as empresas a
não investir em treinamento.
No ano passado, o Ministério
do Trabalho direcionou R$ 114
milhões para programas de
qualificação. A Folha não conseguiu levantar o quanto foi
efetivamente gasto.
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