São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Sobra" 1 milhão de empregos qualificados

País registrou no ano passado o pior desempenho na recolocação de trabalhadores desde 2000, com índice de 47%

Vagas não são preenchidas por falta de qualificação, diz ministério do Trabalho; faltam engenheiros e motoristas de carreta

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil registrou em 2007 o pior desempenho na inserção ou recolocação de trabalhadores no mercado formal dos últimos anos. Dados do Sine (Sistema Nacional de Empregos) obtidos pela Folha mostram que o sistema público de recrutamento captou no ano passado o número recorde de 1,927 milhão de vagas no mercado, mas somente 907 mil foram preenchidas pelo sistema.
Sobrou 1,02 milhão de postos -volume recorde. O índice de recolocação dos trabalhadores ficou em 47%, o que é o menor percentual desde 2000.
Na avaliação do Ministério do Trabalho, que é o responsável pelo Sine, a falta de qualificação dos trabalhadores foi o principal obstáculo para a (re)inserção da mão-de-obra no mercado formal.
A sobra de vagas ocorre num momento de expansão do emprego. Nesta semana, o IBGE divulgou a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país, que fechou o ano passado em 9,3% -o menor nível anual da série histórica iniciada em 2002.
Entre as ocupações em que houve sobra de vagas em 2007 estão motoristas de carretas e engenheiros. No caso dos "carreteiros", só 11% das vagas oferecidas no Sine foram preenchidas. A atividade influencia no sistema de transporte de carga e pode comprometer o escoamento da produção.
"O empresário não vai colocar um caminhão que vale R$ 400 mil e uma carga ainda mais valiosa nas mãos de um trabalhador sem qualificação para a tarefa", diz Ezequiel Nascimento, assessor especial do ministério. Entre os engenheiros, a falta de profissionais qualificados ocorreu principalmente no Estado de São Paulo.
A atividade é crucial para o crescimento econômico, pois afeta projetos de infra-estrutura. O ministério destaca que a escassez de mão-de-obra qualificada é maior nos setores que estão sendo reativados, como a indústria naval, ou naqueles que respondem mais rapidamente ao crescimento econômico, como a indústria de base.
"Se queremos crescer, é preciso superar a questão da baixa qualificação. Se não fizermos isso, essa carência de trabalhador qualificado poderá bloquear ou atenuar as possibilidades de crescimento da economia", afirma o professor da Unicamp Cláudio Dedecca.
O especialista avalia, porém, que os índices de recolocação por parte de sistemas públicos de emprego, não apenas no Brasil como em outros países, não são muito elevados, se situando entre 50% e 60%.
"Além disso, não dá para termos esperanças. As empresas usam diferentes formas de recrutar trabalhadores no mercado. Além do sistema público, há o privado e a contratação direta", afirma.
Dedecca diz que o país atravessou longo período sem crescimento contínuo do mercado de trabalho formal, o que teria "sucateado" as vagas existentes e também levado as empresas a não investir em treinamento.
No ano passado, o Ministério do Trabalho direcionou R$ 114 milhões para programas de qualificação. A Folha não conseguiu levantar o quanto foi efetivamente gasto.


Texto Anterior: Márcio Holland: A crise e a hipótese indefensável
Próximo Texto: Governo quer convênio com o Sistema S
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.