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CONSUMO
Brasileiros também cortam bebidas e artigos de higiene, diz pesquisa
Crise diminui compra de alimento
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O brasileiro está comendo menos. Em períodos de forte retração econômica, o consumidor
tende a cortar da lista de compras
itens de valor unitário mais elevado, como eletrônicos, e gasta basicamente com alimentação, bebidas e itens de higiene e limpeza.
Agora, nem mesmo isso.
No quarto trimestre de 2002,
houve queda de 7% no volume
desses itens vendidos em relação
a meses anteriores. O valor gasto
nas compras, porém, subiu 13%.
A pesquisa é da LatinPanel/Ibope e foi apresentada ontem. O resultado é obtido em levantamento
da empresa e realizado em 6.000
famílias no Brasil. A empresa
acompanha o gasto médio e o número de itens comprados pelos
consumidores no ano. Portanto é
possível ver a diferença antes e
após a escalada do dólar.
Come-se menos e troca-se mais
de produtos. Explica-se: em outra
análise da LatinPanel, com base
nos dados de 1998 e 2002, verifica-se que a cesta de consumo do brasileiro de classe média mudou.
Em 1998, um entre cada cinco
itens comprados tinha preço baixo -inferior ao praticado pelo
mercado. Em 2002, um em cada
quatro tem essa característica.
Produtos de preço elevado, acima da média, que representavam
37% da cesta, passaram a representar 33% em 2002.
Diversos fatores explicam as
mudanças: 1) renda em queda
-o rendimento médio da população ocupada na região metropolitana de São Paulo caiu 8,3%
em 2002 sobre 2001; 2) desemprego elevado -deve bater o recorde
na história do país em 2003; 3) variação cambial.
A disparada na cotação da moeda estrangeira tornou mais caros
os insumos importados utilizados
na produção de alimentos, bebidas e itens de limpeza e higiene.
Foram esses os setores analisados
pela LatinPanel, divididos em 59
categorias (desde sabão em pedra
até sobremesa pronta).
No estudo, o alvo foi a classe
média, que recebe de quatro a dez
salários mínimos (R$ 800 a R$
2.000). Ela sentiu um peso maior
nas contas em 2002 devido à elevação de 15% nos gastos com alimentos. Nas outras classes, a alta
média foi de 13%.
O repique inflacionário explica
o aumento. Em 2002, a taxa inflacionária apurada pela Fipe ficou
em 9,9%. Em janeiro de 2003, bateu o recorde para o mês desde o
início do Plano Real.
Salário curto e preço alto fizeram as empresas perder a fidelidade do consumidor. Segundo a
consultoria, 90% das marcas líderes -no mercado há Nestlé, Sadia, entre outras- perderam exclusividade na hora da compra,
na avaliação de compradores da
classe média. "Até experimenta-se o produto, mas não dá para levar para casa todo mês", diz Sonia
Bueno, diretora da LatinPanel.
Na hora da compra, as grandes
redes não são a primeira opção.
"De tudo que o consumidor compra, só 15% saem dessas lojas."
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