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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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CONSUMO

Brasileiros também cortam bebidas e artigos de higiene, diz pesquisa

Crise diminui compra de alimento

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O brasileiro está comendo menos. Em períodos de forte retração econômica, o consumidor tende a cortar da lista de compras itens de valor unitário mais elevado, como eletrônicos, e gasta basicamente com alimentação, bebidas e itens de higiene e limpeza. Agora, nem mesmo isso.
No quarto trimestre de 2002, houve queda de 7% no volume desses itens vendidos em relação a meses anteriores. O valor gasto nas compras, porém, subiu 13%.
A pesquisa é da LatinPanel/Ibope e foi apresentada ontem. O resultado é obtido em levantamento da empresa e realizado em 6.000 famílias no Brasil. A empresa acompanha o gasto médio e o número de itens comprados pelos consumidores no ano. Portanto é possível ver a diferença antes e após a escalada do dólar.
Come-se menos e troca-se mais de produtos. Explica-se: em outra análise da LatinPanel, com base nos dados de 1998 e 2002, verifica-se que a cesta de consumo do brasileiro de classe média mudou. Em 1998, um entre cada cinco itens comprados tinha preço baixo -inferior ao praticado pelo mercado. Em 2002, um em cada quatro tem essa característica.
Produtos de preço elevado, acima da média, que representavam 37% da cesta, passaram a representar 33% em 2002.
Diversos fatores explicam as mudanças: 1) renda em queda -o rendimento médio da população ocupada na região metropolitana de São Paulo caiu 8,3% em 2002 sobre 2001; 2) desemprego elevado -deve bater o recorde na história do país em 2003; 3) variação cambial.
A disparada na cotação da moeda estrangeira tornou mais caros os insumos importados utilizados na produção de alimentos, bebidas e itens de limpeza e higiene. Foram esses os setores analisados pela LatinPanel, divididos em 59 categorias (desde sabão em pedra até sobremesa pronta).
No estudo, o alvo foi a classe média, que recebe de quatro a dez salários mínimos (R$ 800 a R$ 2.000). Ela sentiu um peso maior nas contas em 2002 devido à elevação de 15% nos gastos com alimentos. Nas outras classes, a alta média foi de 13%.
O repique inflacionário explica o aumento. Em 2002, a taxa inflacionária apurada pela Fipe ficou em 9,9%. Em janeiro de 2003, bateu o recorde para o mês desde o início do Plano Real.
Salário curto e preço alto fizeram as empresas perder a fidelidade do consumidor. Segundo a consultoria, 90% das marcas líderes -no mercado há Nestlé, Sadia, entre outras- perderam exclusividade na hora da compra, na avaliação de compradores da classe média. "Até experimenta-se o produto, mas não dá para levar para casa todo mês", diz Sonia Bueno, diretora da LatinPanel.
Na hora da compra, as grandes redes não são a primeira opção. "De tudo que o consumidor compra, só 15% saem dessas lojas."


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