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LUÍS NASSIF
As saídas para o caso AES
Não será fácil para o
BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social) escolher a forma de negociar com a AES.
A matriz norte-americana, a
AES Corp., não tem nenhuma
obrigação legal nas dívidas com
o BNDES. As operações foram
firmadas por duas holdings juridicamente independentes, as
AES Elpa e AES Transgás. Por
outro lado, no acordo de reestruturação da dívida com os
credores norte-americanos, a
matriz foi proibida de remeter
capital para fora do país.
Se executa as garantias, o
BNDES terá que realizar o prejuízo. Se não executa, correrá o
risco de a empresa não conseguir recursos para quitar seus
passivos.
Foram concedidos dois financiamentos ao grupo.
O primeiro foi de US$ 888 milhões para a Lightgás (hoje AES
Elpa), em 1998. Serviu para financiar metade do controle da
Eletropaulo, vendida na época
por US$ 1,8 bilhão. O negócio incluiu 78% das ações ON (controle) e 31% do capital total.
A AES Elpa ainda deve US$
542 milhões desse financiamento -US$ 85 milhões que não foram pagos, US$ 228,5 milhões
que vencem em abril e US$
228,5 milhões que vencem em
dezembro.
Ao contrário do que se afirma,
as garantias não foram ruins.
Entraram as próprias ações ON
da Eletropaulo, a usina de Uruguaiana (comprada por US$
300 milhões) e a AES Sul (comprada por US$ 800 milhões). Somadas ao preço mínimo da Eletropaulo, as garantias chegavam a duas vezes o valor financiado.
As crises cambial e energética
aumentaram o valor da dívida
e depreciaram as garantias. O
preço de mercado da Eletropaulo é estimado em US$ 254 milhões. As outras duas, juntas,
devem render ao BNDES US$
300 milhões. Paga-se o que se
deve. A AES Sul foi comprada
por R$ 1,56 bilhão, o que, em
1997, equivalia a US$ 1,37 bilhão.
O problema é o segundo empréstimo. Foi de US$ 1,2 bilhão
para a AES Transgás adquirir
64% das ações PN e 39% do capital total da própria Eletropaulo. As garantias dadas na época
foram apenas as próprias ações
preferenciais, e nada mais.
Hoje a AES Transgás deve
US$ 636 milhões ao BNDES,
US$ 336 milhões vencendo em
28 de fevereiro e US$ 300 milhões em janeiro do ano que
vem. O valor de mercado da
parcela da Transgás na Eletropaulo é estimado em US$ 120
milhões, o que deixa um rombo
de US$ 516 milhões para o
BNDES. Mas leve-se em conta
que as ações, hoje em dia, estão
bastante depreciadas. Hoje, as
ações PN da AES Eletrobrás valem R$ 20. O Unibanco tem como preço alvo R$ 76.
O BNDES tem duas alternativas: ou executa as garantias ou
negocia. Em caso de execução
da dívida, o BNDES realiza um
prejuízo agora de US$ 500 milhões, que se reduzirá na medida em que os preços se recuperem.
Em caso de renegociação, as
alternativas são variadas. A cereja do bolo que o BNDES está
de olho é a AES Tietê. Mas a empresa não estava nas garantias e
por isso não pode ser tomada de
volta. É a única empresa realmente saudável do grupo no
Brasil.
Hoje, o patrimônio das duas
holdings brasileiras é negativo
em US$ 1 bilhão.
E-mail -
lnassif@uol.com.br
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