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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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LUÍS NASSIF

As saídas para o caso AES

Não será fácil para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) escolher a forma de negociar com a AES.
A matriz norte-americana, a AES Corp., não tem nenhuma obrigação legal nas dívidas com o BNDES. As operações foram firmadas por duas holdings juridicamente independentes, as AES Elpa e AES Transgás. Por outro lado, no acordo de reestruturação da dívida com os credores norte-americanos, a matriz foi proibida de remeter capital para fora do país.
Se executa as garantias, o BNDES terá que realizar o prejuízo. Se não executa, correrá o risco de a empresa não conseguir recursos para quitar seus passivos.
Foram concedidos dois financiamentos ao grupo.
O primeiro foi de US$ 888 milhões para a Lightgás (hoje AES Elpa), em 1998. Serviu para financiar metade do controle da Eletropaulo, vendida na época por US$ 1,8 bilhão. O negócio incluiu 78% das ações ON (controle) e 31% do capital total.
A AES Elpa ainda deve US$ 542 milhões desse financiamento -US$ 85 milhões que não foram pagos, US$ 228,5 milhões que vencem em abril e US$ 228,5 milhões que vencem em dezembro.
Ao contrário do que se afirma, as garantias não foram ruins. Entraram as próprias ações ON da Eletropaulo, a usina de Uruguaiana (comprada por US$ 300 milhões) e a AES Sul (comprada por US$ 800 milhões). Somadas ao preço mínimo da Eletropaulo, as garantias chegavam a duas vezes o valor financiado.
As crises cambial e energética aumentaram o valor da dívida e depreciaram as garantias. O preço de mercado da Eletropaulo é estimado em US$ 254 milhões. As outras duas, juntas, devem render ao BNDES US$ 300 milhões. Paga-se o que se deve. A AES Sul foi comprada por R$ 1,56 bilhão, o que, em 1997, equivalia a US$ 1,37 bilhão.
O problema é o segundo empréstimo. Foi de US$ 1,2 bilhão para a AES Transgás adquirir 64% das ações PN e 39% do capital total da própria Eletropaulo. As garantias dadas na época foram apenas as próprias ações preferenciais, e nada mais.
Hoje a AES Transgás deve US$ 636 milhões ao BNDES, US$ 336 milhões vencendo em 28 de fevereiro e US$ 300 milhões em janeiro do ano que vem. O valor de mercado da parcela da Transgás na Eletropaulo é estimado em US$ 120 milhões, o que deixa um rombo de US$ 516 milhões para o BNDES. Mas leve-se em conta que as ações, hoje em dia, estão bastante depreciadas. Hoje, as ações PN da AES Eletrobrás valem R$ 20. O Unibanco tem como preço alvo R$ 76.
O BNDES tem duas alternativas: ou executa as garantias ou negocia. Em caso de execução da dívida, o BNDES realiza um prejuízo agora de US$ 500 milhões, que se reduzirá na medida em que os preços se recuperem.
Em caso de renegociação, as alternativas são variadas. A cereja do bolo que o BNDES está de olho é a AES Tietê. Mas a empresa não estava nas garantias e por isso não pode ser tomada de volta. É a única empresa realmente saudável do grupo no Brasil.
Hoje, o patrimônio das duas holdings brasileiras é negativo em US$ 1 bilhão.

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