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São Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 2003

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GUERRA À VISTA

Embarques marítimos para o Japão já custam 55,5% mais e para a Europa, mais 50%; produtos ficam retidos

Conflito iminente eleva frete para exportação

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A ameaça de guerra entre Estados Unidos e Iraque já começa a prejudicar as exportações brasileiras. O preço do frete marítimo deu um grande salto nas últimas semanas e atrasou o embarque de várias encomendas de commodities do Brasil.
Segundo a Folha apurou, há cerca de um mês o frete marítimo para o Japão custava US$ 9 por tonelada. Devido à ameaça de guerra, subiu para US$ 14 (mais 55,5%). Para a Europa, o frete pulou de US$ 6 para US$ 9 por tonelada (mais 50%).
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do grupo Votorantim, afirmou que a CBA (Companhia Brasileira de Alumínio) já deixou de exportar, nos últimos dias, US$ 10 milhões em alumínio devido ao aumento do frete. "Nossos clientes dizem que não vão mais comprar os produtos com o atual preço do frete", disse Ermírio.
A CBA tinha um embarque previsto de 8.000 toneladas de alumínio no último dia 21, pelo porto de Santos, mas só foram embarcadas 2.000 toneladas. As 6.000 toneladas restantes estão nos armazéns portuários.
Ermírio disse que os contratos não chegaram a ser cancelados. Os importadores apenas não contrataram os navios para embarcar os produtos e a justificativa foi o aumento do preço do frete. Nas transações comerciais, esses custos são de responsabilidade dos importadores.
De acordo com o que a Folha apurou, são vários os motivos que levaram ao aumento do preço do frete. Em primeiro lugar, com a ameaça de guerra, aumenta o preço dos seguros marítimos, o que faz com que os fretes subam naturalmente. Na Guerra do Golfo Pérsico, em 91, vários navios ficaram retidos na região do conflito.
Além disso, há uma procura muito grande por parte dos Estados Unidos por navios para atender os cerca de 150 mil soldados que estão no Golfo, o que também ajuda a encarecer o preço dos fretes.
"O aumento do preço do frete será inevitável", diz Fernando Vianna, presidente da Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), que administra o porto de Santos.
De acordo com Vianna, em janeiro, os números registrados pelo porto ainda não mostram os reflexos dessa queda na exportação que começa a ser sentida por algumas empresas por conta do aumento do preço do frete marítimo.
Com 3,6 milhões de toneladas movimentadas pelo porto de Santos, janeiro registrou crescimento de 6,61% em relação ao mesmo mês do ano passado.
De acordo com José Manoel da Silva, presidente da Transkem, uma das maiores operadoras de carga do porto de Santos, esse movimento de queda no embarque começou a ocorrer somente há duas semanas. Nesse período, segundo ele, cerca de dez navios, de diversas regiões do planeta, deixaram de atracar em Santos.
Para alguns especialistas ouvidos pela Folha, o aumento no preço do frete pode ser um dos motivos para a queda na média diária das exportações pela segunda semana consecutiva.
Segundo números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior na segunda-feira, a média diária das exportações ficou em US$ 239 milhões na semana passada, com redução de 5,7% em relação à semana anterior.
De acordo com o ministério, essa queda se concentrou em celulose, açúcar e alumínio. Mesmo assim, no ano, o superávit da balança comercial já atingiu US$ 2,079 bilhões.


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