DA REPORTAGEM LOCAL

A Eletropaulo teve um prejuízo líquido de R$ 871 milhões em 2002, conforme informações da ata da reunião do Conselho de Administração da companhia divulgada ontem. No ano anterior, a empresa havia obtido lucro de R$ 567 milhões.
A distribuidora de energia fechou o ano passado com um dívida total de R$ 6,27 bilhões, segundo informações do seu balanço aprovado no início desta semana e que até ontem não havia sido oficialmente divulgado. Dados obtidos pela Folha mostram que esse endividamento cresceu 16% em relação aos R$ 5,4 bilhões devidos no final do terceiro trimestre do ano passado.
Do total da dívida, mais de R$ 2 bilhões eram da Metropolitana Overseas, subsidiária criada logo após a privatização da Eletropaulo (abril de 1998) para captar recursos fora do país.
Embora o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) seja o principal credor no Brasil das empresas do grupo norte-americano AES que controlam a Eletropaulo (US$ 1,131 bilhão), a dívida da Eletropaulo com o banco é pequena em relação ao total que a distribuidora deve.
Segundo informações fornecidas pela própria empresa, a Eletropaulo deve ao BNDES cerca de R$ 700 milhões. Toda a dívida da distribuidora de energia elétrica com o banco estatal é originária de empréstimo de R$ 1 bilhão concedido a título de antecipação de receita para cobrir perdas com o racionamento do período de junho de 2001 a fevereiro de 2002.
Esse empréstimo, que foi concedido pelo BNDES com recursos do Tesouro Nacional, está sendo pago em dia e o banco já recebeu mais de R$ 300 milhões. Diferente é a situação das duas empresas por meio das quais a AES participa do capital da Eletropaulo.
A AES Elpa, que controla o capital votante (ações ordinárias) da distribuidora, deve ao banco o equivalente a US$ 527 milhões (número de fevereiro) e está inadimplente desde 31 de janeiro com uma parcela de US$ 85 milhões. A AES Transgás deve ao BNDES o equivalente a US$ 604 milhões (também dados de fevereiro), valor remanescente de uma dívida de cerca de US$ 1 bilhão contraída em janeiro de 2000 para a compra de 64% das ações preferenciais (sem direito a voto) da Eletropaulo. A inadimplência nesse empréstimo soma US$ 330 milhões, referentes a uma parcela vencida em 28 de fevereiro.
Em anúncio publicado em jornais e revistas, a AES promete cumprir "todas as suas obrigações financeiras no Brasil". Analistas avaliam que, com a difícil situação apresentada pelo balanço da Eletropaulo de 2002, ficará difícil o cumprimento da promessa, a não ser que a matriz do grupo decida aportar capital à filial brasileira. A Eletropaulo é o principal ativo do grupo AES no Brasil.