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ANÁLISE
Ainda há motivos para ânimo na Europa
DAVID MARSH
PARA O "FINANCIAL TIMES"
Há muito pessimismo sobre
a Europa desde que começou a
crise da dívida grega. Isso desviou a atenção de algumas boas
notícias sobre a economia europeia. As nuvens que pairam
sobre a Grécia vêm obscurecendo desdobramentos positivos que favorecem os mercados
financeiros europeus.
1) O euro vem caindo rapidamente diante do dólar devido à
preocupação quanto à dívida
grega -o que estimula muito as
empresas voltadas à exportação em toda a Europa. A queda
do euro diante do yuan e de outras moedas asiáticas ancoradas ao dólar também teve efeito
colateral positivo, ajudando indiretamente na campanha do
Congresso americano pela valorização da moeda chinesa.
2) A zona do euro está por
fim enfrentando uma crise
-depois de dez anos de espera.
Isso é exatamente o que faltava
para galvanizar os líderes dos
governos em países como a
Grécia e levá-los a corrigir deficiências desastrosas em suas
políticas. A Europa sempre reage melhor sob dificuldades.
3) A Alemanha basicamente
controla a Europa. Outros países podem não gostar disso,
mas é o fato que embasa a futura solidez do euro e reduz o risco de que o fiasco grego se
transforme em catástrofe. No
entanto, Berlim precisa dedicar
mais atenção às suas técnicas
de divulgação de políticas. A incapacidade do governo alemão
de consultar o Bundesbank (BC
alemão) quanto às suas recentes recomendações para a criação de um "Fundo Monetário
Europeu" parece preocupante.
4) As economias emergentes
que são grandes compradoras
de bens de capital europeus estão se recuperando mais rápido
que o esperado. Isso é boa notícia para os líderes setoriais no
coração industrial da Europa.
Com o tempo, a Ásia e outras
regiões em desenvolvimento
passarão a praticar consumo
interno muito mais intenso.
Haverá menos capital nos mercados orientais, mas empresas
europeias terão um ótimo dia.
5) É altamente improvável
que o BCE (Banco Central Europeu) eleve as taxas de juros
no futuro próximo. Uma continuação da política de dinheiro
fácil será positiva para os mercados de ações do continente.
6) A sensação de calamidade
iminente que cerca a Grécia
serviu como lembrete útil dos
riscos de políticas perdulárias
como as de Atenas, para outros
governos europeus. Isso deve
resultar em pressão de baixa
sobre os salários e gastos públicos em toda a Europa.
7) Houve certos sinais de retomada do consumo na Alemanha -na Europa, uma versão
reduzida da China-, com excedentes de poupança, grande superavit em conta corrente, população envelhecida e demanda doméstica inadequada. Isso
pode prenunciar uma economia europeia mais equilibrada.
8) As disputas entre a Alemanha e a França para decidir
quem domina as políticas europeias podem se tornar menos
frequentes. A França está satisfeita por o governo alemão ter
dado a entender que pode ajudar a financiar resgate à Grécia.
A Alemanha está satisfeita por
a França apoiar rigor fiscal e
monetário em estilo alemão. O
consenso pode se provar ilusório, mas, por enquanto, serve
bem a quase todos.
9) A crescente disparidade
em crescimento econômico entre a Europa e a Ásia começa a
causar impressão na consciência pública do Velho Continente. Agora, existe consciência
muito mais forte de que a Europa precisa de uma estratégia
decisiva em áreas como a pesquisa e desenvolvimento, bem
como a educação. Empresas
europeias fortes em termos
científico-tecnológicos podem
esperar ambiente político benévolo nos próximos anos.
10) Parece provável que a
Alemanha no ano que vem conquiste a presidência do Banco
Central Europeu para Axel Weber, no momento o presidente
de seu banco central, o Bundesbank. Com um alemão no comando do BCE por um mandato de oito anos, Berlim se manterá como membro dedicado da
união monetária até pelo menos 2019 -o que propiciaria à
Europa dez anos de disciplina
ao modo do Bundesbank, algo
de que investidores e consumidores da região certamente se
beneficiariam.
DAVID MARSH é consultor sênior da administradora de fundos Soditic-CBIP e copresidente
do Fórum de Instituições Monetárias e Financeiras Oficiais.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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