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FINANÇAS
Companhia nega plano oficial para oferta de ações, que beneficiaria pequeno acionista; papéis sobem na Bolsa
Vale estuda pulverizar ações neste ano
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A CVRD (Companhia Vale do
Rio Doce), maior produtora
mundial de minério de ferro, estuda uma oferta pulverizada de
suas ações. Segundo a Folha apurou com pessoas ligadas à empresa e a seus acionistas, a intenção
da mineradora é aprontar a operação até o final deste ano.
A pulverização é a oferta das
ações de uma determinada empresa ao mercado com o objetivo
de incrementar o volume de negócios e, assim, elevar o valor da
companhia. Prevê a conversão de
todos os papéis em ações ON
(com direito a voto) e resulta na
diluição do controle entre vários
investidores. Ela geralmente beneficia o pequeno acionista.
Oficialmente, por meio de sua
assessoria, a CVRD nega a pulverização. A justificativa é que a
venda, nesses moldes, é tecnicamente inviável, mas a empresa
não explicou os motivos.
No mercado, porém, rumores
sobre o tema ganham força desde
a semana passada, quando houve
conversas informais entre representantes da Vale e executivos de
bancos estrangeiros de investimentos. Na avaliação de um deles,
que não quis se identificar, apesar
de os diálogos serem conduzidos
de forma sutil, têm como pano de
fundo a escolha de um coordenador para a futura oferta.
Desde quinta-feira, as ações ON
da CVRD subiram 3,13%, de R$
105,45 para R$ 108,75. Os papéis
PN (sem direito a voto) foram negociados no período com alta de
2,77%. O preço aumentou de R$
93,55 para R$ 96,14. Ambos estão
acima do desempenho do Ibovespa (índice da Bolsa de São Paulo)
-quase estável no período.
Analistas ouvidos pela reportagem sobre a hipótese de pulverização afirmaram que, caso o estudo saia do papel, há vários motivos para o mercado acionário
brasileiro comemorar.
Acostumados a uma única classe de ações, investidores estrangeiros ficariam satisfeitos com o
fim dos papéis sem direito a voto,
o que seria um estímulo à entrada
de dinheiro novo no país.
Outro ponto, conforme esses
analistas, é o aperfeiçoamento da
governança corporativa. Como
exemplo, citaram a extensão de
benefícios dos controladores aos
acionistas minoritários -o chamado "tag along".
Demanda aquecida
A Companhia Vale do Rio Doce
surfa em uma onda de demanda
aquecida por minério de ferro. No
ano passado, a empresa teve lucro
recorde de R$ 10,4 bilhões, aumento de 62% em relação aos R$
6,5 bilhões computados em 2004.
Assim, a CVRD firmou-se como o
maior lucro da história obtido por
uma empresa privada de capital
aberto na América Latina.
Nascida como estatal no século
20, na esteira da política de nacionalização das empresas do primeiro governo de Getúlio Vargas,
a CVRD foi privatizada em 1997
pelas mãos da equipe de Fernando Henrique Cardoso. Hoje, boa
parte das ações pertence à Previ, o
maior fundo de pensão da América Latina, ligado aos funcionários
do Banco do Brasil, e ao grupo
Bradesco. De acordo com fontes
próximas aos acionistas da
CVRD, diante dos excelentes resultados da companhia, não há
intenção de os atuais controladores desembarcarem do negócio.
Caso os estudos prossigam e a
CVRD confirme a pulverização
das ações, ela terá seguido pelo
mesmo caminho de outra gigante
brasileira, a Telemar, maior operadora de telefonia fixa do Brasil.
Neste mês, a concessionária
anunciou que pretende efetuar
uma oferta pulverizada. Assim
como a CVRD, a Telemar tem entre seus controladores fundos de
pensão ligados a estatais.
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