São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2006

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FINANÇAS

Companhia nega plano oficial para oferta de ações, que beneficiaria pequeno acionista; papéis sobem na Bolsa

Vale estuda pulverizar ações neste ano

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), maior produtora mundial de minério de ferro, estuda uma oferta pulverizada de suas ações. Segundo a Folha apurou com pessoas ligadas à empresa e a seus acionistas, a intenção da mineradora é aprontar a operação até o final deste ano.
A pulverização é a oferta das ações de uma determinada empresa ao mercado com o objetivo de incrementar o volume de negócios e, assim, elevar o valor da companhia. Prevê a conversão de todos os papéis em ações ON (com direito a voto) e resulta na diluição do controle entre vários investidores. Ela geralmente beneficia o pequeno acionista.
Oficialmente, por meio de sua assessoria, a CVRD nega a pulverização. A justificativa é que a venda, nesses moldes, é tecnicamente inviável, mas a empresa não explicou os motivos.
No mercado, porém, rumores sobre o tema ganham força desde a semana passada, quando houve conversas informais entre representantes da Vale e executivos de bancos estrangeiros de investimentos. Na avaliação de um deles, que não quis se identificar, apesar de os diálogos serem conduzidos de forma sutil, têm como pano de fundo a escolha de um coordenador para a futura oferta.
Desde quinta-feira, as ações ON da CVRD subiram 3,13%, de R$ 105,45 para R$ 108,75. Os papéis PN (sem direito a voto) foram negociados no período com alta de 2,77%. O preço aumentou de R$ 93,55 para R$ 96,14. Ambos estão acima do desempenho do Ibovespa (índice da Bolsa de São Paulo) -quase estável no período.
Analistas ouvidos pela reportagem sobre a hipótese de pulverização afirmaram que, caso o estudo saia do papel, há vários motivos para o mercado acionário brasileiro comemorar.
Acostumados a uma única classe de ações, investidores estrangeiros ficariam satisfeitos com o fim dos papéis sem direito a voto, o que seria um estímulo à entrada de dinheiro novo no país.
Outro ponto, conforme esses analistas, é o aperfeiçoamento da governança corporativa. Como exemplo, citaram a extensão de benefícios dos controladores aos acionistas minoritários -o chamado "tag along".

Demanda aquecida
A Companhia Vale do Rio Doce surfa em uma onda de demanda aquecida por minério de ferro. No ano passado, a empresa teve lucro recorde de R$ 10,4 bilhões, aumento de 62% em relação aos R$ 6,5 bilhões computados em 2004. Assim, a CVRD firmou-se como o maior lucro da história obtido por uma empresa privada de capital aberto na América Latina.
Nascida como estatal no século 20, na esteira da política de nacionalização das empresas do primeiro governo de Getúlio Vargas, a CVRD foi privatizada em 1997 pelas mãos da equipe de Fernando Henrique Cardoso. Hoje, boa parte das ações pertence à Previ, o maior fundo de pensão da América Latina, ligado aos funcionários do Banco do Brasil, e ao grupo Bradesco. De acordo com fontes próximas aos acionistas da CVRD, diante dos excelentes resultados da companhia, não há intenção de os atuais controladores desembarcarem do negócio.
Caso os estudos prossigam e a CVRD confirme a pulverização das ações, ela terá seguido pelo mesmo caminho de outra gigante brasileira, a Telemar, maior operadora de telefonia fixa do Brasil.
Neste mês, a concessionária anunciou que pretende efetuar uma oferta pulverizada. Assim como a CVRD, a Telemar tem entre seus controladores fundos de pensão ligados a estatais.


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