São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2006

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RECEITA ORTODOXA

Taxa média para pessoas físicas fica em 59%, a menor desde Plano Real; "spread" não acompanha Selic

Juro segue alto, mas é o menor em 12 anos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo segundo mês seguido, os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos a pessoas físicas atingiram o nível mais baixo desde a implantação do Plano Real, em julho de 1994. Segundo levantamento do Banco Central, a taxa média praticada pelas instituições financeiras em março ficou em 59,0% ao ano -o equivalente a aproximadamente 4% ao mês.
O próprio BC admite, porém, que essa queda não significa juros em nível razoável. "É claro que as taxas ainda são altas. A taxa de juros ao tomador, no Brasil, ainda é alta", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Uma das explicações para os juros elevados está no chamado "spread" bancário -a diferença entre a taxa que os bancos cobram para captar recursos no mercado e os juros efetivamente cobrados dos clientes.
Esse "spread" serve para cobrir alguns custos das instituições financeiras, como pagamento de impostos, despesas administrativas e perdas com a inadimplência. Excluído tudo isso, o que sobra aumenta o lucro dos bancos.
Pelos dados de março, o "spread" nos empréstimos a pessoas físicas equivalia ao triplo do custo de captação dos bancos: segundo o BC, no mês passado as instituições pagaram uma taxa média de 15% ao ano para captar recursos no mercado e cobravam 59,0% ao ano dos clientes, ficando com a diferença -o "spread", de 44 pontos percentuais.
"O "spread" bancário ainda não mostra uma redução proporcional à queda no custo de captação", disse Lopes. Entre setembro e março, o BC reduziu a taxa Selic de 19,75% ao ano para 16,50%.
A Selic é usada para remunerar empréstimos de curto prazo feitos periodicamente no mercado entre o BC e os bancos. Já o custo de captação das instituições financeiras costuma refletir as expectativas sobre o comportamento futuro dos juros. Quando existe uma tendência de queda na taxa, o custo de captação costuma ficar abaixo da própria Selic.
"À medida que se flexibiliza a política monetária, se espera uma redução do "spread'", disse Lopes. Em setembro, antes do BC dar início à redução dos juros, o "spread" cobrado das pessoas físicas estava em 44 pontos percentuais, mesmo número de março.
No caso dos financiamentos a pessoas jurídicas, o cenário é parecido: juros em queda, mas com um "spread" que não dá sinais de redução. Segundo o BC, a taxa média praticada nos empréstimos a empresas no mês passado ficou em 30,7% ao ano, contra 31,6% apurados em fevereiro.
No mesmo período, o "spread" caiu de 15,1 pontos percentuais para 14,5 pontos -acima dos 14,1 pontos observados em setembro, quando a Selic começou a cair.
Os motivos para o elevado "spread" variam, dependendo do analista. Em nota divulgada ontem, a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) diz que as taxas não caem de forma mais acelerada devido à inadimplência.
O texto cita os empréstimos com desconto em folha de pagamento, cujos juros subiram de 36,5% para 37,1% ao ano no mês passado, para ilustrar o argumento. "O aumento dos juros no crédito consignado espelhou o aumento da inadimplência no crédito pessoal de 6,7% para 6,8%."
Já estudo do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo rebate as explicações dos bancos. O IDV diz que "as taxas de inadimplência até o momento não mostram sinais de elevação" e critica a demora no repasse aos tomadores de crédito dos ganhos proporcionados pela queda da Selic.


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