|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Taxa média para pessoas físicas fica em 59%, a menor desde Plano Real; "spread" não acompanha Selic
Juro segue alto, mas é o menor em 12 anos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo segundo mês seguido, os
juros cobrados pelos bancos nos
empréstimos a pessoas físicas
atingiram o nível mais baixo desde a implantação do Plano Real,
em julho de 1994. Segundo levantamento do Banco Central, a taxa
média praticada pelas instituições financeiras em março ficou
em 59,0% ao ano -o equivalente
a aproximadamente 4% ao mês.
O próprio BC admite, porém,
que essa queda não significa juros
em nível razoável. "É claro que as
taxas ainda são altas. A taxa de juros ao tomador, no Brasil, ainda é
alta", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Uma das explicações
para os juros elevados está no
chamado "spread" bancário -a
diferença entre a taxa que os bancos cobram para captar recursos
no mercado e os juros efetivamente cobrados dos clientes.
Esse "spread" serve para cobrir
alguns custos das instituições financeiras, como pagamento de
impostos, despesas administrativas e perdas com a inadimplência. Excluído tudo isso, o que sobra aumenta o lucro dos bancos.
Pelos dados de março, o
"spread" nos empréstimos a pessoas físicas equivalia ao triplo do
custo de captação dos bancos: segundo o BC, no mês passado as
instituições pagaram uma taxa
média de 15% ao ano para captar
recursos no mercado e cobravam
59,0% ao ano dos clientes, ficando com a diferença -o "spread",
de 44 pontos percentuais.
"O "spread" bancário ainda não
mostra uma redução proporcional à queda no custo de captação", disse Lopes. Entre setembro
e março, o BC reduziu a taxa Selic
de 19,75% ao ano para 16,50%.
A Selic é usada para remunerar
empréstimos de curto prazo feitos periodicamente no mercado
entre o BC e os bancos. Já o custo
de captação das instituições financeiras costuma refletir as expectativas sobre o comportamento futuro dos juros. Quando existe
uma tendência de queda na taxa,
o custo de captação costuma ficar
abaixo da própria Selic.
"À medida que se flexibiliza a
política monetária, se espera uma
redução do "spread'", disse Lopes.
Em setembro, antes do BC dar
início à redução dos juros, o
"spread" cobrado das pessoas físicas estava em 44 pontos percentuais, mesmo número de março.
No caso dos financiamentos a
pessoas jurídicas, o cenário é parecido: juros em queda, mas com
um "spread" que não dá sinais de
redução. Segundo o BC, a taxa
média praticada nos empréstimos a empresas no mês passado
ficou em 30,7% ao ano, contra
31,6% apurados em fevereiro.
No mesmo período, o "spread"
caiu de 15,1 pontos percentuais
para 14,5 pontos -acima dos 14,1
pontos observados em setembro,
quando a Selic começou a cair.
Os motivos para o elevado
"spread" variam, dependendo do
analista. Em nota divulgada ontem, a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) diz que as taxas não caem de forma mais acelerada devido à inadimplência.
O texto cita os empréstimos
com desconto em folha de pagamento, cujos juros subiram de
36,5% para 37,1% ao ano no mês
passado, para ilustrar o argumento. "O aumento dos juros no crédito consignado espelhou o aumento da inadimplência no crédito pessoal de 6,7% para 6,8%."
Já estudo do Instituto para o
Desenvolvimento do Varejo rebate as explicações dos bancos. O
IDV diz que "as taxas de inadimplência até o momento não mostram sinais de elevação" e critica a
demora no repasse aos tomadores de crédito dos ganhos proporcionados pela queda da Selic.
Texto Anterior: Luís Nassif: O SUS e o elogio fatal Próximo Texto: Crédito aumenta 2,8% no trimestre Índice
|