São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2006

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Infraero já vê "beira do precipício"

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Credoras da Varig, as estatais BR Distribuidora e Infraero negaram ontem em audiência pública no Senado a possibilidade de dar carência à empresa na cobrança de dívidas. "Estamos chegando à beira do precipício. O que foi possível, nós fizemos", disse o presidente da Infraero, tenente-brigadeiro José Carlos Pereira. "Nós não vamos violar a lei", afirmou.
Já a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras e principal fornecedora de combustível à Varig, alegou que não pode dar mais prazo porque poderia ser acusada de gestão temerária. "É um grau de exposição ao risco extremamente elevado para que a companhia possa aceitar sem que esteja lastreada em algum tipo de garantia", disse Pedro Caldas Pereira, gerente-executivo de produtos de aviação da BR Distribuidora.
"A gente entende que esse esforço dos credores é necessário, mas, por outro lado, os administradores da companhia são fiscalizados pelo TCU, e a eventual exposição a esse risco financeiro pode levá-los a responder por gestão temerária", disse Pereira.
Em 2001 a Varig financiou dívida de R$ 240 milhões com a BR. No programa de recuperação judicial, estão sendo financiados outros R$ 57 milhões. Hoje, a Varig paga antecipadamente à BR para ter combustível.
Com a Infraero, a dívida total da Varig é de cerca de R$ 515 milhões, e R$ 133 milhões podem começar a ser exigidos a qualquer momento, pois já foi publicada anteontem (leia texto ao lado), no "Diário Oficial" da Justiça, a decisão do TRF da 2ª Região (Rio e Espírito Santo), embora o presidente da estatal não tivesse manifestado conhecimento da decisão no depoimento.
Em março, o TRF cassou liminar de agosto que permitia à Varig não pagar tarifas aeroportuárias. Agora que essa decisão foi publicada, a Infraero pode exigir o pagamento diário dessas tarifas (R$ 900 mil por dia) e do passivo acumulado na vigência da liminar (R$ 133 milhões).
"Como presidente da empresa, gostaria que [a publicação da decisão] fosse o mais rápido possível. Como cidadão brasileiro e amante da Varig, gostaria que isso demorasse muito", disse o presidente da Infraero.
Marcelo Gomes, gerente-executivo da consultoria Alvarez & Marçal, responsável pelo plano de recuperação da Varig, disse que a empresa pode parar por falta de capital de giro.
Gomes estava se referindo ao pedido de empréstimo de US$ 100 milhões ao BNDES para que a empresa pudesse sobreviver à baixa temporada. "Não estamos pedindo almoço grátis para o BNDES. Estamos pedindo uma linha de financiamento", disse.
Outra saída levantada durante a audiência pública foi a possibilidade de os Estados reconhecerem uma dívida de cerca de R$ 1,2 bilhão por cobrança indevida de ICMS. Ao ser reconhecida, essa dívida poderia servir para capitalizar a Varig.


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