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VINICIUS TORRES FREIRE
Lula, sorte, inércia e varejo
Imposto para importar roupa, intervenção no Ambiente, esparadrapo na aviação: falta perspectiva ao governo
O VAREJO é a alma do negócio
do governo Lula. Sim, há um
ou outro projeto com perspectivas que ultrapassam o horizonte amesquinhado da propaganda, da
barganha no paço presidencial, do
esparadrapo administrativo, da politiquice, dos "rent seekers".
Alguns ministros e a burocracia
mais capazes e refletidos conseguem vencer o cortejo logorréico e
tumultuário que é a presidência luliana. Oferecem planos concatenados, como o de melhorias no desempenho escolar, do Ministério da
Educação. Ou aplacam desejos lulianos desordenados com programas
que param de pé -lembre-se o desastre do Fome Zero, que um núcleo
de técnicos petistas transformou no
Bolsa Família. Mas o PAC já é manobra de fusão & aquisição de projetos
dispersos -uma rede varejista.
A índole luliana é o varejo. Não há
perspectiva, mas linhas de fuga interrompidas por decisões ad hoc.
Exemplos reaparecem nas atitudes
recentes do governo.
O câmbio é um problema? Aumente-se o Imposto de Importação
de roupas, tecidos e calçados, como
o governo anunciou ontem.
A licença ambiental para a construção de hidrelétricas empacou?
Tome intervenção míope na burocracia do Ministério do Ambiente.
O universo do trabalho não cabe
mais nas decrépitas leis trabalhistas,
e há gente querendo, por isso, arrasar a escassa proteção real que há
para o trabalhador miúdo? O governo empaca numa disputa com um
lobby localizado da "flexibilização"
da CLT (a "emenda 3"), sem cogitar
de reformas graduais e meditadas.
Há tumulto na aviação? Bola-se
um embrião de sindicato de praças
da Aeronáutica. Os oficiais reagem
com insubordinação em sentido
contrário? Chamam a polícia (da
Aeronáutica) e baixa só a repressão,
até a volta do tumulto ou coisa pior.
A concessão das rodovias federais
estava superfaturada? Sim, foi adequado sustar a licitação. Mas meses,
anos, depois de delongas, buracos,
custos e mortes nas estradas, onde
está o plano para que o país disponha de caminhos carroçáveis?
Pode-se dizer que algumas dessas
medidas são circunstanciais, que todo governo tem de lidar com crises
pontuais, que a humanidade e os governos são por natureza varejantes.
Talvez. Mas quem toma providências que chama de emergenciais
quer sugerir que tem consciência de
que é preciso mais planejamento, visão de futuro e mudança institucional. É esse o caso do governo Lula?
Proteger fábricas de roupas e calçados com Imposto de Importação
pode ser um balão de oxigênio para
indústrias em infarto, trombadas
por real forte, ineficiências e por
dumping e contrabando chinês. Mas
por que só vestuário? E os setores
nascentes ou morituros precoces, de
ponta tecnológica, por exemplo? E
se o câmbio ficar anos na mesma, ou
quase? Qual o projeto de inovação
tecnológica sistemática?
As leis e a distribuição de responsabilidades no Ambiente são disfuncionais? Mas quede a reforma das
leis? O governo só reage quando há o
risco de um bagre do rio Madeira
apodrecer no colo da sua imagem?
O governo luliano é de inércia na
política econômica e de anestesia do
conflito social por meio da distribuição de rendas para muito ricos e
muito pobres, e pouco mais.
vinit@uol.com.br
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