São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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CONTAS PÚBLICAS

Redução de despesas anunciada pelo governo deve atingir principalmente obras de irrigação e transporte

Barragens e estradas são maiores vítimas do corte

Jarbas Oliveira/Folha Imagem
Canteiro da obra da barragem do Castanhão, no Ceará, que deve sofrer reduções em seu orçamento devido aos cortes do governo


SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os cortes no Orçamento da União anunciados pelo governo para compensar as perdas com o atraso na votação da CPMF (imposto do cheque) devem atrasar e até parar obras nas áreas de transporte e de irrigação.
Os gastos previstos no grupo de programas estratégicos do governo que concentra esses investimentos sofreram corte de 59,2% neste ano. Do orçamento de investimentos de R$ 17,7 bilhões, esse grupo tinha R$ 5,4 bilhões. Com os cortes de fevereiro e os anunciados neste mês, sobraram R$ 2,2 bilhões.
O número de obras de açudes, adutoras e barragens que deveriam ficar prontos neste ano caiu de 28 para 15, segundo a assessoria do Ministério da Integração Nacional.
Entre as barragens que terão sua inauguração adiada está a do Castanhão, no Ceará, a maior obra hídrica do governo. A construção já foi prejudicada nos últimos anos por causa de outros cortes e por figurar na lista de obras com indícios de irregularidades elaborada pelo Tribunal de Contas da União.
Localizada em Alto Santo, a 200 km de Fortaleza, a barragem ainda precisa de mais R$ 60 milhões para ficar pronta.
Outras obras como as adutoras do Agreste (AL) e Jucazinho (PE) também não serão concluídas neste ano, deixando de melhorar o abastecimento de água de 1,182 milhão pessoas em 38 cidades.
No setor de transportes, os problemas também vêm se acumulando por causa dos contingenciamentos antigos.
O país tem 56 mil km de rodovias federais pavimentadas, sendo que 31% em bom estado, 27% em condições regulares e 42% em péssimo estado. A avaliação é do próprio governo no relatório de 2001 sobre o PPA (Plano Plurianual de Investimentos). O plano consiste em uma série de metas físicas e financeiras para o período 2000/2003.
No relatório, os gerentes culpam a "liberação irregular e insuficiente de recursos" no biênio 2000/2001 pelo atraso na obtenção dos resultados físicos previstos no PPA.

Cortes
O secretário de Planejamento e Investimentos Estratégicos, José Paulo Silveira, disse que o governo está estudando o percentual de corte em cada obra para não interromper projetos que estão sendo concluídos.
Na área de irrigação, apesar dos cortes, o ministério pretende dividir os recursos entre as 70 obras em andamento. "Nenhuma obra vai parar porque assim a depreciação seria mais rápida e o custo seria maior", disse o secretário-substituto de Infra-Estrutura Hídrica do ministério, Ivam dos Santos.
A maior parte dos gerentes responsáveis pelas obras do setor de transportes disse que o percentual de corte em cada empreendimento será definido durante esta semana.
Em seu relato, o gerente do programa "Corredor Oeste-Norte", José Maria Cunha, explica que, mantidos os níveis de execução orçamentária dos dois últimos anos, as principais obras do programa poderão estar concluídas em dez anos. São elas a pavimentação da BR-163 (PA), BR-230 (PA) e BR-364 (MT).
Cunha disse à Folha que os valores disponíveis para este ano são menores que os do ano passado. Segundo ele, a preocupação agora é garantir a trafegabilidade nessas rodovias.
Silveira disse que somente em 2001 o governo passou a eleger algumas obras como prioritárias, evitando que os cortes atingissem todos os investimentos de maneira linear.
"Mas o primeiro semestre ainda foi difícil porque estávamos passando de um modelo para outro." O que aconteceu é que os recursos acabaram se concentrando no segundo semestre.
O gerente do "Corredor Leste", Carlos Alberto La Selva, explicou que a liberação irregular dos recursos é um grande problema para as obras de transporte porque o período de seca vai de maio a novembro. Ou seja, os recursos que entram depois de novembro têm que esperar o fim das chuvas para serem usados.


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