São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2006

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Emergentes têm pior semana desde 2004

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A semana terminada na última quarta-feira, dia 24, foi marcada por uma sangria nos mercados emergentes. No caso dos títulos da dívida soberana, houve uma saída de US$ 328,2 milhões- 0,8% do total de ativos. Esse foi o pior resultado desde outubro de 2004.
O abalo também atingiu os fundos de ações de emergentes, que registraram perdas de US$ 5 bilhões, o pior desempenho desde maio de 2004, segundo dados da Emerging Portfolio. Na semana anterior (até o dia 17), o ritmo de aplicações já mostrava um ritmo mais lento. O fluxo para fundos de ações de emergentes caiu para US$ 43 milhões. A média semanal era de US$ 1,6 bilhão.
A combinação de temor em relação ao endurecimento da política monetária nos EUA e a uma desaceleração da economia mundial fez os investidores diminuírem as posições em aplicações em emergentes.
No entanto, para Brad Durham, diretor da Emerging Portfolio, não há motivo para pânico. "Esse é um fenômeno de curto prazo. Devemos continuar a ver um movimento residual de saída dessas aplicações nas próximas semanas, mas a confiança do investidor deve voltar a se estabilizar", disse Durham à Folha.
Na ciranda dos mercados financeiros, os títulos da dívida do Brasil, da Rússia e da Turquia tendem a ser os primeiros atingidos pelo clima de aversão ao risco. Esses países são os primeiros a sofrer justamente por serem aqueles que apresentam um volume maior de posições de investidores.
Entre as aplicações em fundos de ações, Brasil e Rússia mais uma vez aparecem como mercados bastante suscetíveis à saída mais forte de investidores. Mas, além desses dois, Taiwan, Coréia do Sul, China, África do Sul e Índia também têm se mostrado vulneráveis.
Segundo analistas, o cenário deve se manter turbulento pelo menos até o final do mês, quando o Fed (banco central dos EUA) divulgará a ata da sua última reunião.

Resultado no trimestre
O cenário da última semana contrasta com o resultado que os emergentes obtiveram no primeiro trimestre deste ano.
Nos primeiros três meses deste ano, a movimentação foi de US$ 1,6 trilhão, uma alta de 18% em relação ao último trimestre do ano passado. Na comparação com o primeiro trimestre de 2005, o acréscimo foi de 15%. As informações constam de sondagem da Emta (sigla em inglês para Associação de Negociadores do Mercado de Emergentes).
Esse volume de transações de títulos da dívida de emergentes foi o mais alto desde 1997, data em que os dados começaram a ser compilados.
Com US$ 444 bilhões, a negociação de papéis brasileiros representou 27,22% do total do trimestre. A cifra significou uma alta de 24% ante o mesmo período de 2005.
"[Isso] reflete o sentimento agressivo em relação às finanças globais e a grande liqüidez [mundial]", avaliou o economista Goldman Sachs Paulo Leme no relatório divulgado ontem pela instituição.
Para Leme, o impacto das eleições presidenciais neste ano será modesto nas negociações com papéis emergentes desde que "a liqüidez permaneça ampla". Entretanto, ainda de acordo com o economista, caso haja um ciclo mundial de aperto monetário, que tende a diminuir o apetite pelo risco, o componente político pode pesar na avaliação dos investidores na hora de alocar recursos.
A sondagem da Emta foi feita com 66 instituições investidoras em mercados emergentes.


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