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Apetite por risco volta ao mercado global
Fundos de ações de países emergentes como Brasil e Índia atraem investidores, e moedas se valorizam
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O apetite de investidores por
aplicações de risco está de volta
após oito meses da explosão da
crise financeira global.
Nas 11 últimas semanas, os
fundos de ações de países
emergentes atraíram US$ 21
bilhões de investidores. Já os
mercados de países avançados
(Japão, Europa e EUA) perderam US$ 14,1 bilhões.
Brasil, China, Índia e Taiwan
têm sido os principais destinos
dessa onda de investimentos. O
forte fluxo de dólares para as
Bolsas nesses países explica em
grande parte a recente valorização de suas moedas.
Na semana passada, as dez
moedas mais negociadas na
Ásia fecharam em seu maior
patamar em quatro meses. Só a
rupia indiana se valorizou em
4,9% na semana passada, o
maior salto desde março de
1996. No Brasil, o dólar acumula queda de 7,1% diante do real
neste mês.
Logo depois da queda do
Lehman Brothers, em setembro de 2008, e por muitos meses, o que ocorria era exatamente o contrário: fuga de capitais dos emergentes para cobrir
rombos nos países avançados
ou para o refúgio considerado
seguro das aplicações em títulos do Tesouro dos EUA.
"Os investidores do mundo
todo estão visivelmente ansiosos para pôr seu dinheiro de
novo para trabalhar", diz Brad
Durham, diretor-executivo
mundial da EPFR (Emerging
Portfolio Fund Research), que
apura diariamente os fluxos de
capitais em dezenas de países.
Segundo a EPFR, neste ano
os investidores retiraram um
saldo líquido de US$ 78,2 bilhões de fundos de curto prazo
(que são relativamente seguros
e de baixo rendimento por aplicarem parte dos recursos em títulos do Tesouro nos países)
para desviar o dinheiro em outras aplicações.
Há várias razões para essa
mudança de rota dos investidores, que valoriza não só as ações
de empresas de países emergentes mas suas moedas e commodities.
A principal delas é a aposta
de que os mercados emergentes vão se recuperar da crise
bem à frente das economias
mais avançadas, que ainda continuam lutando contra o tranco
do colapso financeiro de 2008.
No primeiro trimestre, a zona do euro sofreu a maior retração em 13 anos. No Japão, a
queda do PIB foi recorde, e nos
EUA a expectativa é que a saída
da recessão seja mais demorada do que se supunha.
Outra razão é a baixíssima
remuneração que os títulos do
Tesouro dos EUA estão oferecendo neste momento.
Há também uma fuga do dólar para outras moedas, especialmente após a agência S&P
ter rebaixado de "neutra" para
"negativa" a tendência dos títulos "AAA" da dívida pública do
Reino Unido.
O temor é que o mesmo ocorra em relação aos EUA, onde a
dívida pública deve saltar da
atual relação de 44% sobre o
PIB para 77% nos próximos
quatro anos como resultado
das medidas de estímulo econômico, segundo a S&P.
"As moedas asiáticas estão
ganhando força diante do possível rebaixamento da classificação da dívida soberana norte-americana", afirma Jerry Yoshikoshi, analista do banco Sumitomo Mitsui. "Mas uma volta da aversão ao risco ainda não
pode ser descartada."
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