São Paulo, terça-feira, 26 de maio de 2009

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Apetite por risco volta ao mercado global

Fundos de ações de países emergentes como Brasil e Índia atraem investidores, e moedas se valorizam

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O apetite de investidores por aplicações de risco está de volta após oito meses da explosão da crise financeira global.
Nas 11 últimas semanas, os fundos de ações de países emergentes atraíram US$ 21 bilhões de investidores. Já os mercados de países avançados (Japão, Europa e EUA) perderam US$ 14,1 bilhões.
Brasil, China, Índia e Taiwan têm sido os principais destinos dessa onda de investimentos. O forte fluxo de dólares para as Bolsas nesses países explica em grande parte a recente valorização de suas moedas.
Na semana passada, as dez moedas mais negociadas na Ásia fecharam em seu maior patamar em quatro meses. Só a rupia indiana se valorizou em 4,9% na semana passada, o maior salto desde março de 1996. No Brasil, o dólar acumula queda de 7,1% diante do real neste mês.
Logo depois da queda do Lehman Brothers, em setembro de 2008, e por muitos meses, o que ocorria era exatamente o contrário: fuga de capitais dos emergentes para cobrir rombos nos países avançados ou para o refúgio considerado seguro das aplicações em títulos do Tesouro dos EUA.
"Os investidores do mundo todo estão visivelmente ansiosos para pôr seu dinheiro de novo para trabalhar", diz Brad Durham, diretor-executivo mundial da EPFR (Emerging Portfolio Fund Research), que apura diariamente os fluxos de capitais em dezenas de países.
Segundo a EPFR, neste ano os investidores retiraram um saldo líquido de US$ 78,2 bilhões de fundos de curto prazo (que são relativamente seguros e de baixo rendimento por aplicarem parte dos recursos em títulos do Tesouro nos países) para desviar o dinheiro em outras aplicações.
Há várias razões para essa mudança de rota dos investidores, que valoriza não só as ações de empresas de países emergentes mas suas moedas e commodities.
A principal delas é a aposta de que os mercados emergentes vão se recuperar da crise bem à frente das economias mais avançadas, que ainda continuam lutando contra o tranco do colapso financeiro de 2008.
No primeiro trimestre, a zona do euro sofreu a maior retração em 13 anos. No Japão, a queda do PIB foi recorde, e nos EUA a expectativa é que a saída da recessão seja mais demorada do que se supunha.
Outra razão é a baixíssima remuneração que os títulos do Tesouro dos EUA estão oferecendo neste momento.
Há também uma fuga do dólar para outras moedas, especialmente após a agência S&P ter rebaixado de "neutra" para "negativa" a tendência dos títulos "AAA" da dívida pública do Reino Unido.
O temor é que o mesmo ocorra em relação aos EUA, onde a dívida pública deve saltar da atual relação de 44% sobre o PIB para 77% nos próximos quatro anos como resultado das medidas de estímulo econômico, segundo a S&P.
"As moedas asiáticas estão ganhando força diante do possível rebaixamento da classificação da dívida soberana norte-americana", afirma Jerry Yoshikoshi, analista do banco Sumitomo Mitsui. "Mas uma volta da aversão ao risco ainda não pode ser descartada."


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