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Dívidas ameaçam "Gazeta Mercantil"
Jornal de economia pode deixar de circular na próxima semana, após devolução da marca para antigos controladores
Dono da marca pede que
funcionários não se iludam
porque jornal "acabou";
passivo trabalhista supera
R$ 200 mi e salários atrasam
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO
O jornal "Gazeta Mercantil",
fundado em 1920, poderá deixar de circular a partir da próxima semana. A CBM (Companhia Brasileira de Multimídia),
dona da editora JB e licenciadora da marca "Gazeta Mercantil", informou ontem, em
comunicado publicado na primeira página da "Gazeta", que
deixará de publicar o jornal a
partir de 1º de junho.
A CBM diz estar exercendo o
direito de rescindir o contrato
de licenciamento de marca feito em 2003, devolvendo-a seus
donos. O antigo controlador,
Luiz Fernando Levy, não pretende reassumir o jornal. Hoje,
há 51 jornalistas na "Gazeta".
Segundo a Folha apurou,
Levy disse ontem numa ligação
viva-voz aos jornalistas da "Gazeta", que o procuraram para
saber o que seria feito da publicação, que "não se iludissem,
pois [o jornal] acabou".
A direção da Gazeta e a da
CBM passaram a tarde reunidas. À noite, ocorreu uma reunião do Sindicato dos Jornalistas com a Redação, que pretendia finalizar ao menos parte do
jornal para que ele não deixasse de circular.
Numa reportagem publicada
na parte interna da "Gazeta",
foi informado que, caso Levy
não "queira assumir suas responsabilidades", o usufruto da
marca poderia ser concedido a
uma entidade sem fins lucrativos organizada pelos funcionários para edição e comercialização do jornal. Não há, entretanto, segundo a Folha apurou,
nenhum tipo de organização
ou interesse da Redação e dos
funcionários nesse sentido.
Conhecida por arrendar apenas os títulos e deixar a propriedade e os passivos dos veículos para os donos originais, a
CBM também é dona do "Jornal do Brasil" e da editora Peixes, que publica revistas como
"Gula" e "Viver Bem".
Mesmo com a operação, a
Justiça Trabalhista vem, há
anos, reconhecendo a sucessão
das dívidas da "Gazeta" para a
CBM, que pertence ao empresário Nelson Tanure. A "Gazeta" passou a ter dificuldades no
fim da década, e o título foi
vendido à CBM.
Vêm dessa época as dívidas
trabalhistas cobradas agora,
que superam R$ 200 milhões.
Como toda a receita do jornal
com publicidade começou a ser
bloqueada para pagamento do
passivo, a empresa passou a enfrentar grandes dificuldades.
Hoje haverá uma reunião entre
o Sindicato dos Jornalistas, a
CBM e a "Gazeta".
O comunicado publicado ontem atribui a decisão de rompimento de contrato ao fato de os
antigos proprietários da "Gazeta" não pagarem as dívidas trabalhistas acumuladas após sucessivas derrotas judiciais. Segundo Djair de Souza Rosa, diretor jurídico da CBM, a empresa realizou nos últimos cinco anos adiantamentos à Gazeta Mercantil S.A. superiores a
R$ 90 milhões.
"O desinteresse em continuar o contrato de licenciamento e uso da marca "Gazeta
Mercantil" é a imputação de dívidas que absolutamente não
são da Editora JB, e sim da Gazeta Mercantil S.A., de propriedade do sr. Luiz Fernando
Levy", disse Rosa. Ele afirmou
que a rescisão do contrato não
implica multa à Editora JB.
Em um comunicado interno
da CBM ao qual a Folha teve
acesso, a companhia faz críticas diretas a Levy: "Não é sem
constrangimento que se vem
constatando que os dirigentes
da Sociedade Anônima da
GZM agem de forma contrária
aos dispositivos do contrato de
licenciamento. Sobretudo na
tentativa de atribuir à nossa
empresa, de forma infundada,
inconsequente e irresponsável,
condição de sucessora das obrigações trabalhistas da GZM
S.A. e da Gazeta Mercantil Participações Ltda., com a finalidade de salvaguardar interesses pessoais do controlador".
Já Levy, no telefonema à Redação da "Gazeta", qualificou
Tanure de "vigarista" e afirmou
que o rompimento foi uma tentativa de escapar de sua responsabilidade com as dívidas
do jornal.
A "Gazeta" tinha circulação
diária de aproximadamente 96
mil exemplares quando Tanure
passou a controlá-la, em dezembro de 2003. Na última auditoria do IVC (Instituto Verificador de Circulação), em julho de 2008, este número estava em 70.193. O jornal não é
mais filiado ao IVC.
Tanure também é dono de
negócios como estaleiros e empreendimentos imobiliários,
reunidos na holding Docas S.A.
No ano passado, comprou a Intelig -em abril, a TIM anunciou a incorporação da operadora. Segundo balanço, a Docas
apresentou prejuízo de R$ 7,4
milhões no primeiro trimestre
de 2009 e acumulava patrimônio líquido negativo de R$ 41,7
milhões, ante um saldo negativo de R$ 34 milhões no fim do
ano passado. Ou seja, somados
todos os bens, a empresa não
conseguiria pagar suas dívidas.
Procurado pela reportagem,
Levy não concedeu entrevista.
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