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ENERGIA
Luiz Salomão viajou à custa da agência e usava serviço de secretárias
Vetado para a ANP já tinha assessoria
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Vetado pelo Senado para o cargo de diretor da ANP (Agência
Nacional do Petróleo), o ex-deputado Luiz Alfredo Salomão usou a
infra-estrutura do órgão, no centro do Rio, antes mesmo de ter seu
nome apreciado pelos senadores.
Trabalhou em um gabinete no
andar da diretoria, nomeou dois
assessores, usava o serviço de secretárias e fez duas viagens custeadas pela agência.
Indicado pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, com o apoio
da ministra de Minas e Energia,
Dilma Rousseff, Salomão teve seu
nome rejeitado anteontem pelo
plenário do Senado por 40 votos a
23. A indicação havia sido aprovada por unanimidade pela Comissão de Infra-Estrutura do Senado,
que o sabatinou.
Para justificar a atividade de Salomão antes da posse oficial, dada
como certa, a ANP o nomeou "colaborador eventual". Com isso,
ele não tinha salário, mas podia
usar a estrutura da agência e gerar
despesas, sem que isso pudesse
ser contestado mais tarde.
As duas viagens pagas pela ANP
foram para Brasília -uma para
discutir os preços do GLP (gás de
cozinha) com a ministra Dilma
Rousseff e outra para ser sabatinado pela comissão.
A agência nega que Salomão tivesse outros benefícios, como
carro com motorista e telefone celular. De acordo com a ANP, os
dois assessores indicados por Salomão -o ex-deputado Edézio
Frias e o empresário Waldemar
Fizman- já tiveram seus nomes
publicados no "Diário Oficial" e
continuarão, por enquanto, como
funcionários da agência.
Diferentemente de Salomão, os
dois recebem salário. A ANP não
quis revelar o valor, mas a Folha
apurou que um assessor de diretoria da ANP ganha cerca de R$
6.000. Salomão disse ter sido comunicado ontem que Waldemar
Fizman pediria demissão.
Salomão disse que foi algumas
vezes à agência convidado pelo
diretor-geral, Sebastião do Rêgo
Barros, para recolher material e se
inteirar da rotina de trabalho.
Nessas ocasiões, afirmou, usava
a sala do ex-diretor da ANP Júlio
Colombi Neto, que deixou o cargo em janeiro.
O ex-deputado diz ter sido barrado por ser "nacionalista", mas o
fato é que o veto causou surpresa.
A aprovação era dada como certa
pela cúpula do PT e pela própria
diretoria da ANP. A certeza era
tanta que em maio foram distribuídos convites para sua posse,
inicialmente marcada para 2 de
junho, no Clube de Engenharia
(centro do Rio). Como houve
atraso na votação no Senado, a
data seria redefinida.
Questionado sobre um possível
constrangimento por ter usado as
instalações oficiais antes de ser
confirmado como diretor, o ex-deputado afirmou: "Trabalhei de
graça para o governo. Passei um
fim de semana inteiro estudando
a reforma administrativa da ANP
e cheguei a redigir um texto sobre
o assunto".
Sobre as viagens, questionou:
"Você queria que eu pagasse do
meu bolso a passagem para ser sabatinado?".
Quando informado que a ANP
confirmara que ele havia sido nomeado "colaborador eventual",
Salomão reagiu com irritação: "A
ANP é um antro de fofoca. Há um
monte de viúvas de FHC lá". Todos os quatro diretores foram indicados pelo governo anterior.
Segundo a ANP, Salomão não ia
todos os dias à agência. Ele passou
a frequentar "eventualmente" a
sede da ANP para tomar pé da
função que iria exercer, depois
que seu nome foi aprovado pela
comissão. O próprio Salomão diz
que foi, no máximo, oito vezes à
sede da ANP.
No Congresso, existem várias
versões sobre o veto a Salomão. A
mais forte dá conta de que o
PMDB articulou com o PFL e o
PSDB a rejeição à indicação. A
operação teria sido idealizada por
José Sarney (PMDB-AP), presidente do Congresso.
Salomão atribuiu o veto a uma
traição do PMDB, embora garanta ter sido bem recebido por Sarney após a sabatina: "Na revisão
constitucional de 1993, o Humberto Lucena (PMDB-PB, então
presidente do Senado) quis fazer
uma sessão sem quórum e eu o
impedi. Além disso, me acusam
de ter perseguido o PMDB durante a CPI do Orçamento, quando
deputados foram cassados após a
minha ação investigativa".
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