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LUÍS NASSIF
Bacha e as "boas práticas"
Ao lado de Pérsio Arida,
Edmar Bacha foi dos
principais formuladores do
Plano Real. Recentemente ele
e Régis Bonelli escreveram o
artigo "Contabilizando o
Crescimento Econômico Brasileiro - 1940-2002". Nele, há
dois períodos bastante distintos: o de 1950 a 1980, que produziu crescimento; e o período de 1994 a 2004, que produziu estagnação.
Conclusão de Bacha, em entrevista a Robinson Borges,
do "Valor": o período de 1950
a 1980 (o de crescimento) representou um modelo de características piores do que a
atual, porque havia alta inflação, comando estatal e
substituição de importações
protegida.
"Características piores"?
Antes de se tornar potência
industrial, a Inglaterra protegia sua indústria, dava subsídios, proibia importações.
Depois de potência, passou a
pregar as regras do livre comércio e a exigir reciprocidade de parceiros mais fracos.
As duas políticas eram diametralmente opostas, se aplicavam a períodos distintos e
geraram crescimento. Como
comparar momentos históricos tão díspares?
Segundo Bacha, o "modelo
virtuoso" não resultou em
crescimento nos anos 90 por
conta do protecionismo dos
anos 50 a 70, que encareceu
os investimentos nos 90, e por
conta das crises da Rússia e
da Ásia. Fantástico! O crescimento de 50 a 70 é o responsável pela estagnação dos
anos 90.
A resposta a ser seguida no
período anterior teria sido a
dos países asiáticos, aumentando as exportações. Essa
resposta foi abortada pelo
pessimismo com a exportação
e pelo forte lobby do oligopólio dos cafeicultores e dos industriais nos anos 1950, dizem eles.
Bacha poderia avançar um
pouco mais e contar que a
fórmula proposta por Roberto
Campos para enfrentar o choque externo e seguir o modelo
asiático era uma forte desvalorização cambial -abortada por Augusto Frederico
Schmidt. Aliás, é a mesma
proposta defendida hoje por
economistas como Yoshiaki
Nakano, a qual Bacha, entre
outros, classifica como contrária às boas práticas.
O esforço exportador dos
anos 70 foi abortado não por
resistência de industriais,
mas pela apreciação cambial
do cruzado -de sua co-responsabilidade-, assim como
o esforço modernizante do
início dos anos 90, com a integração gradativa da economia brasileira à internacional, foi atropelado pela decisão de apreciar o câmbio.
Quando sobreveio o Real, a
vulnerabilidade externa finalmente deixara de existir.
O problema era outro: excesso
de divisas, devido à abertura
financeira. Poderia-se inibir
a entrada de capital especulativo mantendo os superávits
comerciais. Bacha e seus pares optaram por recriar déficits comerciais permanentes,
por meio da valorização do
câmbio e da abertura indiscriminada das importações.
Foi um dos mais graves erros
de política econômica do século.
No governo JK, circunstâncias políticas impediram que
a proposta de Campos corrigisse a vulnerabilidade externa. No governo Fernando
Henrique Cardoso, o sucesso
inicial do Plano Real criou as
circunstâncias políticas favoráveis. O desastre foi responsabilidade pessoal e intransferível do diagnóstico e da
análise produzidos pelo grupo de economistas do qual
Bacha participava.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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