São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

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Comércio impõe limite a uso de cartões

Disputa em torno de taxas cobradas nas vendas leva varejo a recusar pagamentos de menor valor e optar por cheques

Empresas de cartões de débito, crédito e refeição afirmam que porcentagem cobrada é para custear as despesas e cobrir calotes

Fernando Donasci/Folha Imagem
Equipamento para pagamento de despesas por meio de cartão em loja do centro de São Paulo


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O varejo e o setor de cartões voltaram a ficar em pé de guerra. A divergência gerada pelas taxas cobradas do comércio para receber pagamentos dos clientes com cartões de débito, crédito e vale-refeição provocam boicotes e renegociações entre as partes. Já há casos de comerciantes que se recusam a receber dos consumidores valores considerados baixos em "dinheiro de plástico".
A rede Fran's Café tenta acertar a redução das taxas administrativas que as empresas de vale-refeição cobram dos franqueados da cadeia de cafés. Cada vez que um cliente usa o cartão-refeição, a loja precisa pagar uma espécie de tarifa à operadora do sistema (como os grupos VR, Visa Vale e Accor, entre outros).
As panificadoras de São Paulo tentaram iniciar conversas com bancos que administram os cartões de débito, assim como com instituições financeiras e operadoras de cartões de crédito. Não deu certo, e pequenas lojas já boicotam os cartões.
Esses movimentos "pipocam" pela cidade e ganharam corpo depois que negociações iniciadas no ano passado não evoluíram. No caso do vale-refeição, por exemplo, o Sindipan (Sindicato da Indústria da Panificação e Confeitaria de São Paulo) tentou negociar com empresas de vale-refeição de forma coletiva em 2005.
"Até então, tratávamos individualmente, mas buscamos uma conversa mais ampla, mas não teve jeito", afirma Antero José Pereira, do sindicato.
Há franqueados do Fran's Café que já limitam a, no mínimo, R$ 10 a compra com cartão de crédito. Abaixo disso, a rede prefere até receber em cheque -e correr o risco de calote.
"Tenho de pagar 4% em cima de todo cafezinho que vendo. Cada café custa R$ 1,90, e recebo menos do que isso e só daqui a semanas. É impraticável", diz Andrea Cristina, filha do dono da unidade localizada dentro da livraria Fnac, em São Paulo.
A loja avisa os consumidores, por meio de um comunicado, sobre a limitação no pagamento. A mesma situação se repete em padarias. Em uma delas, na Consolação (centro de SP), a gerência avisa que cartão só em compras com valores maiores.

Taxa por operação
Na prática, o sistema funciona da seguinte forma: o cliente usa o cartão de débito, crédito ou refeição, e a loja paga uma taxa por isso. Parte desse pagamento vai para o banco e outra parte para a operadora do cartão (no caso do cartão de crédito). No vale-refeição, as empresas privadas ficam com o valor.
Lojas menores tendem a pagar taxas maiores. Nesse caso, ao definir a taxa, pesa na balança o poder de barganha do comércio. Por exemplo: os hipermercados pagam de 0,5% a 2% por operação com cartão de crédito -a taxa varia de ponto para ponto, apurou a Folha.
Como há poucas redes no Brasil, elas conseguem fazer boicotes eficientes se a taxa lhes desagrada. Nas padarias de pequeno porte (há 100 mil delas no país) a taxa chega a 5%.

Outro lado
Do outro lado do balcão, bancos, operadoras de cartão e empresas de vale-refeição explicam que esse pagamento dos comerciantes é feito para ajudar a sustentar o sistema, investir em tecnologia e pagar mão-de-obra, entre outros. Além disso, paga-se pelo direito de evitar o calote do cliente.
No caso dos vales, estima-se que Accor, SodexhoPass e VR dominem 88% do mercado.
No dos cartões de débito, Visa e Mastercard são as principais bandeiras, que têm parcerias com grandes bancos, como o Itaú e o Bradesco.
Há 61 milhões de cartões de crédito no país e 158 milhões de débito, segundo dados de 2005 da Abecs (associação do setor).
Ao serem somadas as taxas pelo uso de cartões de débito, crédito e vale-refeição, cerca de 15% da receita mensal da loja fica com os bancos ou com as operadoras de cartão, estima o sindicato das panificadoras.


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