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BENJAMIN STEINBRUCH
Derrubar as cancelas
Há clara insuficiência de oferta ferroviária no país, principalmente para o transporte de commodities
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O NÚMERO de caminhões nas
estradas brasileiras é o sintoma de um problema: o Brasil
tem deficiência crônica de transporte ferroviário. Não há em outro país
continental volume tão grande de
caminhões nas estradas. O transporte rodoviário só é eficiente para
distâncias curtas e cargas leves.
O Brasil precisa ser cortado por
novas ferrovias para ganhar eficiência em transporte de cargas e incorporar à produção áreas esquecidas.
Isso exige grandes investimentos.
Embora a situação atual esteja
muito distante da ideal, o país evoluiu bastante nessa área. Dez anos
atrás, antes da privatização do setor,
as ferrovias transportavam só 17%
das cargas do país. Essa parcela já
atinge 25% hoje. O novo Plano Nacional de Logística e Transporte, divulgado na semana passada, prevê
índice de 32% em 2023. Ou seja, daqui a 15 anos, ainda estaremos em
nível bem inferior ao padrão internacional, de 42%.
Houve avanço nos investimentos
nos dez anos de privatização. No último ano nas mãos do Estado, 1995,
o setor investiu míseros R$ 10 milhões. Nos dez anos sob a iniciativa
privada, o investimento anual médio foi de R$ 1,2 bilhão. Com isso, a
carga transportada cresceu 56% no
período, de 250 milhões de toneladas para 390 milhões.
A privatização, portanto, foi boa
para o país. Além de melhorar a eficiência do setor, a venda das ferrovias estatais livrou o governo de
enormes prejuízos. Nos três anos
antes da privatização (1994 a 1996),
a Rede Ferroviária Federal perdeu
R$ 2,2 bilhões. O governo já arrecadou R$ 5,6 bilhões após a privatização, em pagamentos das concessões,
impostos e arrendamento de bens
da antiga rede.
A malha ferroviária brasileira tem
hoje 30.000 km, sendo 28.000 km
operados pelo setor privado. É pouco. Em 1940, o país contava com
35.000 km. Todo o crescimento de
carga das últimas seis décadas, portanto, foi atendido pelas rodovias, o
que minou a produtividade e a competitividade da indústria. O transporte ferroviário custa em média
40% menos que o rodoviário.
Há clara insuficiência de oferta
ferroviária no país, principalmente
para o transporte de commodities.
Só no caso da soja, o excesso de demanda atingiu 17 milhões de toneladas em 2005, volume que acabou
sendo transportado por rodovia,
com evidente elevação de custos.
O atendimento da produção agrícola em novas fronteiras vai depender de investimentos públicos e privados. Tenho o grande desafio de
viabilizar o projeto da Ferrovia
Transnordestina, que ligará a nova
região agrícola do Sul do Maranhão,
Piauí, Pernambuco e Bahia aos portos de Suape (PE) e Pecém (CE). Em
parceria com a Companhia Ferroviária do Nordeste e com o governo
federal, serão investidos R$ 4,5 bilhões em 2.000 km de trilhos.
Mas o setor ferroviário não precisa apenas de novos trilhos. É importante elevar a velocidade dos trens,
em busca de eficiência. Há 12 mil
passagens de nível na malha ferroviária do país. Em alguns trechos urbanos, as composições trafegam a 5
km/h e com a ajuda de cancelas.
Obras de contornos das cidades,
compromisso assumido pelo governo na privatização, jamais foram
realizadas.
O transporte ferroviário precisa
de mecanismos indutores de investimentos. A forma de incidência de
ICMS, por exemplo, prejudica e pune o transporte intermodal. Além
disso, os recursos oriundos de contribuições do setor (arrendamento e
Cide) não revertem para ferrovias e
as importações de equipamentos
são oneradas, o que não se justifica.
Há muitas cancelas a derrubar.
BENJAMIN STEINBRUCH , 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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