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Argentina atingirá 100 mi de toneladas de grãos em 2008
Previsão era que em 2010 produção ainda estivesse em 90 milhões de toneladas
Como no Brasil, avanço dos grãos provoca rearranjo no campo e valorização das terras; preço de um hectare chega a atingir US$ 10 mil
MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL A CÓRDOBA
Os analistas mais otimistas
previam, no ano passado, que a
Argentina colheria 90 milhões
de toneladas de grãos em 2010.
Erraram feio. O país já atinge
94 milhões de toneladas neste
ano e pode bater os 100 milhões
já em 2008. O crescimento foi
rápido, já que na safra 2004/5 a
produção total do país era de 76
milhões de toneladas.
A conta é simples. O boom
energético acelera a produção
de milho e a previsão é que o
país tenha mais 700 mil hectares de plantações destinados ao
grão no próximo ano. A alta
produtividade do milho no país
elevaria a safra total para um
patamar próximo de 100 milhões de toneladas.
Como ocorre no Brasil, esse
avanço dos grãos causa rearranjo nos campos argentinos. O
valor das terras disparou e chega a US$ 10 mil por hectare, enquanto o arrendamento está
em US$ 320 por hectare por 12
meses. Assim, só fica no campo
quem for muito eficiente.
Com isso, a pecuária está
sendo empurrada cada vez
mais para o Norte do país, região menos apropriada para a
atividade. Esse cenário faz com
que algumas previsões indiquem que o tradicional poder
de fogo do vizinho nos setores
de carne e de leite deva entrar
em declínio rapidamente.
O avanço argentino no setor
de grãos tem várias origens, segundo Mário Bragachini, do Inta (Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária), a Embrapa argentina. Um dos pontos principais, destaca o engenheiro agrônomo, é o uso de
tecnologia, que torna a produção mais eficiente e com custos
menores.
Outro ponto é a inserção na
globalização, que, se socialmente não é boa, economicamente é. Essa globalização provoca a necessidade de utilização das tecnologias mais avançadas do mundo para que o
produtor se mantenha em ambiente competitivo, diz Bragachini. O produtor é obrigado a
utilizar agricultura de precisão,
com o uso de monitor de rendimento (controle de produção
por área) e biotecnologia.
Terceirização ajuda
A terceirização na agricultura é outro ponto favorável para
a obtenção de lucros. Pelo menos 50% da produção de grãos
na Argentina está nas mãos de
gente que não é do campo,
criando a necessidade de terceirização em todas as atividades. Eles chamam os prestadores de serviço de "contratistas".
Ao contrário do que ocorre
no Brasil, a participação do produtor argentino é restrita no
campo: a terceirização está presente em 70% da colheita, 60%
da pulverização das lavouras e
40% do plantio.
"Essa é a raiz da eficiência,
porque o custo de produção é
muito baixo, chegando a 8% do
valor do produto, já incluída a
entrega [na unidade receptora]", afirma Bragachini. A terceirização traz outra vantagem
ao produtor, já que o uso contínuo das máquinas obriga o
"contratista" a trocá-las constantemente e a absorver as tecnologias mais recentes.
Outro fator de renda para os
agricultores argentinos são os
baixos custos, devido às terras
férteis, ao plantio direto, a combustíveis com preços controlados no momento e ao uso de sementes transgênicas. Tem ainda, é claro, o câmbio bastante
favorável em relação ao Brasil.
Nos cálculos do Inta, o custo
de produção de soja dos argentinos é de 2.600 quilos por hectare na região denominada
"Pampa Úmida", com terras
mais férteis; 6.000 para a produção de milho e 2.000 quilos
para a de trigo. A produtividade
média do país nesta safra
2006/7, incluindo as áreas menos férteis, está sendo de 3.000
quilos por hectare para a soja;
8.000 quilos para o milho e
2.600 quilos para o trigo.
Primeiras vítimas
Mas a globalização da produção, o avanço da tecnologia e o
encarecimento das terras já fizeram suas vítimas. Nos últimos 15 anos, desapareceram
100 mil produtores na Argentina. Os principais problemas
ocorreram no setor de leite, cujos produtores perderam competitividade, diz Bragachini.
E a vida do produtor na Argentina também não é fácil. Enquanto no Brasil há financiamento para o produtor, no país vizinho o crédito é dado para o
prestador de serviços (o "contratista") comprar máquinas e
equipamentos. Lá, como aqui,
os impostos são pesados, com o
agravante de que o governo argentino estipula uma cota de
retenção de produtos que chega a 27%. Há uma grande diferença também nos juros, que
são de 14% ao ano para os produtores argentinos.
Os jornalistas MAURO ZAFALON e
LUIS CARLOS MURAUSKAS viajaram
a convite da New Holland
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