São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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BC prevê inflação acima do centro da meta

Banco eleva estimativa do IPCA deste ano para 6%, e o de 2009, para 4,7%, e indica que manterá alta dos juros por mais tempo

Autoridade monetária admite em relatório risco de 25% de que inflação ultrapasse o teto da meta deste ano, de 6,5%

JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central elevou a projeção de inflação para este ano de 4,6% para 6%. A expectativa para 2009, de 4,7%, também ficou acima do centro da meta -que é de 4,5% nos dois anos. As novas perspectivas foram divulgadas ontem no Relatório de Inflação.
Segundo os analistas ouvidos pela Folha, o documento, divulgado trimestralmente, não traz surpresas, porque essas já eram as previsões do mercado financeiro. Mas indica que o BC vai manter a trajetória de alta dos juros pelo menos até o fim do ano.
Mesmo depois de elevar a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual desde abril, para 12,25%, o BC admitiu que existe a probabilidade de 25% de a inflação medida pelo IPCA ultrapassar o teto da meta deste ano. No relatório de março, a probabilidade era de apenas 4%.
Embora a meta seja de 4,5%, existe um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais. Caso o reajuste de preços ultrapasse 6,5%, o presidente do BC, Henrique Meirelles, será obrigado a justificar em carta aberta as razões para o descumprimento de uma meta.
Durante a divulgação do Relatório de Inflação, o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, sinalizou diversas vezes que o ciclo de aumento da taxa básica de juros será longo. Citou, por exemplo, que a instituição vai atuar "em um período razoável de tempo".
"O importante, especialmente neste momento ante pressões inflacionárias que se acumulam, é que a sociedade tenha claro que o BC fará o necessário, enquanto for necessário, para manter a inflação alinhada à trajetória das metas definidas pelo CMN [Conselho Monetário Nacional]."
Mesquita não indicou, porém, se o BC deve acelerar o ritmo de alta da Selic para 0,75 ponto a cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Nas últimas duas reuniões, a taxa subiu 0,5 ponto.
Joel Bogdanski, economista do Itaú, acredita que o Copom vá continuar elevando o juro em doses de 0,5 ponto. Ele lembra que o aumento do superávit primário do governo será uma contribuição do governo ao trabalho do BC. E aposta que o aperto fiscal será superior a 4,3%, como divulgado.
"O governo entendeu a seriedade da situação e resolveu atacar com mais armas, não só os juros. Mas, de fato, o BC vai precisar de altas adicionais de juros. Acho que nem o BC sabe agora qual será o momento de parar de subir a Selic."
José Luciano da Costa, analista do Unibanco Asset Management, acredita que a Selic possa chegar a 14,5% neste ano. Ele avalia que, se a inflação se aproximar mais do teto da meta, o BC pode subir os juros para até 15%, o que significa aumento até o início de 2009.
O Relatório de Inflação, assim como a ata da última reunião, mostra a preocupação do BC sobre o aumento da demanda, que gera a chamada "pressão inflacionária interna".
Mesquita, diretor do BC, admitiu que a inflação brasileira sofre com as pressões externas, de reajuste dos preços dos alimentos, das outras commodities e de energia. Mas lembrou que a demanda doméstica cresceu 8,5% no primeiro trimestre deste ano, contra crescimento do PIB de 5,8%. A projeção para o crescimento da economia foi mantida em 4,8%, a mesma previsão do relatório do primeiro trimestre.
"A utilização da capacidade instalada continua em níveis elevados e não mostra nenhum retorno. Continua operando com pouca ociosidade." Ele rebateu as críticas dos empresários sobre a alta dos juros. Disse que a melhor contribuição para os investimentos é o compromisso de manter a inflação sob controle.


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