São Paulo, sexta, 26 de junho de 1998

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Nova política depende do avanço das exportações

GUSTAVO PATÚ
da Sucursal de Brasília

O Banco Central administra a taxa de câmbio hoje com duas finalidades básicas: elevar as exportações e manter a inflação baixa.
Para elevar as exportações é preciso que os produtos brasileiros sejam mais baratos em dólar, o que pode ser conseguido com a desvalorização do real em relação à moeda norte-americana.
Mas, para controlar a inflação, é preciso que os produtos importados sejam baratos em moeda nacional, e isso pede uma valorização do real em relação ao dólar.
Diante disso, o BC vem desvalorizando o real para estimular as exportações -mas lentamente, para não trazer a inflação de volta.
Nas últimas semanas, um novo diagnóstico vem ganhando força no governo: as exportações podem continuar crescendo da forma desejada sem necessidade de tanta ajuda da política cambial.
Se for verdade, o Banco Central pode passar a desvalorizar o real ainda mais lentamente, o que traria benefícios às pessoas e às empresas. Permite, por exemplo, uma queda maior dos juros. A desvalorização cambial está longe de ser um remédio indolor.
Mas reduzir a desvalorização cambial também não é uma alternativa isenta de riscos. O primeiro e mais óbvio é que o país pode demorar mais para equilibrar sua balança comercial e reduzir sua dependência de capital externo.
A credibilidade da nova política também seria uma incógnita. Afinal, a maioria dos investidores e especialistas acredita que o país precisa mudar sua taxa de câmbio.
Se o mercado entender que o governo está adiando um ajuste fundamental -em razão, talvez, das conveniências políticas- e assumindo um risco excessivo, sairá capital externo do país.
Esse seria o pior dos cenários: não se pode perder as reservas em dólar necessárias para as importações e os pagamentos da dívida externa. Isso significaria a volta da inflação (a cotação do dólar subiria rapidamente), acompanhada de profunda recessão (retração dos investimentos).



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