São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 2006

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Governo prepara medidas cambiais adicionais

Para secretário de Política Econômica, mudanças não serão suficientes para conter valorização do real

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As mudanças na legislação cambial preparadas pelo governo não serão suficientes para reverter a tendência de valorização do real ante o dólar. Por isso, novas alterações já estão sendo avaliadas, segundo admitiu o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida.
Ele afirma que o tema continuará na pauta e uma das preocupações, após o anúncio previsto para hoje, será "avançar na modernização" da lei brasileira. Isso incluirá redução da burocracia e melhoria nas formas de controle e registro das operações.
Essas mudanças, avalia Almeida, precisam ser acompanhadas pela continuidade da redução da taxa de juros e das compras de moeda estrangeira por parte do Tesouro Nacional.
Para o Ministério da Fazenda, apesar de o câmbio ser flutuante, no caso brasileiro, os ajustes são necessários porque há uma série de fatores que estão forçando uma valorização excessiva.
"O câmbio flutuante no Brasil não opera como na teoria. Dizem para ter calma porque vamos encontrar um câmbio de equilíbrio. Mas isso pode demorar tanto que estaremos todos mortos", diz Almeida.
Para ele, pelo menos três fatores devem ser levados em conta ao tratar da questão cambial brasileira. O primeiro deles é que, após os ajustes recentes da economia, o país ainda não encontrou o nível de risco adequado para as condições atuais.
"A tendência é de queda, mas ainda não nos estabilizamos como outras economias, como a mexicana. Vai ser algo menor do que está aí", disse, referindo-se ao indicador que mede a confiança dos investidores estrangeiros no país.
Depois de bater 2.400 pontos em 2002, atualmente o risco-país está variando de 200 a 300 pontos. A melhora desse indicador faz com que o Brasil atraia mais capital externo, fazendo o real se valorizar ante o dólar.
O segundo ponto que influencia diretamente a taxa de câmbio é a elevada taxa de juros brasileira. Apesar de os técnicos da área econômica constantemente destacarem que os juros altos não estão atraindo capital especulativo de curto prazo, esse cenário possibilita, por exemplo, que os exportadores antecipem suas receitas com as vendas lá fora e apliquem os reais aqui no país.
Para o secretário, a atual taxa de juros brasileira não reflete uma taxa de equilíbrio, como ocorre em outros países, pois é usada pelo Banco Central com um único objetivo: combater a inflação. "Está sendo usada para combater a inflação. Essa é a única preocupação."
O terceiro fator citado pelo secretário que vem provocando a valorização do real é o aumento do preço internacional de produtos que o Brasil exporta.
É o caso, por exemplo, do petróleo, do minério de ferro e do açúcar, itens de destaque na balança comercial brasileira.
Os ganhos maiores lá fora se traduzem no ingresso de moeda estrangeira e fazem a taxa de câmbio cair. É por isso que a medida prevista para hoje permitirá que parte do dinheiro obtido com a exportação fique depositada no exterior.
Será definido um percentual que os exportadores poderão manter nas contas lá fora. O ministro Guido Mantega (Fazenda) é simpático à proposta de fixar um limite entre 30% a 40%. O CMN (Conselho Monetário Nacional), cuja reunião mensal foi antecipada para hoje, será responsável pela definição do percentual.
Mantega disse ontem que o governo não fará apenas uma medida para resolver a questão cambial. "É um conjunto de medidas que deverá ter impacto na taxa de câmbio", afirmou.


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