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OPINIÃO ECONÔMICA
Os presidenciáveis e a reforma agrária
RUBENS TELLECHEA CLAUSELL
O primeiro debate dos presidenciáveis evidenciou descaso em relação a muitos problemas nacionais, em especial ao da
agricultura. Nenhum deles mencionou o indispensável reestudo
da reforma agrária, bem-intencionada em sua proposta básica,
mas, salvo exceções regionais,
pessimamente conduzida em seus
aspectos técnicos, de assistência e
de produtividade. Sem dúvida,
muitos dos técnicos que operam
em seu programa não têm o afastamento de perspectiva que permita o exame em conjunto nem
percebem o erro do qual participam. Trabalham por entusiasmo
profissional, sem notarem seu
sentido apenas político e de baixo
rendimento.
O Brasil, sem comprometer a
Amazônia, a mata atlântica, as
águas de superfície e as regiões
montanhosas, além de outros limitantes, pode destinar 90 milhões de hectares de terras ainda
disponíveis e adequadas à reforma agrária. Esses novos assentados, com orientação técnica permanente, teriam capacidade não
só de alimentar mas de dar condições dignas de vida a 30 milhões
de brasileiros, que hoje estão na
miséria.
No módulo mais econômico e
produtivo, poderíamos assentar
anualmente de 200 a 300 famílias, com as instalações necessárias à vida digna e produtiva, alimentando-as e gerando excedentes agropecuários para o suprimento das populações urbanas.
A atual reforma agrária, que se
vem realizando, em grande parte,
apenas com simples entregas de
"pedaços de terra", fraciona e
perturba áreas produtivas sem tomar dimensões econômicas. Deixa de formar estrutura auto-suportável, social, técnica, sanitária
e educacional. Parece não ter contado com planejamento técnico.
As unidades da nova reforma
agrária estabelecem em conjunto
a exigida "reserva ecológica".
Constituídas em "agrovilas", permitem que as residências recebam coletivamente suprimento
de energia elétrica, instalações sanitárias, suprimento de água potável, assistência à saúde e instrução primária computadorizada,
além de local para reuniões sociais e religiosas. Para a produção
animal, seriam construídos abrigos, bem como galpões para máquinas agrícolas e garagem para
os veículos e para a armazenagem da produção, locais para
reuniões, administração, assistência técnica, comunicação e segurança coletiva.
Conjuntos de "agrovilas" da região poderão constituir parcerias
ou cooperativas para industrializarem produtos das diversas unidades, recebendo a produção de
grãos, leite, carnes, frutas, fibras
-para seleção, embalagem ou
produção de conservas, agregando valor aos alimentos, a serem
vendidos às populações urbanas.
Constituiriam unidades produtivas na exploração cooperativa
das terras e na produção vegetal e
animal. Por falta de informações,
os candidatos a cargos eletivos
não abordam a possibilidade de
produzir os combustíveis -álcool
e "agrodiesel"- para nossos automóveis e caminhões, propiciando ao Brasil deixar de importar
petróleo e de despender em moeda estrangeira.
Poucos têm abordado o saneamento de nossas cidades e o aproveitamento energético do lixo,
evitando a contaminação das
águas de superfície e grande reserva no lençol freático.
Não se mencionou a falta de recursos para as Forças Armadas,
que ocasionou uma redução no
alistamento anual, hoje ainda insuficiente ao atendimento de nosso grande território. Tem-se mencionado a possibilidade de treinamento específico de corpos diferenciados do Exército, da Marinha e da Aviação, aplicando o
tempo restante da formação militar em empreendimentos necessários e ainda na formação de
mão-de-obra especializada. Resultariam profissionais disciplinados, de grande relevância em
nosso progresso, que cooperariam
com a reforma agrária e com a
formação de nossa estrutura social e tecnológica. Teriam destaque na modernização e na extensão de nossas ferrovias, hidrovias,
rodovias e na distribuição de nosso sistema energético. Poderiam
operar na reestruturação dos minifúndios improdutivos, na irrigação do Nordeste e na orientação de habitações populares, com
coletores e armazenamento de
água. Mas também no treinamento de operadores para o equipamento mecânico, na aviação
agrícola e sanitária e no reflorestamento, indispensável à preservação do ambiente nos campos e
nas cidades.
Não deveriam ter sido reduzidas as dotações de nossas unidades do Exército, da Marinha e da
Aeronáutica. Ao contrário, deveriam ter crescido, pois trariam
grande contribuição para a formação de quadros técnicos, operadores da moderna agricultura,
e levantamento e medição de
áreas devolutas. No passado, o
Corpo de Engenharia do Exército
desenvolveu ferrovias e rodovias e
levou a regiões distantes o exemplo de seu trabalho pacífico, sem
prejuízo de sua formação militar.
Ficaram para os próximos debates muitas matérias que nos
permitirão tomar com mais fundamento nossa decisão votante.
Rubens Tellechea Clausell é engenheiro agrônomo.
E-mail - clausell@hotmail.com
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