São Paulo, sexta-feira, 26 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TURISMO

Redução na venda de pacotes e dívida de R$ 30 mi causam falência da maior operadora do país; setor vive crise

Soletur quebra após queda nas viagens

Daniel Guimarães/Folha Imagem
Aviso fixado pela agência Soletur em loja no centro de São Paulo


LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Soletur, maior operadora de turismo do Brasil, quebrou. Sua diretoria anunciou ontem seu pedido de falência, que deixará 450 desempregados. A decisão de fechar as portas ocorreu porque a empresa acumulou ao longo dos últimos anos uma dívida de R$ 30 milhões, boa parte dolarizada.
A falência da empresa é a ponta do iceberg de uma grave crise que deve se abater nas agências e operadoras de turismos nos próximos meses. Desde meados de setembro as agências e operadoras de turismo registram uma queda de 50% nas vendas de pacotes para o exterior, devido à guerra contra o terrorismo e à alta do dólar. No turismo interno, a redução é da ordem de 47%, por causa do aumento nas passagens aéreas.
"Se a situação não melhorar, vamos assistir a mais quebradeiras. Eu mesmo posso fechar minha companhia", declarou à Folha o proprietário da agência Emeraldtur, Tércio Cunha Leite. O empresário costumava vender aos seus clientes pacotes turísticos da Soletur e passou no início da tarde pela loja da operadora no centro de São Paulo. Ficou estarrecido com a notícia da falência. "Existia um forte boato de que eles pediriam concordata. A falência surpreendeu todo mundo", declarou.
As agências de turismo, que intermediam a venda dos pacotes turísticos, e as operadoras, que são responsáveis pela organização das viagens, movimentaram cerca de R$ 10 bilhões no ano passado. A expectativa para 2001 é pra lá de pessimista. O segundo semestre deve registrar uma retração de cerca de 45%.
Várias agências têm reduzido sua margem de lucro de 5% para 1% para tentar garantir seus negócios. Nem mesmo assim conseguiram estancar a sangria no faturamento. "Estou trabalhando com prejuízo", ressaltou Leite.
A quebra da Soletur, que detinha cerca de 30% do mercado de operadoras, teoricamente pode beneficiar seus concorrentes, que teriam condições de absorveriam a clientela alheia. Mas os empresários do setor praticamente descartam essa possibilidade.
A CVC, segunda maior operadora do Brasil, também com cerca de 30% das vendas de pacotes, não trabalha com a perspectiva de ampliar a venda de pacotes com a saída da Soletur do mercado. "Somos empresas muito diferentes. Desde 1999, com a desvalorização do real, a CVC se dedicou ao turismo interno. Já a Soletur continuou a se especializar nas viagens para o exterior", afirmou o diretor de vendas, Walter Patriani.
O executivo considerou que sua companhia poderia melhorar seus negócios se os turistas que viajam ao exterior preferirem agora viajar para o Brasil. "Mas não considero que isso irá acontecer necessariamente." Ao contrário de outras agências e operadoras, Patriani declarou que os negócios da CVC vão muito bem. "Devemos ter um aumento de 20% no faturamento em 2001."
O diretor administrativo da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), Ramón Dunoguier, declarou que os empresários do setor estão apavorados com a situação do turismo. Segundo ele, o setor já vinha sofrendo consequências nos negócios devido à crise argentina, guerra ao terrorismo, receio das pessoas com o Antraz e as notícias pessimistas publicadas na mídia. "Agora as pessoas vão ter terror de comprar pacotes de viagens, com medo de as operadoras e agências falirem", disse.
Segundo Dunoguier, não se sabe como o público vai reagir à falência da Soletur. Pode haver um receio generalizado de comprar pacotes e ficar sem as viagens. "Ninguém no nosso setor sabe o que vai acontecer na próxima esquina", declarou.
Um empresário do ramo chegou a afirmar que é mais garantido comprar agora um pacote por meio de uma pequena operadora, que trabalha com baixos custos, do que com uma gigante do ramo. Essa tem muito gastos de infra-estrutura com suas operações.
A proprietária da pequena agência Oceaner Turismo, Suely Sarracini, disse que vai passar os próximos dias bancando as perdas de seus clientes que compraram pacotes da Soletur. "Tenho seis famílias que iriam viajar para a Europa, Patagônia e Nordeste. Vou procurar outra operadora que trabalhe nessas rotas e bancar do meu bolso o que meus clientes já pagaram", afirmou. Os pacotes somavam cerca de R$ 60 mil.


Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Turista que ainda não viajou pode cancelar o contrato, diz o Procon
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.